Guns N’ Roses em 1993 (Foto: KMazur / WireImage / Getty Images) -
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O músico que foi “a Yoko Ono” do Guns N’ Roses, segundo Matt Sorum

Instrumentista em questão é creditado como “o cara que acabou com a banda”; Slash e Duff McKagan, em diferentes níveis, concordam

Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 11/12/2024, às 19h59

Cabe discussão se o rótulo é ou não justo, mas devido ao que aconteceu com os Beatles, o nome de Yoko Ono passou a ser entendido como sinônimo de “alguém que destrói bandas”. E este curioso título já foi dado a uma pessoa que teria sido a responsável por levar à ruína o Guns N’ Roses no período clássico, no meio da década de 1990.

Assim como no caso do Fab Four de Liverpool, não é justo culpar apenas um indivíduo pelo rompimento dos músicos do GN’R. Por uma série de razões, o grupo já estava desgastado havia um bom tempo e perdera dois integrantes — o baterista Steven Adler, em 1990, e o guitarrista Izzy Stradlin, no ano seguinte — até a implosão definitiva.

Meses após a conclusão da extenuante turnê de divulgação de Use Your Illusion, em 1993, o grupo lançou um álbum de covers que vinha sendo gravado havia três anos: The Spaghetti Incident?. Foi o primeiro e único trabalho registrado com o guitarrista Gilby Clarke, que substituiu Stradlin. O contrato dele venceu em 1995 e não foi renovado. Para seu lugar, o vocalista Axl Rose trouxe um amigo de infância, Paul “Huge” Tobias — que acabou creditado como a Yoko Ono do Guns N’ Roses.

Mas antes disso, em outubro de 1994, Tobias já estava envolvido com o GN’R. Enquanto Clarke estava fora para promover seu álbum solo inaugural — Pawnshop Guitars, do qual todos os membros da banda participaram —, o grupo completo por Rose, o guitarrista Slash, o baixista Duff McKagan, o baterista Matt Sorum e o tecladista Dizzy Reed se uniu a “Huge” para gravar um cover de “Sympathy for the Devil”, clássico dos Rolling Stones. A releitura seria utilizada na trilha sonora do filme Entrevista com o Vampiro, lançado no mês seguinte.

Guns N' Roses: Axl Rose, Duff McKagan e Slash em foto de divulgação nos anos 1980

 

Slash, em especial, já estava em conflito com Rose não apenas por discordar da dispensa de Clarke, como também por várias de suas composições terem sido recusadas pelo vocalista. Este material acabou aproveitado pelo guitarrista em It’s Five O’Clock Somewhere (1995), primeiro álbum do projeto Slash’s Snakepit.

Todavia, a relação azedou de vez nas sessões de “Sympathy for the Devil”. O icônico músico da cartola não se deu bem com Paul Tobias. Em sua autobiografia de 2007, Slash diz que a gravação tem “o som de uma banda acabando”.

Em entrevista de 2002 à Classic Rock (via Far Out), Duff McKagan oferece mais detalhes:

“A música estava indo em uma direção que era completamente permissiva para o amigo de Axl [Huge]. Além disso, Axl simplesmente o trouxe e nos disse: ‘este é o nosso novo guitarrista’. Não havia democracia lá. Foi quando Slash realmente começou a dizer: ‘que se f#da, isso é a banda dele agora?’. Era ridículo. Fora que eu ia ao estúdio para começar o ensaio às 10 da noite e Axl aparecia às 4 ou 5 da manhã. Esse tipo de coisa acontecia há alguns anos.”

De modo mais direto, Matt Sorum definiu o colega da seguinte maneira em entrevista de 2001 à Q Magazine:

“Ahh, eu gosto de chamá-lo de ‘a Yoko Ono do Guns N’ Roses’ [risos]. O cara que acabou com a banda. Você [entrevistador] é o primeiro cara que me fez falar isso. Então, acho que os advogados de Axl irão entrar em contato com você. [risos]”
Matt Sorum, baterista do Guns N’ Roses (Foto: Pete Still / Redferns / Getty Images)

 

As saídas do Guns N’ Roses

Paul “Huge” Tobias tinha um vínculo estranho no Guns N’ Roses. Estava dentro e fora ao mesmo tempo. Em 1995, a banda chegou a fazer uma audição para ter Zakk Wylde (Ozzy Osbourne, Black Label Society etc) como segundo guitarrista, mas o próprio músico diz em entrevistas posteriores que a situação esfriou, pois nada acontecia no grupo.

No fim das contas, Tobias ficou. Isso rendeu um ultimato de Slash a Axl Rose. Em 1996, o guitarrista disse ao vocalista: “ou ele, ou eu”. Por incrível que pareça, o músico da cartola perdeu a queda de braço. Sua saída foi oficializada em outubro do ano citado, tendo sua vaga ocupada por Robin Finck (Nine Inch Nails).

