Apelido inusitado para Dênis Carvalho e champanhe no sapato de Fernanda Torres foram apenas alguns dos atos do grupo de figurantes
Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 25/01/2023, às 16h50
Algumas das histórias mais malucas do rock no Brasil tiveram o envolvimento de João Gordo. Do rolê com Kurt Cobain que gerou o terrível show em São Paulo ao bate-boca com Sérgio Mallandro apaziguado pelo palhaço Bozo, o vocalista do Ratos de Porão e apresentador de TV sempre esteve envolvido em casos peculiares.
Em meio a tantas situações amplamente discutidas pelo grande público, há também histórias que não receberam os devidos holofotes. Uma delas envolveu uma participação em uma novela da TV Globo e contada com detalhes na autobiografia Viva La Vida Tosca (2016), escrita por Gordo com a ajuda do jornalista André Barcinski. O caso foi divulgado por Barcinski em sua coluna no UOL, em 2020, e recuperado recentemente pelo Whiplash.
Escrita por Janete Clair e exibida entre 1983 e 1984, a novela das dez Eu Prometo trazia em seu elenco nomes como Francisco Cuoco, Renée de Vielmond, Dina Sfat, Walmor Chagas, Marcos Paulo e Ney Latorraca. O vocalista do Ratos de Porão e outros amigos da cena punk paulistana se envolveram com a obra ao serem contratados como figurantes para um capítulo específico.
Um dia eu tava na loja de discos do Fabião, do Olho Seco, na Augusta, quando entrou um cara dizendo que trabalhava na Globo. Ele disse que era da produção da novela Eu Prometo e precisava de um grupo de punks pra fazer figuração. A gente quase bateu no cara, mas ele disse que tinha cachê, o equivalente a uns 300 reais hoje em dia, e a coisa mudou de figura.
De acordo com João, músicos conhecidos do cenário estiveram presentes na viagem, como Clemente (Inocentes) e integrantes de bandas como Cólera e Olho Seco, entre outros. Eles foram “tomando pinga e cheirando cola”, como relatado pelo músico, o que os fez chegarem “tortos” à Cidade Maravilhosa. Não à toa, promoveram uma verdadeira anarquia nos estúdios da Globo.
“Já entramos no set zoando. Exigimos que eles trocassem a bebida cenográfica, começamos a brigar com os técnicos, e o Bitão, num ataque de insanidade, passou a mão na bunda do Ney Latorraca, que ficou transtornado, dizendo inúmeras vezes: ‘meu filho, o que é isso?’. O diretor era o Dênis Carvalho. Ele foi o maior gente fina, apesar de eu passar horas chamando ele de Pênis Caralho.”
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Conforme narrado por João Gordo, a participação dele e dos amigos se dava em uma festa promovida pela personagem de Fernanda Torres, chamada Dayse. Ela era filha de Lucas Cantomaia (Francisco Cuoco), um deputado federal, e em determinada ocasião resolve fazer uma festa e convidaram alguns punks para seu apartamento.
Lembro que eu apareci bebendo champanhe no sapato da Fernanda Torres. Aquela novela me marcou porque foi a última da Janete Clair, que morreu no meio das filmagens.”
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Com a gravação encerrada, João Gordo e o grupo de punks seguiram viagem de volta para São Paulo. Pensa que a anarquia parou na volta? Que nada. O vocalista do Ratos de Porão disse que antes de caírem na estrada, ele e os amigos passaram pelo Circo Voador, casa de shows no Rio de Janeiro, onde aprontaram mais uma. Inicialmente, ele conta:
Sabe quem estava tocando lá? O Capital Inicial, com o Dinho [Ouro Preto] louro, imitando o Gang of Four. A gente achava aquilo uma merda, mas conhecíamos os caras do Napalm e ficamos pra ver o show.”
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Os integrantes do Capital Inicial tiveram, conforme definido por Gordo, uma “ideia brilhante”: pediram carona de volta para São Paulo. Deixaram no ônibus seus instrumentos, como “guitarras importadas, pratos de bateria e um baixo lindo” e saíram para jantar antes de retornarem ao veículo.
Claro que, assim que eles saíram do ônibus, nós mandamos o motorista ir embora e roubamos o equipamento todo. A gente estava na Dutra, já combinando como seria a divisão do equipamento, quando o busão foi interceptado por um táxi, que buzinava e pedia pro motorista parar no acostamento. Era o pessoal do Capital Inicial. ‘P#rra, vocês são f#da!’.”
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