- Black Pantera (Foto: Divulgação)

Primavera Sound 2022: Black Pantera promete show ‘histórico e político’ - e é uma banda que você precisa conhecer [ENTREVISTA]

Formada por Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo Pancho, Black Pantera comentou sobre Primavera Sound 2022 à Rolling Stone Brasil

Felipe Grutter Publicado em 14/08/2022, às 17h00 - Atualizado em 15/08/2022, às 09h09

Um dos festivais de música mais aguardados de 2022, Primavera Sound finalmente desembarcou no Brasil e a primeira edição do icônico evento acontecerá entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro. Entre as inúmeras atrações, está a banda mineira Black Pantera, que promete um show “histórico e político” - e você precisa conhecer o trabalho do grupo.

Diretamente de Uberaba, Black Pantera, cujas músicas unem sons como rock, thrash metal e hardcore, foi formada em 2014 pelos irmãos Charles Gama (guitarra e vocal) e Chaene da Gama (baixo e vocal) e Rodrigo Pancho (bateria). O nome é uma homenagem ao Partido dos Panteras Negras, o qual surgiu nos Estados Unidos para defender a comunidade afro-americana em meados dos anos 1960. Ou seja, os mineiros são bastante enraizados politicamente.

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Mesmo fora mainstream musical brasileiro, a banda já fez coisas grandiosas nesses cerca de oito anos de estrada, como shows nos Estados Unidos e Europa - além de dividir palco com grandes nomes como System of a Down e a brasileira Ratos de Porão, liderada por João Gordo.

Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, Charles Gama, Chaene da Gama e Rodrigo Pancho falaram sobre as expectativas sobre apresentação no Primavera Sound 2022, estilo musical deles e toda caminhada que percorreram entre 2014 e o festival em São Paulo, SP.

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Vale lembrar como Primavera Sound acontece no Distrito Anhembi, mas terá outros shows pela capital paulista, em casas de show como Audio, Cine Joia e Palácio de Convenções do Anhembi. Black Pantera deve se apresentar em algum desses três locais, mas o festival não divulgou onde até o momento.

Como surgiu o convite para o Black Pantera tocar no Primavera Sound?

“A gente sempre conheceu o festival e sempre seguimos o Primavera de Barcelona [nas redes sociais], que a gente sempre achou incrível,” afirmou Chaene. “Quando a gente ficou sabendo que viria para o Brasil, o Adriano que trabalha conosco, falou como tinha uma parada meio que um contato.”

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Então, Adriano comunicou os integrantes que a negociação deu certo. Na entrevista, os mineiros se mostraram bastante felizes e honrados em participar do line-up do festival, ainda mais que esta será a primeira edição dele no Brasil. Não é para menos, eles merecem bastante estar no topo.

As expectativas não poderiam estar melhores, explicou Charles Gama: “[Traremos] um show insano. A gente sobe no palco já com uma energia danada, já é costume a banda proporcionar essa energia porque o público também manda isso para gente. No Primavera, não será diferente.”

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“Os fãs da banda têm crescido bastante. Tem uma galera que ainda não viu a gente ao vivo, mas tenho mensagens aqui no Instagram de uma galera que está aguardando para nos ver no festival,” continuou o guitarrista. “A galera pode esperar tudo do Black Pantera, é pauleira… prepara o pescoço, leva um remedinho.”

Política e racismo nas músicas

Para fãs desavisados, Black Pantera sempre falou e continuará abordando temas políticos nas músicas e shows. Isso é desde o começo. O nome da banda já é político já: é uma homenagem ao Partido dos Panteras Negras, que defendia os pretos da opressão e repressão da polícia nos Estados Unidos,” explicou Chaene. “A gente estar inserido no no movimento do rock and roll também é um ato político, porque nós somos uma banda preta e é algo que a gente não vê. O rock é majoritariamente frequentados por pessoas brancas.”

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Em seguida, Rodrigo Pancho concordou com o colega de banda e acrescentou: “Somos uma banda de confronto. Tem pessoas que às vezes não entendem muito bem o que a gente está falando e vem reclamar depois: ‘Vocês deviam ser menos políticos.’ A gente quer que essa galera se f***.”