Quem havia recomendado Finck? Curiosamente, Matt Sorum — não para substituir Slash e sim como um segundo guitarrista. E não demorou até que o baterista saísse; ou melhor, fosse demitido. O motivo? Uma discussão com Rose sobre… Paul Tobias. Em entrevista de 2001 ao Lawrence Journal-World, Sorum disse:

“Em [abril de] 1997, eu entrei em uma discussão com Axl sobre o estado da banda. Ele trouxe outro guitarrista, Paul Huge, e nenhum de nós realmente queria tocar com ele. Axl realmente o queria na banda, mas nós realmente não queríamos tocar com o cara.”

Diante de tal desmanche, Duff McKagan abandonou seu posto de baixista do Guns N’ Roses em agosto de 1997. O músico havia se tornado pai e estava chateado com a forma como a banda operava naquele momento. Em sua autobiografia, ele afirma:

“O Guns estava pagando aluguel de estúdios havia três anos — de 1994 a 1997 — e ainda não tinha uma única música. Toda a operação era tão errática que não parecia se encaixar com minhas esperanças de paternidade e estabilidade.”
Duff McKagan em foto recente (Foto: Cindy Ord / Getty Images)

 

O posto de Sorum foi ocupado de imediato por Josh Freese, baterista multibandas que hoje faz parte do Foo Fighters. Por sua vez, McKagan teve sua vaga assumida por Tommy Stinson, membro do The Replacements. Restaram apenas Axl Rose e Dizzy Reed do período clássico — e até 2016, quando Slash e Duff retornaram, a formação passou por diversas mudanças.

Axl Rose sobre Paul Tobias

Até hoje, não temos a versão de Paul Tobias para os acontecimentos do meio dos anos 1990. O guitarrista permaneceu na banda somente até 2002, um ano após a reestreia nos grandes palcos com show no Rock in Rio. Seja neste período ou depois, não concedeu entrevistas. Sumiu da indústria musical, embora tenha recebido créditos por composições lançadas pelo Guns N’ Roses — inclusive as “recentes” “Hard Skool” e “Perhaps”, datadas da virada do século, mas disponibilizadas respectivamente em 2021 e 2023.

Porém, Axl Rose — outro que praticamente não dá entrevistas — destinou uma rara declaração pública em 2002 para falar do amigo de infância. A fala está presente no press-release de uma turnê daquele ano, já sob o nome de Chinese Democracy, álbum que só seria lançado em 2008.

No comunicado, Rose explica que trouxe Tobias para o GN’R com a intenção de ajudar a banda em estúdio. Ele diz:

“O público recebeu uma história diferente dos outros caras — Slash, Duff, Matt — que têm seus próprios objetivos. As intenções originais entre Paul e eu eram que Paul iria me ajudar pelo tempo que fosse necessário para resolver tudo, em qualquer capacidade que ele pudesse me ajudar. Então, quando ele foi trazido para isso pela primeira vez, ele foi trazido como um compositor, para trabalhar com Slash. Na época, esses caras nunca sugeriram um nome. Nunca.”

Ainda no texto, Axl disse ter buscado outras opções de guitarristas para trabalhar com Slash. Porém, nenhum deles deu certo.

“Paul era uma das melhores pessoas que conhecíamos entre as que estavam disponíveis e eram capazes de complementar o estilo de Slash. Dava para trazer um guitarrista melhor do que Paul,. Poderia trazer um monstro. Eu tentei colocar Zakk Wylde com Slash e isso não funcionou. Isso trouxe algumas coisas interessantes em Slash, mas foi uma abordagem diferente que acabou sendo avassaladora e não trouxe o melhor de Slash. Trouxe algumas coisas interessantes e teria funcionado para fazer algumas músicas. Mas Paul só estava interessado em complementar Slash, estabelecendo uma base de um riff ou algo assim. Isso acentuaria ou encorajaria a liderança de Slash.”

Por fim, Rose apontou que Tobias não era um integrante do Guns N’ Roses naquele período. Também não estava certo se ele participaria de outras gravações.

“Agora, se Paul estaria oficialmente no álbum ou na turnê, isso realmente não era uma consideração real na época. Estava no ar como uma possibilidade, mas Paul era um amigo tentando nos ajudar e ele tinha um grande respeito por Slash. Ele é um homem bom e essa é a realidade por trás das coisas. Isso não muda o que aconteceu com o antigo Guns. Sinto que algumas das gravações que fizemos naquele período limitado de tempo tiveram algumas das melhores interpretações que Slash fez, pelo menos desde os Illusion. Eu estava lá. Sei o que ouvi e foi muito emocionante.”

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