- Edi Rock (Foto: Leandro Godoi)
ENTREVISTA

‘Rap é minha mãe adotiva e meu pai adotivo’, diz Edi Rock, dos Racionais

Para celebrar o aniversário de 54 anos nesta sexta, 20, Edi Rock lançou Origens 3 - O Show acompanhado de um minidocumentário emocionante

Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 20/09/2024, às 07h00

No começo da noite de terça-feira, 17 de setembro de 2024, era possível ver uma fila para entrar na Matilha Cultural, centro cultural que fica na República, região central da cidade de São Paulo. Por volta das 19h, o piso inferior do local já estava cheio. O motivo? O evento de estreia do novo DVD de Edivaldo Pereira Alves, integrante dos Racionais MC’s mais conhecido como Edi Rock, intitulado Origens 3 - O Show.

Lançado pela Som Livre nesta sexta, 20, o projeto chega para encerrar uma trilogia iniciada em 2019 com Origens, disco de 14 faixas que contou com parcerias como MC Pedrinho, Xande de Pilares, Rael, Alexandre Carlo, entre outros. O segundo capítulo, intitulado Origens Parte 2 - Ontem, Hoje e Amanhã, foi lançado em outubro de 2020.

Porém, com O Show, Edi Rock optou por realizar um trabalho diferente. O projeto conta com 15 regravações com colaborações de diversos artistas, como Mano Brown e Seu Jorge, feitas em apresentação na Audio, em São Paulo, no aniversário de 53 anos do rapper, em setembro de 2023. Além disso, ele também lançou minidocumentário, dirigido por Raffa Souza e realizado pela ROC7, que conta aspectos interessantes da vida e carreira.

Em entrevista à Rolling Stone Brasil na Matilha Cultural, o artista, que completou 54 anos nesta sexta, 20, explicou como idealizou o projeto de outro jeito, mas precisou recalcular a rota após alguns problemas que teve.

Eu me recuperei, voltei aos trabalhos, meus parceiros me apoiaram muito nesse momento delicado. Resolvi fazer um show e chamar meus amigos que estiveram comigo lado a lado e registrar isso.

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Não apenas algo íntimo para Edi Rock, mas Origens 3 - O Show também é um resumo do que a música e o rap significam para ele, especialmente pela gravação ocorrer na época em que hip hop completou 50 anos de existência. 

“Dei um aniversário para mim, para meus amigos, fãs e amante do hip hop,” celebrou. “Porque eu ainda tento fazer um rap brasileiro, mesmo com toda influência da música americana. Tento filtrar e trazer ela para nossa brasilidade.”

Os três lançamentos de Origens não são puramente de Edi Rock. O projeto também é muito marcado pelas diversas colaborações, que incluem artistas além do rap, como Thiaguinho, Seu Jorge, Lauana Prado, Xande de Pilares, Alexandre Carlo, entre outros. Claro, Mano Brown, Lino Krizz, MV Bill e outros nomes do hip hop brasileiros também se destacam na carreira solo do integrante dos Racionais.

Olha só os nomes dos meus parceiros do dia a dia! Gosto das parcerias porque, ao mesmo tempo que eu crio alguma coisa diferente do que faço, também aprendo. [Isso] soma não apenas na minha carreira e daqueles que fortaleço, mas fortalece o rap. Mostro que é possível fazer de várias formas. Não tem uma regra. 

Apesar de Origens 3 - O Show não contar com canções inéditas, ele chega com um minidocumentário muito interessante, com depoimentos do próprio Edi Rock e participações de pessoas importantes da vida dele, como Dexter e Mano Brown.

Na produção audiovisual, ele ainda conta com uma pessoa muito interessante: Jorge Henrique, também conhecido como , que apresentou o cantor a KL Jay, DJ dos Racionais. “Esse minidocumentário é como se fosse um bônus, um plus,” disse. “Não vou fazer um DVD todo dia, toda hora. Não sei quando vou gravar ou ter a oportunidade de registrar outra ocasião.”

“Quis trazer um pouco dos meus pensamentos, da minha identidade, personalidade e opinião como rapper, cidadão, influenciador, professor, aluno e sobrevivente de São Paulo,” continuou. “Tenho 54 anos. Contrariamos o que diziam que seria impossível ser feito ou diziam que seria difícil ser feito.”

Ou seja, o minidocumentário traz a visão de Edi Rock, tanto sobre a vida como a arte, com momentos da rotina, amigos e curiosidades: “São detalhes que quis apresentar e eu não sei se terei outra chance.”

Edi Rock em show com Mano Brown, Dexter, KL Jay e cia. (Foto: Leandro Godoi)

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A celebração do hip hop

Criado na década de 1970, hip hop tem 51 anos atualmente. Edi Rock tem 40 de carreira, enquanto os Racionais têm 36. Ou seja, a cultura viveu mais com o cantor e o grupo do que sem.

Cara, eu estava lá no início. É como se fosse minha mãe adotiva. Ela me adotou com todo amor, então eu só retribuí. Procuro retribuir até hoje, sendo fiel ou leal. Ou meu pai adotivo, como para os caras que não tiveram pai. Para eles, o rap foi o pai. Para o [Ice] Blue, Brown, KL Jay… para mim foi minha mãe adotiva e meu pai adotivo. É um bagulho tipo Deus no céu e o rap na terra.

Por falar em Racionais, o icônico grupo de rap brasileiro trabalha no quinto disco de estúdio, sucessor de Raio X do Brasil (1993), Sobrevivendo no Inferno (1997), Nada como um Dia após o Outro Dia (2002) e Cores & Valores (2014). Anteriormente, Ice Blue e KL Jay falaram sobre o projeto. Agora, Edi Rock deu alguns detalhes.

“Trabalhamos 24×48 no disco. Então é atenção no foco. O olhar é totalmente para o disco nesse momento,” afirmou. “Vou para o estúdio todo santo dia, bater cartão e trabalhar virando noite para conseguir trazer uma qualidade boa, manter uma qualidade e fidelidade ao que o Racionais e o rap representam aos nossos fãs, amigos, nossa gangue e família. Esse vai ser um dos nossos melhores trabalhos.”

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Edi Rock além do rap

Conhecido pelos diversos trabalhos no rap, Edi Rock decidiu elaborar um projeto dentro da música que fugisse um pouco deste gênero musical. No dia 31 de agosto de 2024, ele realizou a primeira edição do Edi Rock Samba Soul, que celebra a música preta, e contou com convidados como Marcio Art, Lino Krizz e DJ Grand Master Ney.

“Eu era DJ, né? Então eu não perco essa mania de baile, de festa… eu queria trazer alguma coisa que não fosse repetitiva e apenas o rap, mas as influências de onde eu vim,” explicou. “Os anos 1990 e 1980 foram muito importante para nós. Eu queria trazer isso para relembrar, vivenciar e valorizar o que hoje nós somos. Nós só somos o que somos por conta dessa raiz.”

Quero mostrar e fazer a divulgação do que nos influenciou e direcionou. É uma reverência a essa época voltar nunca mais voltará. Nem outra vida, talvez. Acho legal fazer as pessoas viverem isso hoje, comigo.

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