Músico também discutiu inspirações em filmes e séries para letras de novo álbum: “alguém chega e diz: ‘escrevi essa música após ter andado a cavalo’... ah, vá à m….!”
Igor Miranda Publicado em 04/02/2024, às 11h00
Disponibilizado nas plataformas digitais no último dia 20 de outubro, Behind the Tea Chronicles é o décimo quarto álbum de estúdio de Ed Motta. As composições são inspiradas em séries de TV e filmes que aprecia, também explorando uma gama de gêneros como funk, soul, jazz e musicais da Broadway.
Ouvintes desavisados podem estranhar, porém, que as músicas sejam todas cantadas em inglês — como Ed já vem fazendo há algum tempo. A carreira atual do músico é direcionada para o exterior, mas em entrevista à Veja, ele fez uma revelação curiosa: até os gringos gostariam que suas composições fossem em português.
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Duas explicações foram oferecidas por Motta. A primeira é de que somente artistas “de um país nórdico ou do Norte da Europa” têm chancela para interpretar suas obras em inglês. A segunda é mais óbvia: a língua brasileira “tem sua beleza” para os estrangeiros.
“A verdade é que o público internacional preferiria que eu estivesse cantando em português. Os gringos preferem brasileiros cantando em português. A chancela internacional para um artista cantar inglês só é dada quando ele vem de um país nórdico ou do Norte da Europa. A música brasileira é muito difundida no mundo e a língua brasileira tem sua beleza, tem essa coisa no imaginário sexy e tropical.”
Mesmo com todo esse cenário propício para uma obra em português, Ed foi direto ao afirmar que, se dependesse dele, nunca teria cantado em sua língua materna.
“Por mim, todos os meus discos teriam sido em inglês, sem exceção. Jamais teria cantado em português na vida. Nos meus primeiros álbuns, o André Midani, na época, presidente da Warner, disse que brasileiro não poderia cantar em inglês porque não tocaria na rádio. Existia esse olhar, uma espécie de defesa anti-imperialista. Meu motivo para cantar em inglês é meramente estético. O tipo de história que abordo nas minhas letras não é latino.”
Ainda durante a entrevista, Ed Motta discorreu sobre as inspirações para as letras de Behind the Tea Chronicles. Como já destacado, filmes e séries admirados pelo músico serviram de referência para os versos — mais especificamente, produções do gênero policial e ficção dos anos 1970.
“Dou crédito de onde vem a minha inspiração para deixar bem claro que não faço parte do esterótipo do artista que diz que sua composição veio do ‘fruto da sua vivência’. Coisa nenhuma. Quem diz isso são pessoas que não leem ou não assistem filmes. Alguém chega e diz: ‘Escrevi essa música após ter andado a cavalo’. Ah, vá à m….! As minhas músicas são fruto dos filmes que vejo. Minha vivência é por meio da arte. É a arte imitando a arte.”
Sempre sincero, o artista comentou que sequer sai de casa — o que leva a seu consumo de arte “24 horas por dia”.
“Não estou na rua hora nenhuma. Sair na rua é um inferno para mim. Não quero ver a vida lá fora. Não tem nada de interessante no mundo que vivo desde que nasci. Em qualquer lugar do Brasil, em qualquer lugar que eu estiver do mundo, eu acho tudo ruim. Tenho uma personalidade niilista. Minha inspiração vem do meu amor, paixão e devoção pela arte. Consumo arte 24 horas por dia. Não tenho tempo para bater uma bolinha ou tomar uma cervejinha. Na mesa de bar, todo mundo fala besteiras que não levam a lugar nenhum. Prefiro ler as obras completas de Sidney Sheldon a ter um bate-papo numa mesinha de bar.”
Em comunicado divulgado á época do lançamento do disco, ele destacou algumas inspirações de forma mais específica.
“Colombo, Barnaby Jones e Streets of San Francisco (no Brasil, São Francisco Urgente) são as minhas séries favoritas. Mas também gosto da inglesa Quatermass, a primeira série de ficção científica do mundo e produzida pela BBC, que foi uma inspiração direta para uma faixa do álbum. Também me inspirei em filmes antigos: especialmente o filme Gaslight, de George Cukor, e filmes de Jacques Tati, Jean-Pierre Melville e Basil Dearden, que são alguns dos meus diretores favoritos e me deram muitas ideias. Eu queria criar algo verdadeiramente único com Behind the Tea Chronicles. Filmes e séries de TV antigas sempre tiveram um impacto profundo na minha imaginação e musicalidade. Eu queria homenagear essas influências e usá-las como pontos de conexão para criar um álbum que não seja apenas musicalmente envolvente, mas também leve os ouvintes a uma jornada nostálgica e cinematográfica. É uma ode à liberdade e um compromisso com a arte.”
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