- Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru formam Planet Hemp (Foto: Ronaldo Land)

Planet Hemp é 'muito mais' que rap rock: 'Muito samba, Bezerra da Silva, jazz e um monte de coisa junto' [ENTREVISTA]

Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, Marcelo D2, BNegão e Pedro Garcia falaram sobre próximo disco do Planet Hemp, JARDINEIROS: A COLHEITA

Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 16/08/2023, às 17h15 - Atualizado em 18/08/2023, às 12h20

Um dos grandes nomes do rap nacional, Planet Hemp adquiriu muita força ao longo dos anos, mesmo no espaço de mais de 20 anos sem lançar disco de estúdio. Em 2022, o grupo lançou JARDINEIROS, sucessor de A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000), e pouco menos de um ano se prepara para JARDINEIROS: A COLHEITA, que chega nas plataformas de streaming nesta quarta, 16.

A banda, formada por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru, trouxe cinco faixas a mais em COLHEITA, que conta com 20 músicas, como “TACA FOGO,” “NUNCA TENHA MEDO,” “SALVE KALUNGA," “PRA VER AS CORES DO MUNDO," “NÃO VAMOS DESISTIR,” “NINGUÉM SEGURA A GENTE” e “O RITMO E A RAIVA," além de dois remixes, de “AINDA” e “ONDA FORTE.”

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Capa de JARDINEIROS: A COLHEITA (Foto: Divulgação)

No mundo da música, um lançamento nesse estilo seria considerado como um Deluxe, algo comum de se ver. Porém, D2 e BNegão garantem que esse não é o caso. Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, o par de músicos e Pedro Garcia, produtor e engenheiro de som do Planet Hemp, definiram os dois JARDINEIROS como projetos “diferentes.”

Antes do lançamento do primeiro álbum, os músicos não tinham intenção de trabalhar em outra versão dele, mas alguns acasos aconteceram e eles se viram no meio de uma colheita de materiais.

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“Esse processo foi natural, eu tenho falado que, no Planet Hemp, a gente tem o nosso tempo, sabe? Nosso tempo é assim: a gente faz as coisas do jeito que a gente acha que tem que ser feito, no nosso momento,” afirmou D2. Inclusive, esse processo do grupo foi definido como “privilégio adquirido” pelos cantores.

Como BNegão explicou, a ideia de A COLHEITA surgiu logo após o lançamento de JARDINEIROS. Muitas das novas canções surgiram desde o começo do desenvolvimento do disco de 2022.

Em JARDINEIROS, tiramos músicas que já estavam prontas porque a achávamos que o balanço era aquele, que queríamos mostrar naquela época, e COLHEITA é um disco de comemoração,” disse D2.

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Os motivos para Planet Hemp descartar músicas variou bastante. No final das contas, A COLHEITA é uma mistura de materiais que Planet Hemp não conseguiu a tempo de lançar JARDINEIROS.

“Ficamos na dúvida se lançávamos [esses materiais] como um extra, EP, um JARDINEIROS 2, alguma coisa do tipo,” relembrou BNegão. “Como as músicas realmente estão dentro desse processo, a gente chegou a conclusão que era a melhor coisa lançar como se fosse uma colheita. Por isso não usamos a palavra ‘Deluxe.’

Foram coisas que a gente sentiu que precisava vir a público, só que não deu para ser ali.

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'NUNCA TENHA MEDO'

Uma das quatro canções inéditas presentes em JARDINEIROS: A COLHEITA, “NUNCA TENHA MEDO” envolve “muita fé e energia” do grupo, que se sentiu na obrigação de fazê-la “existir para o mundo.” Ela conta com aspectos do samba groove e tem participação de Posdnuos, conhecido pelo trabalho no De La Soul, assim como produção de Tropkillaz, Nave e Mario Caldato.

Vale destacar como Posdnuos é uma das grandes referências, mestres e ídolos dos artistas (desde antes da existência do Planet Hemp). Essa música sairia no JARDINEIROS original, mas aconteceram alguns problemas com a liberação do sample presente nela.

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“Tinha um sample de uma música do Jorge Ben, e como ele estava organizando a carreira dele, acabou não liberando a parada,” relembrou BNegão. “Ele parou geral de liberar sample e afins para organizar a editora, fazer as coisas dele e tal.”

Conseguimos homenagear o Jorge e ficou tudo do jeito certo. Vamos conseguir lançar essa música com o devido peso que ela merece.

‘SALVE KALUNGA’

Já “SALVE KALUNGA” homenageia Fábio Kalunga, fundador das bandas Cabeça e Bnegão & Os Seletores de Frequência que morreu em 2017. Inclusive, o músico teve extrema importância para o Planet Hemp, visto que apresentou Garcie e Nobru. “Fiz essa homenagem com uma base toda do Nobru. Fiz essa letra que senti a necessidade de fazer essa homenagem para colocá-lo no lugar de lembrança que ele tem que estar,” disse BNegão.

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‘CORES DO MUNDO’

Essa faixa é uma das mais especiais de JARDINEIROS: A COLHEITA e uma das preferidas de BNegão. Segundo o cantor, a música conta com um “groove de velho absurdo,” porque “só quem passou dos 40 pode fazer aquele tipo de groove [risos].”

