O cantor e compositor pernambucano transformou o projeto Frevália — que toca desde 2016 — em um disco com releituras e novas canções do ritmo
Pedro Figueiredo (@fedropigueiredo)
Publicado em 13/06/2024, às 17h31O frevo é pop! Pelo menos se depender de Romero Ferro. O cantor e compositor, nascido em Garanhuns–PE, lançou no final de maio o álbum Frevália (2024). O disco, que celebra o gênero musical pernambucano, é uma extensão de um projeto que o artista musical desenvolve desde 2016.
Em conversa com a Rolling Stone Brasil, Romero confessa que fazer um trabalho como esse é um ponto fora da curva para o mercado musical de forma geral, "mas eu sou da terra do frevo, sou pernambucano. Cresci ouvindo isso e essa era uma vontade que eu tinha há muito tempo," confessa.
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Um dos principais objetivos do artista é fazer com que as pessoas parem de achar que o frevo é um ritmo restrito ao período de carnaval. Por isso, há oito anos, o cantor começou a fazer o Frevália na rua, trazendo o gênero para uma roupagem "mais fresca," aliando a outros ritmos — como o que podemos conferir no álbum.
Romero dividiu o lançamento do disco em duas partes, a primeira no início de fevereiro e a segunda no final de maio. A estratégia por trás disso é justamente fazer com que frevo se perpetuasse para além do carnaval. "Hoje eu escuto o álbum do jeito que ele está, e percebo que faz muito sentido isso."
Não há motivos para colocarmos o frevo dessa caixinha, mas é uma questão estrutural, musical e social Fala-se sobre tocar o ano inteiro, mas não escutamos o ano inteiro.
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O artista quer somar sua voz ao movimento, já defendido por instituições como o Museu do Paço do Frevo em Recife, como bem lembrado por Romero. "Eles também batem nessa tecla," relata. Ele também lembra que há artistas compondo e levando o ritmo adiante, por isso também trouxe o ritmo para o seu universo, com um projeto assinado por ele.
O questionamento que passa na minha cabeça é: há uns quatro anos eu faço o Galo da madrugada lá em Recife. É um bloco para três, quatro milhões de pessoas que toca 90% de frevo. Olho para aquilo e penso 'como alguém não acha esse ritmo pop?'
Romero classifica o trabalho como político e, por isso, escolheu para abrir o disco uma faixa chamada "Não Deixe o Frevo Morrer (Frevália)." Ele diz que a canção é um chamado para que as pessoas se atentem para a importância do gênero musical. "Mas eu sei que é um processo."
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Frevália começou a ser produzido efetivamente em outubro do ano passado. Inicialmente o lançamento seria de um EP com três faixas, "mas eu senti que o processo estava caminhando bem pra caramba, tudo dando muito certo." Uma prova disso é que não houve nenhuma ideia descartada ao longo da produção. Tudo que foi pensado está no disco.
"Quando eu senti essa fluidez energética, pensei 'é a hora de apostar nisso e de fazer um álbum inteiro'." O vasto repertório do cantor com músicas de frevo ajudou. Mas selecionar apenas 10 faixas dentre clássicos do gênero e canções de novos compositores não foi uma tarefa fácil. "Espero que a gente tenha volume dois, volume três e eu possa colocar mais coisas nele — e compor também."
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Seis das canções são novas. Dessas, três foram feitas exclusivamente para o álbum. A primeira, que conta com Bixarte e Orquestra 100% Mulher foi "Bloco da Paixão," de Romero e Joyce Alane, "Tudo em você é tão bom," escrita por Ferro em parceria com Duda Brack e Juliano Holanda e gravada com Maestro Spok. E a música que abre o álbum, feita com Luccas Maia — produtor de nove faixas do disco.
"Por ter deixado esse projeto maturar bastante na minha cabeça, eu já estava muito direcionado com os experimentos que a gente estava querendo fazer. Então foi um processo muito fluido," sintetiza Romero.
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As participações no disco são um dos aspectos mais impressionantes do projeto. Romero uniu no mesmo álbum nomes como Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Rodrigo Alarcon, Bixarte, Orquestra 100% Mulher, Lia de Itamaracá, Maestro Spok, Daniela Mercury, Mart'nália e Clarice Falcão.
Ele conta que foi convidando as pessoas, "inclusive eu convidei até um pouco mais do que eu deveria," revela. Alguns dos convites foram remanejados para as próximas edições do projeto. Mas nesse, entrou quem respondeu primeiro.
A primeira pessoa que respondeu foi Daniela. Mandei a mpusica para ela numa segunda, quinta ela disse: 'topo, vamos fazer. Semana que vem, pode ser?' Foi a primeira faixa a ficar pronta.
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Romero e Clarice já tinham cantado uma versão de "Irônico" - canção lançada originalmente no disco Problema Meu (2016), da artista. "Queria que a gente repetisse essa dose, porque é uma música dela que faz super sentido estar nesse contexto de frevo." O arranjo de trompetes ficou por conta de Maestro Forró.
"Tanto Clarice, quanto Gaby e Fafá, são artistas que tem uma conexão direta com o frevo. Clarice é pernambucana. Daniela também, já lançou vários frevos," explica. Ele também quis trazer novos nomes para essa mistura, como Alarcon e Bixarte. "Eu sou fã dos dois e eles toparam de primeira, ficou lindo."
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A faixa que encerra o disco, "Em Plena Lua de Mel," é um dos clássicos de Reginaldo Rossi que fala sobre uma mulher que trai o marido. Na versão de Frevália, a canção ganha os vocais potentes de Gaby Amarantos contando o outro lado da história.
Romero conta que já queria gravar a faixa há algum tempo e que, originalmente, o single estaria descolado do projeto. "Mas quando produzimos, imediatamente pensei que tinha que ser Gaby para gravar essa música," relembra.
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A faixa foi produzida por Baka de Kai, Dedé Santa Klaus e Cido, do trio MGDZ. "Ela topou, e eu pensei que deveríamos dar uma refrescada na letra, porque ela foi composta há muito tempo e lançada dentro de outro contexto," explica Romero, que queria homenagear Reginaldo e mostrar um olhar mais atual para a música.
Ele e Gaby compuseram a segunda parte. Toda a releitura foi conversada com a família do músico, quem fez a ponte foi Roberto Rossi, filho dele. A faixa concorreu a melhor canção popular no Prêmio da Música Brasileira 2024.
Romero tem uma preocupação também em fazer com que o projeto, além de levar o frevo adiante, faça com que outras pessoas - especialmente gerações mais jovens - conheçam os grandes clássicos do gênero. "É o ponto principal de tudo. Levar o frevo para mais pessoas."
Ele conta que se viu desafiado a fazer algo que mesclasse sonoridades para que cada vez mais pessoas ouvissem. "Quando chamei Fafá, disse que iríamos misturar frevo com o tecnomelody: 'vamos fazer um tecno frevo.'" Ele conta que a artista abraçou a ideia e essa é uma forma de fazer o ritmo ecoar mais longe.
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"Esse projeto vem para cutucar," confessa o artista que, não só levanta uma bandeira, mas questiona ausência de um ritmo fundamentalmente brasileiro em playlists de plataformas de streaming e fora do que é considerado pop.
Romero se une a um movimento de recuperar ritmos antes ignorados - como temos visto com o brega e o forró, por exemplo — a partir de uma nova roupagem e releituras interessantes, sem perder o DNA do ritmo. O cantor ainda pretende levar a ideia mais longe com um festival que deve passar por diversas partes do país e ressalta que quer outros artistas também cantando frevo: "vou ficar muito feliz!" Nós também.
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