A gente fala de raiva, tocamos com ódio. O que move a gente é o ódio, entendeu? É, a gente transforma isso em combustível. Tipo, isso aqui é uma banda preta falando.

O começo de 2022 foi marcado com as tentativas de censura no Lollapalooza Brasil após artistas se manifestarem contra o presidente Jair Bolsonaro. Mesmo se essa tentativa acontecer novamente, Black Pantera vai confrontar, como sempre faz.

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“A gente vai falar o que sempre falou, sem medo de ser feliz. Essa questão de censura não vai atravessar nosso caminho. Sendo artistas libertos como somos, a gente vai falar o que a gente quiser,” disse Charles.

Veja, abaixo, a entrevista que Black Pantera concedeu à Rolling Stone Brasil sobre o Primavera Sound 2022:

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Rolling Stone Brasil: Então, vocês são uma das atrações da primeira edição do Primavera Sound. Fala como vocês se sentem em relação a isso. Como surgiu o convite?

Chaene: A banda aí tem oito anos de estrada, a gente sempre conheceu o festival e sempre seguimos o Primavera de Barcelona [nas redes sociais], que a gente sempre achou incrível. Estivemos duas vezes na Europa e conhecemos um monte de festivais, apesar de não ter tocado em todos. Aí quando a gente ficou sabendo que viria pro Brasil, eu, o Adriano que trabalha conosco, falou que já tinha uma parada meio que um contato.
E aí falou que deu certo: ‘Véi, vocês estão dentro. Rezem aí que vai dar certo’. E deu. Para nós é uma honra incrível, estar nesse festival, nesse line-up. A gente sabe que é um festival gigante; chega no Brasil e a gente já toca no primeiro.

Rolling Stone Brasil: Por falar em show, o que as pessoas podem esperar da apresentação de vocês no Primavera Sound?

Charles: Um show insano. A gente sobe no palco já com uma energia danada, já é costume a banda proporcionar essa energia porque o público também manda isso para gente, sentimo-nos confortáveis demais. No Primavera não será diferente. Os fãs da banda têm crescido bastante. Tem uma galera que ainda não viu a gente ao vivo, mas tenho mensagens aqui no Instagram de uma galera que está aguardando para nos ver no festival. Vai ser uma oportunidade muito massa com um festival grande desse. A galera pode esperar tudo do Black Pantera, é pauleira.
Rodrigo: Prepara o pescoço.
Charles: É, prepara o pescoço, leva um remedinho. Satisfação total, a gente vai procurar um repertório bacana. A galera pode esperar o melhor do Black Pantera sempre. Não vai ser diferente no Primavera. A gente está superempolgado para tocar na primeira edição. Essa empolgação vai ser toda transmitida no nosso show ao vivo. Vai ser foda, essa é uma promessa.
Vocês vão ficar bem doloridos, mas estamos feliz pra caramba com o show lá, pode deixar com a gente.

Rolling Stone Brasil: A música de vocês tem uma pegada bastante social e política, com diversas discussões sobre o racismo. Como vocês enxergam a importância de abordar esses assuntos na música?

Chaene: Isso é desde o começo. O nome da banda já é político já: é uma homenagem ao Partido dos Panteras Negras, que defendia os pretos da opressão e repressão da polícia nos Estados Unidos. A gente estar inserido no movimento do rock and roll também é um ato político, porque nós somos uma banda preta e é algo que a gente não vê. O rock and roll é majoritariamente frequentados por pessoas brancas.
Então assim, nosso show hoje é um ato por ser a gente, por estarmos vivos e sermos pensantes. As músicas e os nomes já dizem muito. Parte da energia do show vem dessa raiva de tudo que a gente já viveu e vivencia. O Black Pantera é atitude e som.
Quando a gente joga energia, a galera entende, aí é catarse. Pode ter certeza que esse show vai ser histórico, porque esse disco novo, Ascensão (2022), é incrível. Os shows dele têm sido pesados, fogo e chamas literalmente. E vai ser foda.
Rodrigo: Chaene disse tudo. Somos uma banda de confronto. As letras confrontam e inclusive a gente tem tocado em muitos lugares onde tem pessoas que depois mandam o feedback positivo, e tem pessoas que às vezes não entendem muito bem o que a gente está falando e vem reclamar depois: ‘Vocês deviam ser menos políticos.’ A gente quer que essa galera se foda. Uma banda com o nome Black Pantera, não tem como a gente falar de outras coisas, sabe?
A gente fala de raiva, tocamos com ódio. O que move a gente é o ódio, entendeu? É, a gente transforma isso em combustível. Tipo, isso aqui é uma banda preta falando, confrontando aí.

