Quando tentaram formar versão de direita do Rage Against the Machine

Iniciativa viralizou nas redes sociais ao trazer intenção de criar uma banda que absorvia totalmente a sonoridade e nada das letras do grupo americano

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 24/03/2023, às 20h15
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- Rage Against the Machine (Foto: Dan Kitwood / Equipe)

Rage Against the Machine é uma das bandas de rock que mais discutem política em suas letras. Com inclinação à esquerda, o grupo faz com que todas as suas músicas se tornem manifestos bem claros de suas ideias.

Por isso, é difícil imaginar que músicos de direita tenham sido influenciados pelo quarteto americano - ainda que a mensagem esteja nas letras e, obviamente, não nas melodias. Mas isso aconteceu.

No início de 2020, uma banda que se descreveu como uma espécie de Rage Against the Machine à direita política anunciou que estava em busca de um vocalista. Os músicos divulgaram a procura por um cantor em um site de classificados dos Estados Unidos, chamado Craiglist. A iniciativa, é claro, viralizou no Twitter (via Tenho Mais Discos Que Amigos).

“Banda ao estilo do Rage Against the Machine procura por vocalista. Somos a Youth of America, uma banda de orientação política conservadora e libertal. [...] Nosso conteúdo VAI se tornar viral, então, buscamos um bom frontman/frontwoman para lutar contra o pensamento progressista.”

Help these guys find members @theneedledrop pic.twitter.com/D1IcmaTS9W

— Comrade Cody (@CodyB978) January 3, 2020

O anúncio destaca ainda que cantores ou cantoras de qualquer idade, etnia ou características gerais podem ficar com a vaga. Basta estar alinhado com o propósito de “derrubar os democratas” - em referência ao Partido Democrata dos Estados Unidos, que tem ideais mais progressistas, opondo-se ao conservadorismo do Partido Republicano.

Desde que você tenha a mesma linha de pensamento e queira derrubar os democratas tanto quanto nós, mande um e-mail! Pense nos vocais do Rage Against the Machine e é isso que estamos procurando.

Será que eles se confundiram? Curiosamente, o anúncio deixa claro que os músicos sabem do posicionamento do Rage. A referência era apenas musical.

Estamos cientes de que o Rage Against the Machine é democrata/progressista, estamos fazendo o oposto! Eles são citados para ter uma ideia do estilo.

A “culpa” é de Tom Morello?

Em maio de 2019, o guitarrista do Rage Against the Machine, Tom Morello, deu uma declaração em entrevista ao HardDrive Radio (via Blabbermouth) que pode até ter servido de inspiração para os “clones de direita” de sua banda. O músico disse que o público não deveria esperar pelo retorno de seu grupo, que estava em hiato - por isso, especialmente os mais jovens deveriam considerar formar um projeto próprio e seguir espalhando a mensagem.

“Não tenho notícias sobre o Rage Against the Machine. A atualidade exige que as pessoas se levantem. É o que estou fazendo com minhas coisas, com o Prophets of Rage. Não espere pelo Rage Against the Machine. Forme sua própria banda e faça isso.”

Curiosamente, o Rage Against the Machine retomou suas atividades no fim de 2019, após um hiato que durava desde 2011. A banda realizou uma turnê pela América do Norte ano passado, mas precisou suspender novamente as atividades para que o vocalista Zack de la Rocha se recuperasse de uma lesão no pé, ocorrida durante um dos shows.

Rage Against the Machine não discordam sobre política

O Rage Against the Machine é tão notório pelos temas políticos das letras quanto pelas discordâncias internas. A banda anunciou o encerramento de suas atividades no ano 2000, após uma série de conflitos entre Zack de la Rocha e os demais integrantes - Tom Morello, o baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk. Porém, as tretas nunca eram sobre questões ideológicas.

Em entrevista de 2018 ao programa de rádio It’s Electric (via site Igor Miranda), Morello deixou claro que as discordâncias ocorriam por conta de vários outros assuntos.

Na reunião de 2007, algo que ajudou a ter camaradagem foi tirar tudo o que havia sido controverso no passado, como compor músicas, fazer entrevistas e tudo o mais. Pensávamos: ‘vamos apenas fazer shows, nos divertir e olhar um para o outro nos olhos, sem nada do passado’. Discordamos sobre muitas coisas. Mas política não é uma delas. Muitas vezes há algo em que Zack esteja liderando, ou eu, ou Tim com algum elemento não-conformista ao estilo punk rock, mas, como quarteto, nunca houve problema.
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