Último ano de existência do Cream foi marcado por brigas entre os membros, turnê pelos Estados Unidos e álbum de despedida
Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 28/11/2024, às 08h00
O Cream existiu por pouco tempo, mas deixou sua marca na história da música. Não apenas por compor um supergrupo em tempos onde o termo sequer era cunhado, como também por ajudar a desenvolver sonoridades mais pesadas no rock que levaram à gênese do heavy metal.
Jack Bruce (voz e baixo), Eric Clapton (guitarra e voz) e Ginger Baker (bateria) tinham uma química única, tão impressionante quanto perigosa. Não à toa, o grupo durou pouco: de 1966 a 1968. E, no fim, os integrantes do trio praticamente não se falavam mais.
Clapton afirma que, nesse contexto, foi forçado a gravar um álbum que não queria. Em 1968, decidiu-se que o Cream encerraria as atividades, muito por conta das brigas entre Bruce e Baker. Antes disso, o trio deveria fazer uma última turnê e um disco, adequadamente chamado Goodbye (1969).
Em entrevista ao Los Angeles Times (via Far Out Magazine), Clapton falou sobre a situação do Cream no final de sua existência. O guitarrista contou:
Nós esgotamos as ideias e o impulso criativo. No último ano éramos como zumbis. Apenas seguindo o fluxo. E isso era muito, muito doloroso. Na verdade, viajávamos em limusines separadas e tudo mais, então não precisávamos falar uns com os outros. Nem precisávamos ver um ao outro até subir no palco.”
Sobre Goodbye, o álbum consiste em três faixas ao vivo e mais três gravadas em estúdio, sob a condução do produtor Felix Pappalardi, também integrante do Mountain. Clapton chegou a declarar que foi forçado a fazer esse disco, já que, por ele, o grupo teria encerrado as atividades sem nenhum registro ou turnê especial.
Disse o “Slowhand”:
Foi algo do qual eu não consegui encontrar uma maneira de sair. Eu não sei, eu estava sem força. E quando você está exausto das turnês e de lidar com a situação, você realmente não tem a energia mental para reunir a coragem de dizer: ‘ouçam, estou saindo’.”
Além do lançamento, o Cream realizou 22 shows nos Estados Unidos, além de dois no Royal Albert Hall, em Londres. O relacionamento entre os músicos só piorava a cada apresentação, o que afetava também as performances. Eric ficava no meio de uma verdadeira guerra entre Ginger e Jack, que só acabou mesmo com o fim da banda.
Eric Clapton nunca chegou a explicar o motivo exato de ter se sentido obrigado a fazer o álbum de despedida do Cream. Questões contratuais com a gravadora provavelmente são a resposta mais óbvia, mas existe uma história “apócrifa” sobre a real “pressão”. Quem a conta é Phil Spector, produtor falecido na prisão após ter assassinado a atriz Lana Clarkson, em entrevista de 1969 para a Rolling Stone EUA.
Segundo Phil, o responsável por convencer o Cream a lançar um último disco teria sido o presidente da Atlantic Records, Ahmet Ertegun. A estratégia foi curiosa: ele se utiliza de uma mentira sobre o crítico e também produtor musical Jerry Wexler, famoso por ter criado o termo “rhythm & blues”. Spector contou:
O Cream estava acabando e ele (Ertegun) disse: ‘caras, vocês precisam fazer um álbum final para mim’. Eles disseram: ‘Por que, cara? Nós nos odiamos’, ou algo assim. Ahmet disse: ‘Oh não caras, vocês têm que fazer mais um álbum para mim. Jerry Wexler está com câncer, e ele está morrendo e ele quer ouvir mais um álbum de vocês’. Então eles vão, fazem o álbum e ele diz: ‘Então caras, Jerry Wexler não está morrendo, ele está bem melhor, ele melhorou’.”
Verdade ou não, o fato é que quase nenhum dos envolvidos na história está vivo para confirmar. Wexler se foi em 2008, Ertegun partiu em 2006 e Spector morreu em 2021. Em relação ao Cream, Jack Bruce nos deixou em 2014 e Ginger Baker faleceu 2019. Eric Clapton, aos 79 anos, é o único músico do trio ainda vivo.
Goodbye foi lançado com a banda já separada e atingiu o topo da parada britânica, além de um segundo lugar nos Estados Unidos. O principal destaque é “Badge”, canção que Clapton assina com George Harrison. O Beatle também toca guitarra na faixa, creditado no disco com o pseudônimo “L'Angelo Misterioso”.
+++LEIA MAIS: O que os Beatles, Bob Dylan e Cream têm em comum?
Colaborou: André Luiz Fernandes.
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