Vocalista refletiu sobre dilemas dos tempos iniciais da banda, bem como os grandes méritos de “Fallen”, seu álbum mais famoso
Igor Miranda Publicado em 04/02/2024, às 16h23
Lançado em março de 2003, o álbum de estreia do Evanescence, Fallen, foi um sucesso arrebatador. Apresentou hits como “Bring Me to Life”, “Going Under” e “My Immortal” e vendeu milhões de cópias no mundo todo — hoje, são registradas mais de 10 milhões de unidades comercializadas somente nos Estados Unidos. Além disso, expôs ao mainstream um movimento que fundia influências góticas a um rock/metal de abordagem palatável — a ponto de fazer outros grupos com tais inspirações (e também com cantoras mulheres) chegarem ao estrelato.
Mas nada disso foi fácil. A vocalista e líder do grupo, Amy Lee, sempre diz em entrevistas que a trajetória até o sucesso foi bastante extenuante. Não à toa, o grupo foi fundado em 1994, com Amy e o guitarrista Ben Moody ainda adolescentes, e só conseguiu lançar seu primeiro álbum quase uma década depois.
Em entrevista à Kerrang!, Lee refletiu sobre o que considera ser o maior desafio enfrentado pelo Evanescence ao longo de sua caminhada inicial. Para a artista, lidar com o “lado comercial” sempre foi a complicação mais notória, visto que as gravadoras não acreditavam no sucesso de uma banda com aquele som e formatação — e ela não estava disposta a mudar sua arte para atender a padrões já estabelecidos.
Lutar no lado comercial para conseguir o que queríamos sempre foi muito difícil. Sempre senti que era minha missão lutar por isso. Fui eu que pensei: ‘se você fizer pequenas mudanças, tudo bem, mas se toda essa ideia mudar, eu não quero isso’. A questão toda, para mim, era fazer algo que eu amasse e em que acreditasse.
Uma das maiores batalhas internas entre Amy e os executivos da Wind-up, gravadora que lançou o primeiro álbum do Evanescence, tem relação com a presença de vocais rap masculinos — que estavam em voga no rock/metal devido ao crescimento do nu metal naquele período.
Nas palavras da artista, se não fosse por ela, haveria rap “em oito das 11 músicas do disco”. Eles acabaram conseguindo introduzir a influência em uma das canções, “Bring Me to Life”, que tem participação de Paul McCoy, frontman da banda 12 Stones. Mas só.
Poderia ter rap em oito das 11 músicas do Fallen. Você consegue imaginar isso? Quão errado isso teria sido? Aquela turbulência, aquele estresse, foi horrível. Eles queriam que fizéssemos testes para ter um rap rocker na banda e eu pensei: ‘Absolutamente não, isso não vai acontecer’. Então, ‘Bring Me to Life’ foi o ‘acordo’.
Ao longo de toda a sua vida, Amy Lee teve batalhas pessoais. Ainda durante a infância, ela perdeu a irmã. Como várias músicas de Fallen foram compostas em diferentes momentos, a cantora colocou muito de sua tristeza para fora. De forma breve, ela refletiu à Kerrang!:
É difícil explicar o que eu estava passando sem contar um monte de coisas que não quero. A verdade é que foi uma montanha-russa.
Mais de 20 anos depois, contudo, Fallen segue como um dos álbuns mais importantes do rock no século 21. Mesmo sob a desconfiança da própria Amy, que tinha problemas com sua baixa autoestima.
Era uma constante para mim ser sempre minha maior crítica. Você acha que está à frente das críticas de todos, pois você já se odiou primeiro. Mas isso é tão prejudicial à saúde. Vinham pensamentos como ‘Não, nunca tenha um pensamento positivo sobre você mesma’, ‘Você é apenas a cantora, isso não significa nada, qualquer um pode cantar’ e ‘Você não é habilidosa, apenas abra a boca’. Levou muito tempo para que isso desaparecesse.
Por fim, ela celebrou o fato de Fallen ter conquistado uma “vida longa” entre os fãs. Não foi um sucesso passageiro.
Também me impressiona o que temos feito com a nossa banda desde então. E como não se trata apenas das pessoas que estavam lá naquele momento fazendo aquele disco. O crédito é devido à banda agora e a todo o trabalho e amor que colocamos no Fallen todos esses anos no palco. Continuamos assim todos esses anos: fazendo shows ao redor do mundo, fazendo novas músicas, vivendo isso com nossos fãs. Eu sei que quando alguém que só conhece ‘Bring Me to Life’ vai ao nosso show, essa pessoa sai com uma nova impressão que é muito mais do que ela pensava. E isso os leva à nossa música, antiga e nova.
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