Estreia do vocalista em estúdio se deu em projeto inusitado, com uma forcinha dos produtores, um deles seu primo
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 26/07/2024, às 10h33Com mais de 40 anos de carreira, Jon Bon Jovi hoje acumula mais de 120 milhões de discos vendidos, além de uma série de turnês com shows lotados em estádios de todo o planeta e várias outras marcas expressivas. Porém, o cantor precisou começar de algum lugar.
E o primeiro álbum do qual participou mostra que seu início não teve qualquer glamour, apesar da “ajudinha” familiar. Nada de megahits ou hard rock com a típica pegada pop: antes da estreia homônima da banda Bon Jovi, o frontman esteve em um disco de canções de Natal com a temática do universo de Star Wars, muito em alta na época.
A história foi relembrada pelo próprio artista em participação no programa Jimmy Kimmel Live! (via BraveWords). Chamado Christmas in the Stars: Star Wars Christmas Album, o álbum veio na esteira do segundo filme da saga — que na verdade é o episódio 5 —, O Império Contra-Ataca. Ambos são de 1980.
Jon foi creditado na época como John Bongiovi, seu nome escrito na forma original. Ele trabalhava no estúdio do primo, Tony Bongiovi, quando o convite surgiu, conforme se recorda:
Eu era um ‘faz-tudo’ em um estúdio de gravação do outono de 1980 até 1983, quando fizemos o primeiro disco. E tinha um cara chamado Meco Monardo fazendo esse tipo de álbuns tributo, se aproveitando da loucura de Star Wars. Ele fingia ser um jovem garoto cantando, o que soava como um cara velho fingindo parecer um jovem garoto cantando. E ele apontou para mim um dia e disse: ‘garoto, você consegue cantar?’. E eu disse que sim, achava que podia. Ele disse: ‘vá lá e se quiser fazer, paga 183 dólares’.”
Kimmel aproveitou a ocasião para perguntar se Jon lembrava o nome da música em que participou ao lado de um coral infantil. Na resposta, o vocalista mostrou que a memória segue ótima:
“Era para cantar em uma música chamada ‘R2D2 We Wish You A Merry Christmas’.”
Christmas in the Stars: Star Wars Christmas Album foi o segundo álbum do produtor Meco Monardo ambientado no universo criado por George Lucas. O profissional de estúdio havia lançado em 1977 o disco Star Wars and Other Galactic Funk, com temática do primeiro longa da saga — o episódio 4, Uma Nova Esperança. Houve ainda um EP no início de 1980 e outras obras relacionadas a Superman (1978) e O Mágico de Oz (1939).
Para o álbum de Natal, Meco contou com a participação do ator Anthony Daniels, reprisando seu papel como o droide C-3PO dos filmes. Trata-se, curiosamente, de um disco conceitual, com canções ambientadas em uma fábrica de droides que produzia brinquedos para que o Papai Noel entregasse às crianças de toda a galáxia.
O conceito e as letras são de autoria de Maury Yeston, que futuramente se tornaria um dos compositores mais celebrados da Broadway. Mas havia outra pessoa importante envolvida no trabalho: o coprodutor Tony Bongiovi, dono do estúdio Power Station e primo do jovem Jon.
À época, o profissional de estúdio já havia trabalhado com Ramones, Talking Heads, Ace Frehley, Gloria Gaynor, entre outros nomes de destaque. Em entrevista à CBC, ele contou que deu uma forcinha para Jon, como tentava fazer sempre que podia:
Eu sabia que (o álbum) ia vender bem. Então ele cantou nele. Se você tem um hit, então você pode voltar e dizer: ‘ei, esse álbum é um hit, vamos voltar lá e assinar com ele’... mas foi assim que ele acabou cantando naquela faixa.”
O palpite de Tony Bongiovi não se mostrou verdadeiro, mas não por culpa dele. O selo RSO Records, responsável pela distribuição do álbum, faliu logo antes do lançamento. Dessa forma, Christmas in the Stars: Star Wars Christmas Album ficou limitado a uma tiragem de 150 mil cópias — número baixo para a época.
Além de cantar na música do droide R2D2, composta por Meco, Jon Bon Jovi também participou da composição de outra faixa do disco, “The Odds Against Christmas”. Quem afirma é Maury Yeston, que brincou a respeito do envolvimento do vocalista dizendo: “Eu sempre pensei que não sou o único que poderia ser chantageado com esse álbum”.
Colaborou: André Luiz Fernandes.