Admiradora da música brasileira, Samara Joy dispensa elitismo no jazz e aposta na juventude
Dimitrius Vlahos (@dimitriusvlahos) Publicado em 29/06/2023, às 11h05
Samara Joy fez sua estreia em solo brasileiro no C6 Fest, que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro em maio deste ano. Com um dos shows mais disputados do Auditório Ibirapuera, a jovem cantora de 23 anos mostrou que o jazz ainda tem o seu público, mas pode encantar ainda mais gente.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil no backstage do festival, Samara refletiu sobre sua (ainda curta, mas bastante elogiada) carreira, a primeira vinda à América do Sul, e a descoberta da bossa nova. “É maravilhoso que as pessoas me apoiem. Sou muito grata por gostarem do que eu faço,” afirmou.
Durante o show, a artista até cantou em português, homenageando alguns dos compositores e intérpretes que marcaram a sua formação musical. “Chega de Saudade,” de João Gilberto, e “Flor de Lis,” de Djavan, fizeram parte do setlist: “Eu encontrei a música brasileira meio tarde. Eu estava na escola, e uma das matérias que precisávamos estudar era a música brasileira. Durou seis meses ou um ano. Toda semana, [aprendíamos] uma música nova. Essa foi minha introdução a esse mundo: tocando com os meus colegas, ouvindo as faixas de novo, de novo e de novo, tentando reproduzir os fraseados no tom. Foi muito intrigante. Eu trago isso comigo. No fim, nunca é tarde para algo.”
Samara Joy também demorou a encontrar o jazz, mas encara o fato como um indicativo de que outros jovens podem se aproximar do gênero. Dispensando a aura elitista que se apossou das músicas marcadas por harmonias inventivas e improvisos cheios de reviravoltas, a artista clamou: “As pessoas não precisam passar em uma prova para dizer que gostam de jazz ou ter muito dinheiro [risos]. É acessível. Também há muitos comentários do tipo: ‘Precisamos salvar o jazz…’ Apenas mostre a música às pessoas, leve instrumentos às escolas, convide para um show… apenas mostre que está lá.”
Confira a entrevista completa de Samara Joy à Rolling Stone Brasil:
Rolling Stone Brasil: Como foi tocar no Rio de Janeiro?
Foi muito, muito legal. Fiquei muito feliz em estar aqui [risos]. Quando chegamos ao Rio de Janeiro… tocar lá foi incrível. Eu amei a energia.
Aos 23 anos de idade, como se sente tendo conquistado uma boa base de fãs no país?
É muito doido! Eu nunca imaginei que seria capaz de dizer isso sobre mim tão cedo. É maravilhoso que as pessoas me apoiem. Sou muito grata por gostarem do que eu faço.
Queria que falasse um pouco mais sobre a sua relação com a música brasileira. O que sente ao tocar no país que originou algumas de suas inspirações?
É maluco pensar nisso. Eu encontrei a música brasileira meio tarde. Eu estava na escola, e uma das matérias que precisávamos estudar era a música brasileira. Durou seis meses ou um ano, nós aprendíamos canções brasileiras. Toda semana, uma música nova. Essa foi minha introdução a esse mundo: tocando com os meus colegas, ouvindo as faixas de novo, de novo e de novo, tentando reproduzir os fraseados no tom. Foi muito intrigante. Eu trago isso comigo. No fim, nunca é tarde para algo [risos].
Como é ver o jazz, que você também afirmou ter descoberto “tarde,” chegando ao ouvido de outros jovens a partir da sua música? É estranho?
É estranho, definitivamente, mas é encorajador. As pessoas falam tanto que o jazz “está morto, é música velha, blá, blá, blá…” e eu não acredito. Se eu ouvi quando tinha 18 anos e amei, isso significa que ainda há um público para o gênero. As pessoas não precisam passar em uma prova para dizer que gostam de jazz ou ter muito dinheiro [risos]. É acessível. Também há muitos comentários do tipo: “Precisamos salvar o jazz…” Apenas mostre a música às pessoas, leve instrumentos às escolas, convide para um show… apenas mostre que está lá. Com as redes sociais, todos têm contato com muitos tipos de música, o que eu acho incrível, mas nem sempre o jazz faz parte disso, as pessoas não lembram dele. Às vezes, é simples assim, nem todo mundo conhece. É legal que as pessoas ouçam minha música e percebam isso.
Você é uma voz importante para essa geração do jazz.
Sou apenas uma delas.
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