Projota admitiu erros, mas quer equilíbrio; músico descreveu desafios e inspirações do disco A Saída Está Dentro
Dimitrius Vlahos (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 19/01/2022, às 13h53
Tiago Sabino, mais conhecido como Projota, viveu noite de “final de campeonato” na última quinta, 13. O rapper lançou o quinto disco de estúdio, A Saída Está Dentro, - e, apesar de carreira extensa, os sentimentos foram ansiedade e muita expectativa. “Alguns projetos te deixam um pouco mais ansiosos que outros. Esse é um dos grandes.”
Em 2021, Projota enfrentou o cancelamento virtual pelo BBB, a morte da avó Lourdes, quem o criou, além de muitos holofotes - positivos e negativos. Todas as questões pessoais se misturaram ao cenário social do Brasil e deram corpo ao disco de 11 faixas, conforme explicou em entrevista à Rolling Stone Brasil.
O elo entre temáticas tão distintas foi a emoção, “tanto 'pra' falar de amor, quanto 'pra' falar de dor. Estava muito intenso. Mesmo com os temas, você consegue ver minha cara nas canções. Sou eu, mas com uma banda."
Apesar de mensagens políticas espalhadas pelo disco - como críticas ao que chamou de “rap fascista” na faixa “O Hype” - Projota não falou tanto do assunto quanto gostaria. O mergulho profundo pelo autoconhecimento e as reflexões sobre os eventos de 2021 ocupam a maior parte do disco, mas também serviram de gancho para posicionamentos pontuais.
+++ LEIA MAIS: Cinco conquistas importantes do Projota [LISTA]
“Queria fazer uma ‘Sr. Presidente’ [faixa de tema político lançada em 2018] por ser um ano muito importante, ano de eleição, isso muda a vida das pessoas de forma muito clara. Mas tinha muitos problemas me azucrinando internamente e falei sobre isso. Utilizei os problemas 'pra' colocar os temas sociais nas canções.”
“Homens de Bem,” parceria com Nando Reis, critica a hipocrisia do discurso dos autointitulados “cidadãos de bem,” como no trecho: “Digo que sou contra o aborto / mas pra cada preto morto / digo que foi Deus quem quis.” A escolha do eu lírico em primeira pessoa deixa a mensagem mais impactante, mas aconteceu por razão bem simples: Projota misturou personagens da sociedade com ele mesmo, includindo diversas autocríticas.
O refrão, cantado pelo ex-Titãs, declara: “Não dá pra fugir de si mesmo / Quando tentei fugir de mim mesmo / esbarrei em mim / tropecei em mim,” um exemplo dos questionamentos de Projota por nuances sociais delicadas e necessárias. “Refleti sobre o que poderia ser. Se eu negar isso, fica mais possível de me tornar esse cara, de esconder meus defeitos embaixo no tapete, fingir pra mim e pra todos que sou um homem de bem. Na verdade, tá tudo distorcido."
Falar sobre cancelamento foi uma necessidade, e não vontade. Em “Volta,” um dos singles do disco, Projota destrinchou os sentimentos com relação ao tribunal da internet. “Ouvi dizer que eu estava cancelado / O seu cancelamento hoje eu resolvi cancelar,” canta. O rapper sofreu ameaças em redes sociais após exposição ininterrupta na televisão.
“Vivemos no pico do cancelamento, e a tendência é diminuir. Comigo, infelizmente, aconteceu no pico,” Projota acredita. Apesar disso, a relação com o público não foi afetada negativamente. O músico encontrou suporte e atenção em quem o acompanha a mais tempo.
A Saída Está Dentro também é uma maneira de virar a página e seguir após eventos dolorosos, como na faixa “Isaías 41:10” - um agradecimento aos fãs pelo período complexo vivido pelo rapper. “Essa daqui é pra você que não chegou agora / Essa daqui é pra dizer que eu tava errado / admitir a culpa em cada merd* que já fiz” canta.
A relação com as redes sociais, antes positiva, agora tende para o equilíbrio. Projota acredita nas funções benéficas, na interação com o público, mas viu de perto o lado negativo.
É muito bom, mas pode ser muito ruim. Não sabemos lidar com a internet. Consegui usar isso muito bem, foi meu alicerce pra fazer música e chegar nas pessoas. Mas não devemos usar pra difundir ódio, especialmente num ambiente que vai longe. Seu ‘ódiozinho’ chega até a casa e família do artista.
Projota abandonou o esquema antigo de gravação, quando recebia os instrumentais de um beatmaker e acrescentava rimas para formar uma canção. A Saída Está Dentro viram composição e gravação em estúdio, experiência inédita para ele. Possibilitou sonoridades mais experimentais e desafiadoras, como guitarras presentes em “Homens de Bem,” ou arranjos intimistas de “A Garota Que Sabia Voar.”
Com Melim, Projota canta “O Ladrão de Estrelas.” A faixa possui a marca do trio de irmãos, com levadas alegres de violão. O rapper se aventurou pelas melodias de voz, deixando os versos rimados um pouco de lado. A química entre os artistas fluiu bem, segundo ele, por se conhecerem há mais tempo - uma zona de conforto para ambos.
O “feat dos sonhos” aconteceu com Nando Reis. Embora o instrumental de “Homens de Bem” estivesse pronto quando o cantor gravou a colaboração, Projota falou sobre a admiração em tom de brincadeira: “Sempre citei Nando Reis [como meta de artista para colaborar]. Zerei o game. Agora, nem sei o que faço. Parei, acabou.”
Fernandinho Beat Box, em “O Hype,” e Lourena, em “Pássaros,” completam a lista de participações de A Saída Está Dentro, mesclando experiência e juventude do hip hop e do pop brasileiro.
O rapper ouve artistas muito variados. Dentre influências para o disco e músicos ouvidos por ele, citou uma playlist de rock, principalmente dos anos 1990 e 2000, com Pearl Jam, Green Day e Linkin Park. Sobre rap, mencionou o carinho pela cena nacional, com os nomes de Xamã, Teto, Matuê, Major RD e Tz da Coronel.
Como o Slipknot foi alvo de ódio de outras bandas em sua 1ª grande turnê
SZA promete mais músicas novas logo após lançar o álbum deluxe "Lana"
Beyoncé, Kendrick Lamar e mais: Confira as músicas favoritas de Barack Obama em 2024
Teimosia: MK e Edgar buscam resgatar a essência do rap clássico em EP
Toninho Geraes se emociona durante audiência sobre plágio contra Adele; gravadora encerra reunião sem proposta de acordo
Novo clipe do Viper homenageia Pit Passarell com cenas de seu penúltimo show