Em um mundo “movido por drogas”, vocalista e baixista do Kiss escolheu levar uma vida abstêmia por uma série de motivos – pessoais e profissionais
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 15/08/2024, às 09h32Para além da música em si, Gene Simmons é conhecido pelo faro apurado para os negócios e a visão que sempre teve do Kiss como uma grande marca. Em meio a algumas atitudes diferenciadas em relação a outros músicos de sua geração, o vocalista e baixista se notabilizou pela relação – ou melhor, a falta dela – com entorpecentes.
Em entrevista ao Backstage Pass (via Blabbermouth), Simmons explicou que o fato de nunca ter se interessado por álcool ou drogas fez com que ele frequentemente fosse deixado de lado por outros artistas, especialmente na década de 70. Inicialmente, ele disse:
Eu nunca fiquei chapado ou bêbado e nunca fumei cigarros, então sempre fui um excluído dessa forma. O resto do mundo parecia movido a drogas.”
As razões de Simmons para ser abstêmio foram explicadas de forma bastante direta. O artista de 74 anos declarou:
Eu poderia entender se fumar, beber ou ficar chapado te deixasse mais inteligente, mais rico, deixar seu p*nto maior, te deixar mais atraente... mas nada disso acontece, de verdade. Você provavelmente vai vomitar nos sapatos que sua namorada acabou de comprar. Você não vai ficar inteligente. No dia seguinte sua cabeça vai doer. E se você bebeu muito, seu p*nto não vai funcionar. Então eu não entendo.”
Em seguida, continuou com uma de suas clássicas histórias de sedução. Ele disse:
Lembro de quando eu tinha 13, 14 anos, eu costumava ir a essas festas adolescentes onde as pessoas de 16 anos se reúnem porque eu sempre tive uma altura maior, então eles me chamavam. Achavam que eu era mais velho. E como um abutre do lado, eu só esperava os caras ficarem bêbados, então aparecia e pegava qualquer garota que eu quisesse.”
Declarações “falastronas” à parte, o fato é que Gene tem um motivo bem mais sério e concreto para não ter se envolvido com substâncias durante a vida. Tem a ver com sua mãe, Florence Klein, que nasceu na Hungria e esteve em um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial, conseguindo fugir, enquanto outros familiares não tiveram a mesma sorte. Ele afirmou ao L.A. Times:
Eu sou o único filho de minha mãe. Eu me preocupava porque eu não tinha o direito de ferir minha mãe. A vida já fez isso o suficiente.”
A rejeição de Gene Simmons por drogas e álcool também tem relação direta com os primeiros anos do Kiss. Enquanto ele e o vocalista/guitarrista Paul Stanley tentavam construir um verdadeiro império, os colegas Ace Frehley (guitarra) e Peter Criss (bateria) bebiam e se drogavam com frequência, muitas vezes comprometendo a banda e com idas e vindas ao longo dos anos.
O cantor e baixista afirmou se arrepender por não ter sido mais duro com a dupla. Também os criticou, embora reconheça a importância de ambos para o grupo.
Ace e Peter têm tanto crédito pelo início da banda quanto Paul e eu. Não há dúvida de que havia aquela química. E os dois tinham vozes únicas, personalidades únicas. Eles deviam estar aqui conosco 50 ou 55 anos depois, aproveitando os frutos de seu trabalho. Mas infelizmente, eles não estão [na banda].”
Na crítica aos ex-colegas, sobrou para todos os músicos em bandas de rock – os mesmos que o “excluíam” por ser abstêmio. Gene continuou:
Foram eles que fizeram isso. Eles estiveram dentro e fora da banda por três diferentes vezes. Eles saíram três diferentes vezes por causa da mesma velha coisa. Não é nada único. Vá em praticamente qualquer outra banda e você vai encontrar pessoas ingerindo coisas mais do que o vagabundo na esquina, exceto que eles são mais ricos e podem pagar para ingerir mais. É triste.”
A verdade é que os anos 1970 eram uma época bem mais complicada do que a atual para o uso de drogas e álcool. Tanto que nem o próprio Gene Simmons foi 100% poupado.
Em entrevista ao podcast Your Mom's House with Christina P. and Tom Segura (via Yahoo!), o artista contou a história da única vez em que ficou chapado, ao comer brownies com maconha sem saber que continham a erva. Ao lado do filho, Nick Simmons, o “Demon” relatou:
A sala está lotada e eu estou só olhando os brownies empilhados lá, e eu amo essas coisas. Todo mundo estava tipo: ‘vamos fumar, vamos enfiar coisas na bunda’. Não, apenas me dê bolo.”
Quando descobriu a pessoa responsável por servir os brownies, Simmons passou a segui-la e degustar o doce com tranquilidade. Ele conta:
Então eu comecei, como um cachorro com um osso, a segui-la por aí. ‘Posso pegar mais um?’ ‘Você quer mais um?’ e eu continuei comendo. Comi uns seis.”
Inevitavelmente, a “brisa” começou a bater, colocando o músico em uma situação totalmente nova para ele. Nas palavras do próprio:
A sala começou a ficar maior e minha cabeça começou a ficar menor – diminuindo até ficar do tamanho de uma azeitona nos meus ombros. Eu me lembro disso – comecei a abrir os olhos para as pessoas acharem que eu estava normal.”
Com a cabeça do tamanho de uma azeitona e pés e mãos inchados como balões – em sua visão, é claro –, Simmons acabou salvo por um editor da revista Creem, que o levou para um lugar onde pudesse comer alguma coisa. Minutos depois, tudo estava bem de novo. Desde esse dia, em algum momento da década de 70, o músico do Kiss nunca mais se sentiu chapado, nem mesmo sem querer, como foi o caso.
Colaborou: André Luiz Fernandes.