Com dance pop e versos rápidos, "Space Party" expande as fronteiras de projeto do músico inglês Pedro Balañá: "Ainda é muito cedo, mas estamos ganhando mais e mais tração"
Eduardo do Valle (@duduvalle)
Publicado em 04/07/2024, às 10h46Pedro Balañá, o The Boy From the South, atende de Barcelona. Está em casa, em uma delas, após um mês dividido entre Países Baixos, Alemanha, Portugal e Inglaterra, seu outro endereço. Na entrevista, responde em inglês, em espanhol e em português. Percorre o folk, o pop e o dance que marcaram as fases de sua música. E cita ídolos, colegas e amigos do Brasil, em referências que se confundem entre si. Do sul de Londres, de onde saiu, o rapaz parece agora estar em todo lugar.
E de fato está: desde que assinou com a agência londrina ITB, em dezembro de 2023, o músico inglês viu as fronteiras de sua carreira aumentarem. Um passo além para a carreira que, desde 2020, já experimentou suas próprias mudanças estéticas: do folk acústico e melódico do início da carreira, o cantor passou a experimentações mais pop em singles posteriores, como "Little Room" e "Man-Down".
O drop mais recente, "Space Party", lançado em maio de 2024, levou Pedro a um infinito além - com produção de Brett Shaw (que soma trabalhos com Foals e Florence and the Machine), a faixa ganhou projeção internacional, levando seu versos rápidos a ondas do outro lado do Atlântico: "A música tem algumas semanas, estreou na Times Square, escolhida pela CBS, o que foi muito legal, e agora está tocando nas rádios - toca a todo momento na KCRW e acho que no Brasil já tocou na Eldorado algumas vezes."
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O Brasil, aliás, é assunto comum a Pedro, que passou por aqui no último mês de outubro, com direito a show em São Paulo. Para além das referências - que vão de Jorge Ben Jor a Marcos Valle - The Boy From The South é rápido ao citar amigos daqui: do parceiro de palco ao amigo da rádio, passando pelos bares e festas que conheceu, ele garante que o país tropical tem lugar especial no coração do sul de Londres. E garante que quer voltar, "nem que seja para passar em rádios, fazer um show acústico, zero grana". "A vibe é incrível, as festas são do c*ralho, as pessoas festam o tempo todo, eu amo o Brasil."
Enquanto não confirma se volta logo ao país, The Boy From the South antecipa mais datas pela Europa e uma possível passagem pela América Latina - talvez México e Colômbia, que o sugere uma esticada ao Brasil. Só não garante a vinda, pois tem compromisso marcado em casa: em novembro, ele faz a maior apresentação de sua carreira até agora, abrindo para Sean Koch na O2 Academy Islington, em Londres. "É enorme para nós".
Em voo ascendente, Pedro retorna os pés no chão quando o assunto é a pressão por um novo álbum. "A indústria está se abrindo para nós - lentamente, mas estamos crescendo todo dia. O que eu não quero fazer é estourar sem ter as músicas. E detesto gravar com pressão, o som nunca fica igual", conta. "Ainda é muito cedo, mas estamos ganhando mais e mais tração, estamos felizes com isso".
Rolling Stone Brasil: Ano passado você passou pelo Brasil. Como foi? Foi sua primeira vez por aqui?
The Boy From the South: Foi incrível! Eu já tinha visitado o país com a família, minha irmã viveu em Ribeirão Preto, fez intercâmbio lá, então conheci São Paulo, Rio, Bahia e Foz do Iguaçu. Dessa vez fui para tocar, passei sete dias em São Paulo. Foi demais! Conheci todo mundo, os caras da Rádio Rock, da Eldorado, toquei com Moreno Veloso, toquei no Bar Alto com o Lucio Ribeiro do Popload, a turma toda. Eu amo o Brasil, é um país legal demais, a vibe é incrível, as festas são do c*ralho, as pessoas festam o tempo todo, eu amo.
Rolling Stone Brasil: E agora você começou uma turnê pela Europa, né? Queria que contasse dela, e saber se pretende vir com ela ao Brasil.
