Jon George, tecladista, explica como Rüfüs du Sol se redescobriu desde a última passagem ao país - e como o novo disco e Grammy devem refletir no palco
Redação Publicado em 14/05/2022, às 15h34
"Eu diria que há um novo brilho". É essa a principal diferença que Jon George, tecladista do Rüfüs du Sol aponta para a banda, desde sua última passagem pelo Brasil, em 2019. Quem conferir a principal apresentação do MITA Festival neste sábado (14), deverá ver uma banda mais unida, mais coesa e mais "divertida", nas palavras de Jon - resultado de um novo disco, Surrender, lançado em 2021, mas também, é claro, da conquista de seu primeiro Grammy, como Melhor Gravação Dance, por "Alive".
"Nosso single 'Alive' entregou logo a primeira peça desse quebra-cabeça. Como se disséssemos 'sim, foi um período obscuro e coisas terríveis aconteceram, mas ao menos estamos vivos'. Foi assim que chegamos a essa faixa. O resto do disco foi uma sequência", contou o músico, já hospedado em São Paulo, em entrevista para a Rolling Stone Brasil.
Com franqueza rara na indústria, Jon é categórico ao dizer que, apesar de terem curtido a passagem pelo Brasil em 2019, para o Lollapalooza, o grupo estava em um momento de cansaço, exaustão e desunião. Nesse sentido, ele conta, a pandemia veio como uma oportunidade para ele e seus parceiros, Tyrone Lindqvist e James Hunt, se reconectarem, entre si e à música que produzem.
"Da última vez que viemos ao Brasil, por exemplo, estávamos muito cansados, exaustos, não estávamos nos conectando como amigos. Com a pandemia conseguimos nos aproximar e solidificar algo vinha se perdendo nos últimos 10 anos."
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Durante o processo de composição, o grupo isolou-se em Joshua Tree, parque nos arredores de Los Angeles, um cenário que ajudou o trio a ambientar o novo álbum. E também a reconstruir uma relação entre si - "Quando o álbum ficou pronto, estávamos reconectamos como amigos", diz, "isso foi muito especial para nós".
Com a chegada de 2022, o álbum Surrender acabou rendendo ao Rüfüs du Sol (à época já confirmado no MITA Festival) sua primeira vitória no Grammy, algo que Jon define como "surreal". "Nós já havíamos sido indicado ao Grammy duas vezes, então conhecíamos a sensação de perder um Grammy, estávamos preparados para isso. Mas quando ganhamos foi o sentimento mais surreal do mundo", conta.
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O novo álbum, a vitória no Grammy e essa redescoberta do grupo por si próprio, além das impressões de Jon sobre o Brasil, são tema da conversa da Rolling Stone Brasil com o Rüfüs du Sol, headliner do MITA Festival que sobe ao palco em São Paulo neste sábado (14). No Rio, o trio encerra a programação do festival no dia 22, próximo domingo. Confira a conversa na íntegra abaixo:
Jon George: 2019 foi nossa primeira vez no Brasil e, para ser sincero, foi um ótimo começo. Nós não sabíamos o que esperar e quando chegamos tinha gente esperando por nós no aeroporto. Toda a conexão com os fãs foi boa, na verdade. Queremos voltar sempre que possível.
Jon George: A maior vantagem do que fazemos é viajar e tocar. Nós curtimos gravar no estúdio, mas quando estamos no palco temos uma sensação de conexão, de estarmos com os fãs e curtirmos juntos. É uma parte enorme do Rüfüs du Sol e foi muito especial ver mais de 10 mil pessoas respondendo a nós da forma como responderam no Brasil.
Jon George: A composição de Surrender aconteceu toda na pandemia e eu não acho que tenha sido ruim. Nós precisávamos nos entregar, nos rendermos ao processo. Da última vez que viemos ao Brasil, por exemplo, estávamos muito cansados, exaustos, não estávamos nos conectando como amigos. Com a pandemia conseguimos nos aproximar e solidificar algo vinha se perdendo nos últimos 10 anos. Quando o álbum ficou pronto, estávamos reconectamos como amigos e isso foi muito especial para nós. Sem entregar muito, nós fizemos muito mais que um álbum. Hoje somos muito mais autênticos, representamos as pessoas que queremos ser, fazemos a música que queremos fazer e redescobrimos nosso amor pela música durante esse processo.