Remixes de ‘ONDA FORTE’ e ‘AINDA’

Pouco depois do lançamento oficial de JARDINEIROS em 2022, BNegão recebeu uma mensagem de Kamau, considerado por ele como um dos maiores rimadores do Brasil, exaltando “ONDA FORTE” e a colocou como favorita do disco em questão.

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Passaram-se alguns dias e Kamau mandou uma rima para Marcelo D2, que viu uma oportunidade de incluir num possível remix. Já “AINDA” teve grande participação de BNegão, que escreveu a letra e é a voz na faixa.

Planet Hemp (Foto: Ronaldo Land)

Planet Hemp é universal e atemporal

Algo muito interessante de notar no público do Planet Hemp é a variedade na faixa etária. Segundo os integrantes do grupo, existiu um bom fluxo de entrada de fãs ao longo dos anos, desde a galera “das antigas” até quem se apaixonou pelo trabalho deles na volta em 2012 e lançamento de JARDINEIROS. Inclusive, BNegão tem boa explicação sobre isso.

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“A gente tem uma ideia de tentar fazer uma música que fique, uma música que tenha uma validade de clássico, uma coisa prolongada que faça diferença na vida das pessoas, na nossa inclusive,” disse. Marcelo D2 complementou falando sobre os shows da banda.

Os shows do Planet são uma catarse. Tem uma energia muito grande. Essa catarse que a gente traz lá da nossa geração, poucos shows têm hoje em dia. Bernardo falou uma coisa muito interessante sobre a gente ser uma banda underground que habita o convencional. Tem um legado nesses shows: entra essa coisa da molecada com o gás para uma roda punk, e os mais antigos que estão com uma saudade fod***.

Uma das marcas do Planet Hemp, desde o início do grupo, é a mistura de gêneros musicais nas músicas. Além de rap e rock, existem influências de ragga, reggae, samba e muito mais. Muitas vezes, o grupo é definido como rap rock, mas é muito mais que isso: eles “representam o Brasil.”

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Planet tem muito samba, muito Bezerra da Silva, tem jazz e um monte de coisa junto, que a gente vai misturando ao longo do tempo e vários estilos de rap, lançando coisas diferentes,” comentou BNegão. “A gente é de uma geração que tem Chico Science & Nação Zumbi e Raimundos.”

Nossa geração é a geração da mistura, então a gente está fazendo nada mais nada menos que o nosso caminho natural, de fazer umas coisas atuais e antigas. Aí isso a gente teve muito auxílio do Pedrinho.

“No primeiro disco, as músicas eram todas mais parecidas, porque eram todas as influências dentro de todas as canções, com ragga, rap, rock,” complementou Marcelo D2. Com o passar do tempo, no Os Cães Ladram mas a Caravana Não Pára (1997) por exemplo, a gente já foi dividindo as coisas.”

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Segundo o cantor, no começo, a banda não tinha experiência e confiança para fazer um samba ou um rap - e achavam como tudo precisava ser muito misturado. Então, com o andamento da carreira, chegaram em uma sonoridade que gostam.

[Em JARDINEIROS: A COLHEITA] tivemos mais confiança de ir atrás da experiência. Essa coisa de ter o Pedrinho como engenheiro de som e produtor dentro da banda foi fundamental. A gente não precisa de um interlocutor porque temos alguém na banda que faz isso.

Ou seja, segundo D2, a experiência facilita muito mais o processo criativo do Planet Hemp. Antes, eles alteravam bastante uma música até chegar na versão final porque enfrentavam muitas limitações, mas atualmente estão mais confiantes e experientes.

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Toda uma trajetória (e hiato) resultaram nos dois JARDINEIROS

Os fãs do Planet Hemp devem ter ficado malucos por alguma música inédita da banda entre os lançamentos de A Invasão do Sagaz Homem Fumaça e JARDINEIROS. No entanto, todo esse tempo de espera resultou em algo muito bom para os músicos.

“A melhor coisa que aconteceu para o processo desse disco foi a gente saber ouvir o outro. Quando você é mais novo, você tem muito ímpeto de que você sabe tudo, tudo precisa ser do seu,” disse D2. “Quando você fica mais velho, você entende [os outros] e passa a confiar.

Além de toda experiência de estúdio, de poder chegar no som sem abandonar ideias pelo caminho, passamos por muita coisa nessa banda, pessoal e profissional. Como qualquer outra banda, brigamos, fomos para a cadeia, tivemos momentos de ápice e fundo do poço, então tivemos muito cuidado nessa relação pessoal para não matarmos uns aos outros [em COLHEITA]. Muito pelo contrário, a gente queria sair do disco abraçados e felizes.

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Vale lembrar como, por mais que tivessem colaborado em inúmeros sucessos, Marcelo D2 e BNegão ficaram cerca de 20 anos sem compor músicas juntos. "Aí depois que voltamos, [relembrei que somo] dois somos um míssil juntos, uma porrada. É muita pressão quando nos juntamos no Planet Hemp, e tem isso em lugar nenhum.”

Segundo BNegão, com toda experiência do grupo, a missão deles “era conseguir manter e trazer o impacto que o Planet sempre teve, trazer inovação e trazer a coisa que veio percorrendo o caminho e tal e a gente está feliz que conseguiu, tanto com o original quanto com a colheita.”

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— Planet Hemp (@planethempreal) August 16, 2023
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