Rolling Stone Brasil: Vocês já dividiram e irão dividir, no Primavera Sound, palco com grandes nomes do rock, como System of a Down e Ratos de Porão. Já caiu a ficha de vocês? Qual a sensação de se ver no topo?

Charles: Cara, isso é muito louco. Nesses momentos que acontecem essas gratas surpresas, você começa a lembrar do começo. Eu era só um cara ali com uma guitarra pensando. Então, hoje em dia acontecendo, a ficha demora a cair. Mas, quando acontece na hora igual quando a gente estava no Download Festival, a gente viu o pessoal do System e aquela galera gigantesca de músicos fantásticos que a gente admira a vida inteira, a minha ficha foi cair quando eu cheguei em casa e fui ver as fotos.
Eu e o Chaene batemos um papo com o Tom Morello [guitarrista do Rage Against the Machine] de quase meia hora, sozinhos, sobre assuntos aleatórios, política sobre, questões de banda… Você vê o crescimento de uma banda, a gente aqui de Uberaba, Minas Gerais.
A galera do Ratos, a gente admira a vida inteira e teve laço de trocar uma mensagem no WhatsApp, no show ficar batendo papo. A gente entende que esse trabalho árduo nosso de oito anos tem compensado com isso. A gente está ali por merecimento, por um corre violentíssimo. A gente trabalha 24 horas por dia em prol da banda.
Rodrigo: Sempre nos foi muito claro onde a gente queria chegar, principalmente depois de 2016, quando a gente tocou em Paris, quando a banda tinha dois anos, ali a gente viu que a parada poderia ficar mais séria. Não teve um ano que a gente deu um passo para trás, sabe. Sempre um passo para frente, trabalho de formiguinha e pesado.

Rolling Stone Brasil: Vocês tem algumas músicas em inglês na discografia. Qual a motivação para vocês cantarem duas línguas?

Charles: É para ter uma ponte. A gente entende que a língua inglesa é importante. Quando fizemos turnê nos EUA, entendemos como precisávamos fazer algo assim, que desse para eles entenderem sobre o que a gente canta e tudo mais. Depois da daquele fortuno que aconteceu com o George Floyd, a gente lançou “I Can't Breathe,” porque achamos que essa mensagem precisava ser passada para o mundo inteiro, afinal de conta a língua inglesa chega no mundo todo.
Talvez, em um projeto futuro a gente possa fazer algum álbum em inglês, mas no momento não é nossa prioridade, mas é interessante ter esses dois sons, até para causar essa proximidade com o público que às vezes não entende o que a gente fala, em diversos outros países.

Rolling Stone Brasil: Como vocês enxergam o futuro da Black Pantera? O que podemos esperar nos próximos dias, semanas ou meses?

Charles: Eu resumiria em uma palavra: glorioso. Toda caminhada, toda história que a gente tem feito, todas as dores, todas as vitórias... a gente chegou num patamar que a gente realmente está focado e que as coisas vão sair tudo bem. Vamos participar de festivais gigantescos, estamos com a nossa turnê maravilhosa, clipe no YouTube, com três CDs maravilhosos e dois EPs na praça.
A gente só espera coisas boas e os desafios que vieram para frente a gente está preparado para enfrentar todos.
Chaene: Estamos com oito anos, próximas ideias a gente tava conversando de repente, quando a banda fizer dez anos, fazer um DVDzão foda ao vivo. É isso: fazer som, continuar tocando e sendo o que a gente é, cobrando, mesmo. Fogo nos racistas e é nóis.
Rodrigo: Se até hoje, a maior parte da carreira a gente correu muito sozinho, e mesmo assim conseguimos conquistar muitas coisas. Hoje, com a equipe que a gente tem, acho que a banda vai crescer mais. Cada ano igual foguete, sem dar ré.

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