Jon George: Não posso te contar nada ainda [risos]. Só digo que temos muito mais do que lançamos. Temos mais músicas e estamos muito animados com o que escrevemos. Mesmo após a pior parte da pandemia, conseguimos fazer muita coisa, mudamos para Los Angeles, fizemos shows em estádios, ganhamos o Grammy... muitas coisas que nos deixam animados. No estúdio, acabamos nos divertindo mais, conseguimos aproveitar mais do processo de escrita... mas é isso, não vou falar mais, sem exclusiva pra você [risos].
Jon George: Nosso single "Alive" entregou logo a primeira peça desse quebra-cabeça. Como se disséssemos "sim, foi um período obscuro e coisas terríveis aconteceram, mas ao menos estamos vivos". Foi assim que chegamos a essa faixa. O resto do disco foi uma sequência. Incluímos um coral infantil no disco, que soa meio dramático, mas evocou certa inocência no álbum, deixou ele um pouco mais lúdico. Estávamos nesse espaço pesado, de escuridão, mas conseguimos imprimir luz neste álbum. No fim das contas, nós entregamos nossas fraquezas, nossas vulnerabilidades, mas também o que nos tem animado no momento. Foi isso que inspirou a composição.
Jon George: Nós estamos mais amigáveis... eu diria que há um novo brilho. Estamos curtindo a banda. Nós fazemos isso há 12 anos agora, é fácil virar uma rotina. Quando viemos ao Brasil em 2019 foi ótimo, mas agora tivemos uma virada na banda, que foi a animação: estamos animados em fazer o que fazemos, estamos renovados, não estamos mais esgotados pelo processo, amamos o que fazemos. Chegamos em São Paulo há alguns dias agora e amamos a energia daqui. É animador! Gente chegando para nós, dizendo que estão ansiosos por nos ver no palco, isso é muito legal, esse lugar onde estamos com a banda, receber e dar amor. E o Brasil é um lugar perfeito para isso.
Jon George: Foi surreal! Nós já havíamos sido indicado ao Grammy duas vezes, então conhecíamos a sensação de perder um Grammy, estávamos preparados para isso. Mas quando ganhamos foi o sentimento mais surreal do mundo. Poucos artistas australianos ganharam esse prêmio, poucos fizeram o sucesso que fazemos na América, na América do Sul e no restante do mundo, então foi surreal. Ali entendemos que estávamos deixando nossa marca no mundo. Aquele dia todo [do Grammy], foi muito emocionante por conta desse reconhecimento.
Jon George: Para nós, a escolha de um local de gravação é muito importante. Gravamos nosso primeiro disco em Byron Bay, eu tinha acabado de comprar uma casa ali, naquela cidade mais tranquila, na costa da Austrália. Depois mudamos para outros lugares, ainda na Austrália e quando conseguimos deixar o país, gravamos em Berlim, em Londres e agora em Los Angeles.
Todos esses locais têm seu papel, uma influência em nossa música. Nossos últimos dois discos foram gravados em L.A. Por lá fizemos em excursões a Joshua Tree, que é essa paisagem impressionante nos arredores da cidade, que acabou nos influenciando. Parecia que estávamos em Marte ou em outro planeta completamente diferente.
Quando falamos do projeto em si, a intenção do Rüfüs du Sol é levar o público para um planeta completamente diferente onde você se perca, levar o público para fora da Terra. Joshua Tree é um exemplo de espaço onde pudemos experimentar um horizonte vasto, diferentes texturas, novas sensações, a poeira alaranjada, as estrelas... e isso reflete na música.
Jon George: Na última vez que viemos, nós conhecemos o Vintage Culture - ele foi um grande aliado para trazer nossa banda e foi bom conhecê-lo, vê-lo tocar. Mas além disso, foi um ambiente tão acolhedor, e nós sentimos isso - e estamos muito animados em voltar, passar por isso de novo, dessa vez por uma semana. Estamos particularmente interessados nos restaurantes, na culinária, em conhecer os sabores do Brasil [risos].
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