The Boy From the South: Ano passado nós assinamos com uma grande agência no Reino Unido, que atende gente como Bob Dylan, Neil Young e Maneskin. Então esse ano, começamos a ter a oportunidade de fazer uns shows muito legais. Vamos tocar na O2 Academy Islington em Londres em novembro, o que é algo enorme para nós, vamos ter um festival de uma rádio em Berlim, devemos passar em Dublin, Amsterdã, Lisboa, Liverpool... e queria ir ao Brasil! Ainda hoje tive uma reunião porque nos ofereceram México e Bogotá. Então outubro é o mês que estou guardando para a América do Sul. Eu quero ir ao Brasil, 100%, nem que seja para passar em rádios, fazer um show acústico, zero grana... tem um rolê chamado Tranquilo, você deve conhecer, eles estão mandando bem demais em São Paulo. Nós tocamos com eles e tinham 600, 700 pessoas, eu fiquei "que p*rra é essa...?" Uma baita plataforma de música agora. Então, sim, adoraria ir - dane-se, vamos nessa!
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Rolling Stone Brasil: Sua turnê saiu junto com "Space Party", música e vídeo que têm sido bastante celebrados - é segue virada boa para seu som. De onde ela saiu?
The Boy From the South: Obrigado! Eu fui muito ambicioso nesse vídeo, tivemos de fazer duas house parties para pagar, porque gastamos uma nota nele - mesmo que tenha contado com favores de amigos que são super profissionais... A música tem algumas semanas, estreou na Times Square, escolhida pela CBS, o que foi muito legal, e agora está tocando nas rádios - toca a todo momento na KCRW e acho que no Brasil já tocou na Eldorado algumas vezes. Então ainda é muito cedo, mas estamos ganhando mais e mais tração, estamos felizes com isso.
Rolling Stone Brasil: Como você trabalha suas composições hoje?
The Boy From the South: Tenho trabalhado em parceria com meu produtor Brett Shaw, em Londres. Ele já trabalhiou com Foals e com Florence and the Machine. E o que fazemos no momento é ouvir vários samples, pra ver se gostamos da música. Algumas vezes, a música vem com guitarra - com "Space Party" foi assim, uns acordes de guitarra e o riff principal inspirado por outra música, de uma banda chamada Jungle, que eu adoro. Aí fazemos a música inteira e só então entro com a letra, porque é mais fácil assim. Com "Space Party" tiramos a música super rápido, o beat, as cordas, pianos e tudo o mais. O mais difícil foi a letra - é um rap veloz, então são muitas palavras, sentença atrás de sentença. Então isso tomou certo tempo.
Rolling Stone Brasil: E como você acha que sua música, seu processo, mudou desde que começou a lançar suas faixas, em 2020?
The Boy From the South: Acho que mudou muito. Quando comecei minha música era mais no violão. E eu não sabia nada sobre nada - tinha outro trabalho, então era basicamente eu com meu computador, gravando um violão, que era a única coisa que eu tinha, sabe...?
Rolling Stone Brasil: Com que trabalhava antes?
The Boy From the South: Eu trabalhava em uma companhia de tecnologia, um lance de San Francisco. Então o que é engraçado é que, quando trabalhava lá, costumava tocar violão o tempo todo, e agora que eu comecei a lançar minhas músicas, eu mal tenho tempo de tocar meu violão, sabe?
Rolling Stone Brasil: E o que aconteceu de lá pra cá?
The Boy From the South: Aconteceu que eu sempre ouvi muita música. Amo rap, eletrônico... em meu telefone tenho uma lista imensa de samples que gostaria de trazer de músicas que eu adoro - tem muita coisa brasileira, tem o KAYTRANADA por exemplo, que tá sempre sampleando coisas do Brasil, como Marcos Valle, Jorge Ben Jor e toda essa turma. Tenho ouvido muitos artistas brasileiros, aliás. Gosto de um artista chamado batata boy. E ainda de outro brasileiro, Bruno Berle, ando obcecado, ele é um gênio, top quality. Uma das coisas boas - uma das poucas coisas boas que o Spotify faz é isso, é muito fácil de descobrir música. Tenho descoberto música o tempo todo, seja o que for, música aleatória, música famosa, música de diferentes idiomas. E o que eu faço mais hoje é isso, samplear música. Ainda trago guitarras, porque eu amo violão, mas mais como adição de melodia, menos como o ritmo da coisa toda.
Rolling Stone Brasil: Você fala em sample e é comum ouvir por aí que suas músicas remetem a Beck - é uma associação intencional? Porque tive a impressão de ouvir um sample de "Devils Haircut" em um single...
