Guitarrista de 73 anos foi diagnosticado com miosite de corpos de inclusão, anunciou turnê de despedida, mas retomou atividades
Igor Miranda Publicado em 06/05/2024, às 16h50
Em fevereiro de 2019, Peter Frampton anunciou que se aposentaria das atividades no palco. O guitarrista iria se apresentar apenas entre os meses de junho e outubro daquele ano, nos Estados Unidos, como parte de sua turnê “Peter Frampton Finale — The Farewell Tour”.
A razão era pra lá de compreensível. O músico recebeu um diagnóstico de miosite de corpos de inclusão (MCI), um distúrbio muscular progressivo caracterizado por inflamação muscular, fraqueza e atrofia. Por conta disso, um dólar de cada ingresso vendido para a turnê foi doado para beneficiar o fundo de pesquisa de miosite de Frampton, estabelecido na Universidade Johns Hopkins, onde ele foi tratado.
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A turnê passou, veio a pandemia obrigando todo mundo a ficar em casa, as restrições acabaram… e Frampton decidiu voltar a se apresentar. Ainda embarcou em uma turnê com o nome “Never Say Never” (“Nunca Diga Nunca”). Ele toca sentado, mas a parte musical não está nada comprometida.
Por que, aos 73 anos e sofrendo de um distúrbio muscular, Peter decidiu continuar se apresentando ao vivo? Em entrevista ao American Songwriter, deu uma resposta que não poderia ser mais sincera.
“Eu nasci para estar no palco. É onde me sinto mais confortável na vida, eu acho. Adoro tocar guitarra, adoro fazer shows e adoro ver a reação das pessoas. Na verdade, ano que vem será meu 60º aniversário de turnê – comecei quando tinha 14 anos.”
Chama atenção, inclusive, que os shows feitos por Frampton nesta retomada são mais longos. Duram cerca de duas horas e meia e percorrem toda a sua carreira, desde os tempos de Humble Pie, passando pelos álbuns mais bem-sucedidos da carreira solo — incluindo o multiplatinado ao vivo Frampton Comes Alive (1976) — e chegando até composições mais recentes.
Sobre o fato de o público ainda querer vê-lo tocar canções como “Show Me the Way”, “Baby, I Love Your Way” e “Do You Feel Like We Do”, ele destaca:
“Fico impressionado com a reação do público a essas músicas porque muitas pessoas me disseram o que essas músicas significam para elas. Algumas histórias são muito comoventes. As pessoas ouviram essa música em certas ocasiões, boas ou ruins, e isso as ajudou. Então, se minha música ajudou as pessoas, meu Deus, é o melhor que poderia ser, não é?”
Como a MCI é uma doença muscular sem cura, Peter Frampton logo pensou que seria forçado a parar de tocar guitarra. No entanto, seu quadro parece estar evoluindo bem o bastante para que ele continue fazendo o que ama — por isso, ele garante que seguirá se apresentando até quando der.
“Eu sabia que tinha a doença muscular, e sabia que meus dedos seriam afetados. Quando fizemos a turnê de despedida, no final, notei algumas diferenças. E eu sempre disse: ‘não quero sair e tocar ao vivo se não estiver no meu auge’. Bem, eu menti! Acho que ainda estou no meu auge, mas eu acabei de ajustar o que é esse ‘auge’.”
Ainda durante a entrevista, Frampton exaltou uma de suas maiores influências, o lendário guitarrista de jazz Django Reinhardt, como uma inspiração fundamental para se adaptar à nova realidade.
“Django Reinhardt tinha apenas dois dedos e um polegar na mão esquerda, então se ele consegue tocar com dois dedos, e tocar melhor do que eu já toquei na minha vida toda, acho que posso lidar com isso agora.”
Peter já veio três vezes ao Brasil, nos anos de 1982, 1995 e 2010. Quem sabe não acontece uma nova visita, dentro do possível de suas limitações?
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