Após quase desistir da música, Rachel Reis viu na composição a chance de voltar - e uniu público e crítica com o sucesso de seu canto de sereia: "não tem pra onde correr"
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 05/04/2024, às 13h47
O relógio batia às 21h30 de uma movimentada rua em São Paulo, quando uma turba jovem avolumava a calçada de uma casa noturna para uma noite de show. Do outro lado da rua, uma lanchonete menos movimentada na esquina operava ao som animado da trilha da novela na TV. Em comum nos dois lugares, uma mesma voz: Rachel Reis.
São menos de cinco anos desde que a cantora de Feira de Santana lançou seu primeiro single autoral. De lá para cá, uniu extremos distantes do oceano de uma indústria pautada por algoritmos. Por um lado, obteve o reconhecimento crítico, que lhe rendeu indicação ao Grammy Latino. Por outro, conquistou o sucesso popular, que a levou e leva diariamente às telas ainda onipresentes dos folhetins da TV - neste momento aparece em Renascer, com “Bateu”, parceria dela com Gilsons e Mulú. Mas Rachel é sereia, navega bem: “A gente troca o pneu com o carro andando”, garante.
De casa, Rachel traz a voz - o canto da mãe, que fazia sucesso no forró enquanto ela crescia. As lembranças, permeadas por músicos e instrumentos, foram o cenário onde a criança imaginativa logo entenderia a paixão por contar histórias:
“Eu gosto de cantar, eu curto minha voz, mas a composição me pega muito. Sinto que talvez seja o eixo, o que me liga ao cantar, ao me apresentar. Tenho um negócio especial com a composição.”
Talvez seja por isso que a primeira experiência nos palcos não tenha sido a melhor. Após um par de anos performando em bares, entre 2016 e 2018, Rachel acabou se decepcionando: “Comecei a cismar com música. Não queria tocar música dos outros. A noite é uma escola, mas não pode romantizar muito. Enjoei.”
Em 2018, ela tentaria outra vida, agora nos bancos de faculdade. Primeiro no Direito, depois na Publicidade e Propaganda, Rachel bem que tentou escapar das intempéries da música. Mas a maré é forte e a puxou de volta: em 2020, voltaria com sua própria faixa, o single “Ventilador”.
De caneta na mão, Rachel cantou do beijo. E do calor, do barco, do sossego... Lançou ainda seu primeiro EP, ENCOSTA, com a ótima produção de Zamba e Cuper. E também “Maresia”, que virou maremoto - hoje, o single soma mais de 23 milhões de streams, somente no Spotify. “Nesse período eu tava muito focada.”
No ritmo acelerado, começou a produção de Meu Esquema. Gravado entre Pernambuco e Bahia, com produção de Barro e Guilherme Assis, o disco estrearia em 2022, bem a tempo de relançar Rachel para os palcos - dessa vez com suas composições:
“Sinto que eu era uma tábua no palco. Quando comecei a cantar minhas músicas, eu não sabia não”, relembra. “Eu precisava me desenvolver no palco, e tiveram as pessoas que me esperaram até aqui, porque sabem que é um processo.”
Com o processo viria, em menos de um ano, a indicação ao Grammy Latino como Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa ao lado de nomes como Titãs e Planet Hemp. A indicação, ela recorda, a despertaria a emoção da qual esquecera ser possível em meio à ascensão acelerada:
“Chorei. Tenho chorado muito. Eu não entendia direito quando via as pessoas chorando de emoção e nos últimos tempos tenho entendido o que é isso.”
Na paralela, viria a atenção das TVs, que a colocariam em trilhas de novelas como Fuzuê e Renascer, além da série Cangaço Novo. No pop brasileiro, tão influenciado pelos folhetins, a chegada às telas foi uma conquista para lá de pessoal para ela: “Era uma criança obcecada por tramas e que queria faltar aula pra ver novela, então estar ali compondo a trilha da novela realiza também o desejo da criança, como uma menina que assistia, era fã de novela.”
Hoje Rachel já se enxerga em meio à maré boa de cantoras baianas que compõe. “A gente tem visto essa virada de chave, com a produção da Bahia e de pessoas pretas como Attooxxá, BaianaSystem, Luedji Luna, Xênia França, sendo muito destacada.” E sente a fama, mesmo fora do Brasil: “A galera deu pra me mandar mensagem agora dizendo: ‘venha para Portugal’, porque ‘Maresia’ tá tocando numa novela chamada Cacau. E eu tô prontinha!”
Sem estacionar em um sucesso, Rachel já prepara seu próximo álbum, previsto para 2025, mas agora em seu próprio ritmo, enquanto explora as possibilidades de Meu Esquema. Em meio ao tsunami dos últimos anos, ainda achou tempo para concluir, a pedido da mãe, o curso de Publicidade. Mas no horizonte, a música virou finalmente seu único norte possível: “não tem pra onde correr, minha profissão é essa”.
Veja a entrevista completa de Rachel Reis abaixo:
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