The Boy From the South: [risos] É engraçado, porque eu nunca disse isso sobre Beck, mas as pessoas vivem dizendo isso pra nós a todo o tempo. Teve esse evento que fiz com a BBC6 Music em outubro, e eles disseram: "nossa, seu som parece muito com o do Beck". E quanto mais mandamos as músicas para as pessoas, mais elas comentam, "Beck, Beck, Beck..." e eu amo Beck, obviamente! O que eu gosto mais sobre ele é que tem músicas mais famosas como "Loser" ou "E-Pro", que são mais rock, outras que são puro rap, e então há o álbum Colors com as faixas "Dreams" ou "Dear Life", que são super pop. Então o que é legal sobre o Beck é que ele nunca se repete. E eu curto outras bandas, como o Real Estate, por exemplo - eles são uma de minhas bandas favoritas, sou fã desde muito novo e cheguei a conhecê-los este ano. Mas eles sempre soam parecido. E isso é demais! Mas eu tento mudar mais - o Beck muda muito, o Damon Albarn muda muito o tempo todo. Mesmo o Arctic Monkeys, eles foram de puro indie para colocar um pé no jazz/soul recentemente... isso causa uma dúvida, porque explorar um mesmo estilo, como os Strokes fazem, por exemplo, pode render um sucesso enorme. Mas é muito mais interessante tentar fazer coisas diferentes - pelo menos na minha opinião.
Rolling Stone Brasil: E é assim que chegamos ao dance pop de "Space Party", essa vontade de mudar?
The Boy From the South: Claramente eu não tenho um plano para essa mudança, mas acho que "Space Party" é mais dance, abre caminho para isso, sim. Acho que foi com "Little Room" que começamos a pensar nessa coisa dance, a samplear músicas... e "Space Party" para mim é o irmão mais velho de "Little Room", uma evolução. É muito mais dance, 80% dela é sampleada - exceto, claro, por minha voz ou pelo piano. Espero que a gente dê ainda mais um passo além, faça um irmão mais velho para "Space Party", sabe? Tenho ainda duas ou três músicas na mesma linha para sair ainda esse ano. Elas têm a mesma vibe. Agora não vejo outra mudança para breve - tenho a sonoridade que gosto para tudo. Então estou super feliz.
Rolling Stone Brasil: Com isso em mente, devemos esperar um álbum para breve?
The Boy From the South: Não ainda. Estou gravando um álbum para mim. Porque agora estamos ganhando um hype, a indústria está se abrindo para nós - lentamente, mas estamos crescendo todo dia. O que eu não quero fazer é estourar sem ter as músicas. E detesto gravar com pressão, o som nunca fica igual. O que estou fazendo é indo ao estúdio de vez em quando só para ir resolvendo as coisas. Tenho pilhas de músicas parecidas que posso incluir em um álbum, algum dia, talvez. Mas não esse ano, talvez no próximo. Se alguém quiser ouvir mais músicas, apenas mande um e-mail e eu lhes envio mil demos, isso não é um problema [risos].
Rolling Stone Brasil: Hoje você mora em Barcelona, sim? Ou em Londres?
The Boy From the South: Estou entre Barcelona e Londres. Sempre fico muito no Reino Unido, mas tenho viajado muito. O que eu quero fazer é mudar de vez de Londres para Barcelona, porque Londres é caro demais. Estou lá há quatro anos, então conheço a cidade muito muito bem e prefiro estar e, Barcelona e viajar para todo lugar a partir de lá.
Rolling Stone Brasil: E não pensa em escrever algo em espanhol?
The Boy From the South: [misturando inglês, espanhol, português] Tío, pues yo no sé escribir en español, pero sé que me gustaría añadir frases, como random sentences, o alguna frase que pusé en castellano, o algún título de una canción en castellano. Pero en español me cuesta muchísimo, mi novio don't understand, me cuesta muchísimo, porque always listened to música en inglés. Siempre. Entonces es, yo amo música española, me encanta muchísimos artistas de México, España, pero writing siempre ha sido en inglés. Pero quiero meter más cosas españolas, frases, sentences, palavras, títulos, siempre! Estoy seguro.
Rolling Stone Brasil: El Chico del Sur vem aí?
The Boy From the South: Em algum momento, El Chico del Sur vem aí.