- Pluma (Foto: Maria Cau Levy)
Entrevista

Pluma faz uma viagem psicodélica em 1º álbum: ‘Momentos introspectivos com arranjos explosivos’

Ao longo de 12 músicas, marcadas pelo sintetizador hipnotizante, Pluma consegue superar as expectativas em Não Leve a Mal

Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 18/07/2024, às 07h00 - Atualizado em 19/07/2024, às 12h30

Com a chegada dos serviços de streaming de música, as bandas e artistas independentes passaram a enfrentar ainda mais dificuldades para emplacar e conseguir um público sólido, especialmente em meio às milhares de informações que recebemos diariamente nas telas de nossos celulares e computadores. Fica cada vez mais difícil para chamar atenção e manter vivo o sonho de se sustentar e viver nesta competitiva indústria.

Apesar de toda a dificuldade, e uma pandemia que paralisou por completo os shows e festivais pelo Brasil e mundo, a banda Pluma — formada por Diego “Dizzy” Vargas (teclado/sintetizador), Guilherme Cunha (baixo), Lucas Teixeira (bateria) e Marina Reis (vocal) — conseguiu construir um começo de carreira sólido e se destacou bastante na cena independente de São Paulo. Inclusive, esse talento e esforço do quarteto culminou em Não Leve a Mal, primeiro disco da carreira do grupo, lançado nesta quinta, 18, nas plataformas de streaming.

Durante entrevista à Rolling Stone Brasil, os artistas comentaram como o período de isolamento social fez tudo parecer muito diferente, visto que só havia a opção de lançar as músicas e esperar, sem poder cair na estrada, e torcer para os números desempenharem bem. Além disso, existia certa angústia e ansiedade para fazer logo o primeiro show como Pluma, que nasceu de um Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC, de Produção Fonográfica na Faculdade Belas Artes.

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Um fator que contribuiu bastante nos primeiros passos do grupo foi o sucesso do primeiro EP, intitulado Mais do Que Eu Sei Falar (2020), cuja faixa-título conta com mais de 1,3 milhão de reproduções no Spotify.

“Superou nossas expectativas, ajudou-nos muito naquele momento e nos fez perceber o potencial do projeto,” explicou Cunha. “Conseguimos atingir pessoas e lugares que não imaginávamos, mesmo com a distância.” Em seguida, o baixista aproveitou para agradecer todo suporte do Selo Rockambole, responsável pelos primeiros lançamentos e apoiar em lives, assim como em Não Leve a Mal.

Foi um time muito massa e foi essencial para termos perspectivas de tudo aquilo. Tínhamos acabado de começar, então tinha muita vontade de criar, tocar, gravar, descobrir nossas músicas e de fazer mais, assim como hoje em dia.

Outro grande momento na carreira de Pluma foi o convite para se apresentar no Primavera Sound de Barcelona em 2022, ano no qual o quarteto começou a trabalhar naquilo que se tornaria o primeiro álbum deles. Apesar de ser produzido em um período pós-pandêmico, as letras intimistas chegam a refletir um pouco sobre os anos anteriores, assim como a personalidade da vocalista, Marina Reis.

“Sempre fui mais introspectiva,” explicou a cantora. “Ao mesmo tempo, o álbum também reflete uma vontade de fazer músicas que agitem e emocionem o público no ao vivo, o que gerou certa dualidade no disco.”

Ele contrasta o tempo todo momentos introspectivos com temas e arranjos explosivos.

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Como Pluma idealizou Não Leve a Mal?

Após o começo do processo de produção do primeiro álbum da carreira, os integrantes da Pluma começaram a juntar várias ideias de lugares diferentes, seja com groove de bateria ou áudios de gravação. Eles agrupavam os diversos registros para usar de base nas gravações.

Para lapidar esses fluxos criativos, o quarteto viajou diretamente para Cambará, Paraná, onde ficaram isolados por 10 dias. Naturalmente, novas ideias surgiram e, para estruturar as que se destacavam, tocavam, gravavam, experimentavam e ouviam influências. Na volta da viagem, o grupo voltou com a base de Não Leve a Mal consolidada.

“Ainda surgiram mais ideias e detalhes durante a pré-produção com Hugo Silva, que captou e co-produziu o disco, e mesmo depois das bases gravadas, quando voltamos com as músicas para dentro do computador para mais recortes, samples e efeitos,” relembrou Guilherme Cunha.

Em cada um desses momentos a gente encontrava melhor a ideia principal do álbum, a partir das letras, principalmente, o que se somava melhor, os principais temas e como queríamos falar dos assuntos. Foi algo que surgia enquanto nos descobríamos, também.

Ao longo das 12 ótimas faixas, Pluma convida o ouvinte para uma viagem psicodélica, com diversas misturas de gêneros musicais, como jazz, rock psicodélico, pop, R&B, neo soul e indie rock. Segundo Cunha, esse elemento na sonoridade da banda surge muito naturalmente durante as criações musicais, com base naquilo que eles escutam e pesquisam, seja individualmente ou em grupo.

Pluma (Foto: Maria Cau Levy)

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“Gostamos muito dessas misturas e de tentar criar algo novo, [além] do desafio de juntar diversas sonoridades com a música brasileira, a letra em português, a canção,” disse o baixista. “Nesse sentido, o álbum foi muito especial para nós, com mais músicas e chances que tivemos de explorar diferentes caminhos e mostrar sons, ideias e misturas que adoramos.”

Pluma desafia um pouco a noção da formação clássica de uma banda, normalmente idealizada com vocal, baixo, guitarra e baterista. No entanto, o quarteto não possui um guitarrista, (o instrumento dá lugar ao sintetizador) algo que seria mal visto por alguns, mas aqui eles tiram de letra para construir uma sonoridade ímpar.

Diego “Dizzy” Vargas, o mestre do sintetizador no grupo, descreveu o instrumento como “muito versátil,” e revelou como boa parte das primeiras demos das músicas possuem um timbre de sintetizador, que dita como o resto dos elementos se encaixarão.

Ao mesmo tempo, se a parte principal da música é a cozinha, o synth consegue se moldar para fazer as outras linhas brilharem ainda mais.

Com muito talento e qualidade, Pluma entregou um disco bastante autêntico, que se mostrou um dos destaques de 2024 até o momento. Seja com os vocais serenos de Marina, os sintetizadores hipnotizantes de Dizzy, o baixo sólido que guia de Guilherme Cunha ou com a bateria marcante de Lucas Teixeira, que também é integrante d’O Grilo.

“Agora a gente quer fazer muitos shows! As músicas do disco foram muito inspiradas nas experiências que tivemos assistindo e fazendo shows nesses últimos dois anos, então são músicas legais de tocar e que funcionam em cima do palco. Estamos ansiosos!”, finalizou Dizzy.


Ficha Técnica
Composição e Interpretação: Diego Vargas, Guilherme Cunha, Lucas Teixeira e Marina Reis, exceto a faixa 8 (Plano Z) composta por Pedro Martins
Pré-produção: Hugo Silva

Captação: Hugo Silva

Produção: Hugo Silva, Diego Vargas, Guilherme Cunha, Lucas Teixeira e Marina Reis
Mixagem: Hugo Silva
Mastering: Fernando Sanches (Estúdio El Rocha)
Sax: Lucas Gomes (Doce/Amargo e Sonar)

Guitarra: Felipe Martins (Quando Eu Tô Perto)
Gravado no Estúdio Rockambole

 

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