Banda creditada como pioneira do heavy metal viveu altos e baixos ao longo de sua trajetória, o que se reflete na discografia
Por Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 31/07/2023, às 16h00
Ainda que seja destacado como o principal pioneiro de um gênero musical revolucionário como o heavy metal, o Black Sabbath não tem uma discografia marcada pela constância. Como é natural entre vários artistas e bandas que estiveram na ativa por décadas e de forma produtiva, o grupo criado por Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) oscilou entre altos e baixos no que diz respeito a criatividade.
Cabe destacar, ainda, que vários discos foram feitos tendo apenas Iommi da formação original, junto de outros músicos contratados. O guitarrista é o único integrante a participar de todos os 19 álbuns de estúdio lançados pelo grupo ao longo de sua longeva carreira, que durou por quase cinco décadas inteiras. Para efeito de comparação, Osbourne esteve em apenas nove desses trabalhos, enquanto Ward tocou em dez e Butler, em 14.
Com tantas mudanças de formação, é até esperado que o Sabbath não tenha conseguido entregar sempre bons resultados. E é justamente um álbum gravado com uma formação considerada alternativa que acabou sendo avaliado como o pior de todos por Iommi.
Em entrevista de 2019 à Classic Rock, o guitarrista foi convidado a refletir sobre sua trajetória nos anos 1990. O Black Sabbath começou a década com Tony Martin (voz), Neil Murray (baixo), Cozy Powell (bateria) e Geoff Nicholls (teclados), mas os três primeiros foram dispensados para dar lugar a uma reunião com a formação do disco Mob Rules (1981). Retornaram Ronnie James Dio (voz), Geezer Butler (baixo) e Vinny Appice (bateria), que gravaram o álbum Dehumanizer (1992), mas logo Dio e Appice saíram. Martin retornou e trouxe consigo o baterista Bobby Rondinelli, gravando Cross Purposes (1994). Butler e Rondinelli deixaram seus postos, com Murray e Powell voltando.
Assim nasceu Forbidden (1995), trabalho detestado por Iommi em especial pela produção assinada por Ernie C. O guitarrista do Body Count também ficou a cargo da mixagem e trouxe seu colega de banda, o rapper Ice-T, para participar da música “The Illusion of Power”.
À Classic Rock, Iommi destaca:
“No final dos anos 1980, o Sabbath fez algumas músicas que considero boas, incluindo as que estão nos discos The Eternal Idol [1987] e Headless Cross [1989], mas Forbidden é uma m*rda mesmo.”
Na avaliação de Tony Iommi, Forbidden é um ponto baixo na discografia do Black Sabbath por ser resultado de pressões da gravadora, IRS. O guitarrista disse que a ideia de se trabalhar com Ice-T e Ernie C veio dos executivos.
“Fomos empurrados para um canto. Alguém na gravadora sugeriu que trabalhássemos com Ice-T. Minha reação foi: ‘Quem diabos é ele?’. Mas nos encontramos e ele era um cara legal e também um grande fã do Sabbath. Ernie C acabou produzindo Forbidden, o que foi um erro terrível.”
Para o músico, a influência hip hop de Ernie não deveria ter sido introduzida naquele momento.
“Ernie tentou fazer com que Cozy Powell tocasse essas partes de bateria no estilo hip hop, o que, com razão, o ofendeu. Você não diz a Cozy Powell como tocar bateria.”
Por fim, o guitarrista destacou que todo o período dos anos 1990 foi complicado para o grupo.
“Houve muitas mudanças na formação nos anos 1990 e ficou difícil levar o Sabbath adiante. Mas sou muito determinado – você não separa a banda só porque alguém sai. Encontre um substituto. Continue com isso. Eu ainda acreditava na banda.”
Quando a entrevista de Tony Iommi foi ao ar, Ernie C não deixou passar sem resposta. O guitarrista e produtor declarou em entrevista ao podcast de Danko Jones (via site Igor Miranda) que o veterano do Black Sabbath conhecia, sim, o trabalho de Ice-T.
“No primeiro álbum do Ice-T, ele usou samples de ‘War Pigs’. Tony ouviu e disse que gostou. Ele soube que eu produzi os primeiros discos do Body Count e nos ligou. […] Foi uma boa experiência. Posso dizer que fiz um álbum do Black Sabbath. E também me fez notar que eu não queria produzir bandas já consagradas. É melhor produzir pessoas mais jovens, que te ouvem.”
Além disso, contou não ter sentido qualquer pressão por trabalhar com o Sabbath. O motivo? Não era tão fã assim.
“Eu sempre curti mais Led Zeppelin. Adorava Sabbath, mas não era um grande fã. Não me senti intimidado. Quando lançamos esse álbum, o vinil já estava em desuso, então, avisei que deixaria o som mais seco. Os discos dos anos 80 soavam grandes, como tocar em um túnel. O vinil era mais seco, é o que faz o som. […] Quando o Nirvana veio, o som ficou mais pessoal, como se estivesse na garagem da banda.”
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