Com uma integrante brasileira e uma senegalesa, Black Swan inova na representatividade no mercado de k-pop
Mariana Rodrigues (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 22/08/2021, às 10h00
Nove horas da noite no Brasil e nove horas da manhã na Coreia. Em vídeo chamada para o outro lado do mundo, a Rolling Stone Brasil conversou com as integrantes do recém-criado grupo de k-pop Black Swan. As coreanas Judy e Youngheun, a senegalesa Fatou e a brasileira Leia falaram sobre representatividade, novos projetos, prazeres e dificuldades de ser uma idol - como são chamados os artistas de k-pop.
Por serem estrangeiras, Fatou e Leia também falam inglês além das línguas nativas. Realizei as perguntas em inglês, mas Leia - empolgada em falar português - não se importou de traduzir as respostas do coreano. Depois de algumas falhas na conexão, finalmente a conversa começou a fluir. Sentadas na frente de um tablet e totalmente assessoradas pela DR Music, relembraram o início da carreira e as primeiras experiências após formação do grupo.
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Enquanto o mundo parou em 2020 por conta da pandemia de Coronavírus, os treinos e ensaios para o disco de estreia Goodbye Rania (2020) estavam a todo vapor. Era uma rotina intensa - segunda a sábado, 10h por dia. Segundo Leia, além de aprender as coreografias elaboradas, também é necessário um grande preparo físico para conseguir acertar os passos de dança sem perder fôlego na hora de cantar. Apesar de anos como trainee - Judy e Youngheun não conteram as lágrimas na hora de fazer “abertura geral” nos ensaios.
Trainees são como são chamados os jovens selecionados para audições. É uma espécie de treinamento para se tornar um idol. São aulas de dança, canto, idiomas, atuação, tudo para melhorar as habilidades artísticas e prepará-los para o debutar em um grupo - algo que, algumas vezes, pode levar anos.
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Entrar e ser bem-sucedido no universo do k-pop não é uma tarefa fácil, mas é um sonho que ainda é difícil de acreditar que se tornou realidade, pelo menos para as meninas do Black Swan. Desde pequenas, Judy, Youngheun, Leia e Fatou sonhavam com a carreira artística. Fatou aprendia as letras e ensaiava as coregrafias enquanto Leia, desde os 13 anos, participava de audições. E, para duas artistas de fora da Coreia, a situação era ainda mais complicada.
Não é apenas outro país. É outra língua, clima, costumes, pessoas e até fusos-horários. Claro, a adaptação não foi nem um pouco fácil e mesmo hoje em dia, enfrentam situações constrangedoras. Fatou relembrou o espanto ao ver como cortavam a carne utilizando uma tesoura, já Leia se envergonhou ao elogiar um diretor de um clipe tocando no ombro dele - algo mal visto na cultura coreana, a qual preza pelo respeito a pessoas mais velhas. A cantora também relembra como teve de mudar diversos hábitos comuns no Brasil, como roupas e linguajar, além da maneira como se portar.
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Apesar de se esforçarem ao máximo para “se encaixarem,” não deixaram de sofrer preconceitos por não serem coreanas. Leia explicou como chegaram a ser impedidas de entrar em um café por serem estrangeiras. Fatou lamentou preconceito e, principalmente, racismo, e disse como antes ficava muito irritada com essas situações, mas, com tempo, passou a ignorar.
No entanto, fora da Coreia, o Black Swan encontrou ainda mais apoio do que esperavam. Inclusive, a fã base brasileira é uma das maiores do mundo, principalmente por conta de Leia. A artista explicou como o fato dela sempre interagir com os fãs e traduzir as mensagens para as outras integrantes contribuiu para que o grupo recebesse muito amor e carinho do público do Brasil.
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E essa relação é o que mais as motiva a continuarem se empenhando e dando tudo de si em cada um dos projetos. Leia comentou como estão trabalhando em uma nova canção e está simplesmente incrível. Para garantir que tudo esteja perfeito até o lançamento, as garotas seguem uma rotina de ensaios praticamente sem descansos.
Primeiramente há um time de compositores e produtores para trabalhar na música - Fatou também faz parte, pois a senegalesa compõe os próprios versos de rap. Em seguida, quando a canção está pronta é hora de procurar coreógrafos. Elas enviam o projeto para diversos profissionais e escolhem aquele que mais combina com o estilo do Black Swan. Daqui para frente é muito treino, paciência e dedicação para transformar a ideia do papel em realidade.
As meninas comentam como essa foi uma das principais alterações na vida após entrarem para o grupo. Foram mudanças de cidade, na rotina, no jeito de se vestir e até agir. Mas algo que nenhuma delas voltaria atrás - muito pelo contrário, a empolgação em falar dos novos projetos e de tudo que querem conquistar no futuro - como vir ao Brasil - é visível. Apesar de serem um grupo relativamente novo, se depender da garra dessas meninas, o Black Swan tem tudo para se tornar um dos grandes nomes do k-pop.
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