Alex Band, Dom Liberati e Daniel Damico visitarão 22 cidades brasileiras durante turnê
Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 21/04/2024, às 13h00
O The Calling traçou um roteiro que passa por todos os cantos do Brasil em turnê com início marcado para este domingo, 21, em São Paulo. Mais de 20 datas ocupam a agenda do grupo ao longo de um mês.
A banda não lança um álbum há duas décadas, mas promete apresentar novos singles durante a visita ao país. "Essa será a turnê mais detalhada e intimista que já fiz no Brasil", revelou Alex Band, vocalista e cofundador do grupo, em entrevista à Rolling Stone Brasil.
Band teve que superar obstáculos envolvendo o passaporte e questões legais para conseguir se apresentar por aqui. Nos últimos anos, a outra metade do The Calling — o guitarrista Aaron Kamin — e ele trocaram farpas e processos.
Alex acusou Aaron de desaparecer e se recusar a fazer turnês, renunciando, desse modo, aos seus direitos sobre a marca The Calling (via Billboard). A denúncia não foi levada à frente, mas, ao saber que o cantor estava disposto a dar continuidade à banda, Kamin o processou na tentativa de impedir seus planos. Segundo Band, tudo o que o ex-parceiro musical "queria era que a banda morresse".
A Justiça ficou do lado de Alex e deu fim a uma intriga que se estendia desde o lançamento do álbum Two (2004), quando Kamin experimentou idas e vindas com Band. Aaron namorava a irmã de Alex quando eles começaram a compor juntos, no final dos anos 1990. Em 2001, lançaram o primeiro disco, Camino Palmero, com a música que continua sendo o maior sucesso do The Calling: "Wherever You Will Go".
Discordâncias entre Alex e Aaron e entre a dupla e sua gravadora, a RCA, levaram ao que parecia ser o fim do The Calling. Band tentou seguir carreira solo, mas não conseguiu o sucesso esperado. Em 2013, a situação do cantor piorou ainda mais: após fazer um show em Michigan, a fim de reerguer a banda sozinho, ele foi sequestrado e espancado por bandidos.
O dinheiro do vocalista foi levado pelos criminosos e pelos tratamentos necessários para sua recuperação. Na mesma época, ele descobriu que tinha Parkinson, e sua relação com os hospitais ficou ainda mais estreita. "Eu nasci com escoliose. Tive que passar por cirurgia, porque só piorava. Então, nos últimos dez anos, perdi cerca de sete centímetros", acrescentou Band.
Nesse período, Shayna Weber, sua atual esposa, foi fundamental para sua saúde. "Ela foi meu primeiro amor e namoramos durante a adolescência — e eu a deixei para me casar com Jennifer Sky", confessou o músico. "Isso foi horrível. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria feito isso. Era tão jovem, tinha 18 ou 19 anos quando isso aconteceu, e foi bem na época quando nosso primeiro álbum saiu."
Tudo isso está na bagagem que Alex Band despachou para o Brasil. Agora, ele conta com Dom Liberati e Daniel Damico para recomeçar o The Calling. Leia a entrevista na íntegra:
Rolling Stone Brasil: Qual a sua relação com o Brasil? Por que acha que tem tantas fãs brasileiros?
Alex Band: As pessoas e os fãs do Brasil são tão apaixonados e leais. É um sentimento reconfortante subir ao palco e saber que estão com você, que conhecem a letra de cada música. Isso não é comum. Tivemos a sorte de encontrar essa paixão no Brasil. Não sei por que foi o Brasil. Há outros países para onde podemos ir e tocar igualmente bem como no Brasil, mas não é a mesma coisa. Os fãs brasileiros também têm sido tão leais... Faz tanto tempo que lancei música inédita, e é para lá que estamos indo agora. Acabamos de terminar um novo álbum do The Calling — o primeiro em 20 anos — que será lançado em breve. Estamos super animados.
Rolling Stone Brasil: Como decidiu quais cidades visitaria?
Alex Band: Tive que cancelar a turnê algumas vezes, por causa de problemas meus, meu passaporte demorou para sair... Então, isso meio que se transformou nessa grande turnê. É quase como uma turnê pelos Estados Unidos, sabe? Nunca fiz algo parecido no Brasil. Mas não escolhi as cidades, só disseram, 'Você vai para todo lugar', e eu respondi, 'Ok, tudo bem por mim'.
Alguns dos shows serão bem intimistas — parte das locações deve ser apenas clubes, haverá apresentações em cidades menores... Fãs poderão nos ver bem de perto, não será apenas caos.
Rolling Stone Brasil: O Brasil é um país enorme, você vai visitar muitas cidades e passar muito tempo aqui. Como acha que isso vai funcionar? Pretende visitar alguns lugares turísticos?
Alex Band: Fui ao Brasil bastante vezes e passei um tempo aí como turista, embora nunca tenha visitado metade dos lugares onde farei shows. Especialmente o leste... E Manaus, eu estive em Manaus uma vez, mas nunca explorei a floresta ou algo do tipo. É algo muito novo e interessante.
Ouviremos um novo álbum do The Calling em 2024?
Alex Band: Em 2024, você definitivamente vai começar a ouvir alguns singles que serão lançados em breve. Estou mais que animado com esse novo álbum. Ele tem músicas que foram escritas em alguns dos pontos mais baixos da minha vida e quando passei por coisas muito difíceis... O sequestro, o Parkinson... A banda que juntei tem caras incríveis. Escrevemos músicas sensacionais nos últimos anos e temos um longo disco — provavelmente, no mínimo, 15 faixas. Pelo menos seis delas serão singles e vão começar a sair. Vamos, literalmente, voltar do Brasil e passar o resto de junho fazendo conteúdo para as redes sociais, gravando as coisas no estúdio...
Tentei tanto fazer com que o lançamento do primeiro single coincidisse com essa turnê. Mas, para que as estrelas se alinhem corretamente, para que o lançamento se saia bem, terá que acontecer no verão [inverno no Brasil]. No entanto, vamos tocar algumas músicas novas, e esse será nosso show mais longo feito no Brasil. Fãs poderão ouvir muitas coisas antigas que amam, canções que fiz com outras pessoas, ou que fiz para filmes...
Rolling Stone Brasil: Você sobreviveu a questões legais e até mesmo a um sequestro. Acha que essas experiências refletiram nas músicas que está prestes a lançar?
Alex Band: Com certeza! Em 2011, fui diagnosticado com a doença de Parkinson. Tinha uma música na Copa do Mundo, na Europa, "Tonight" estava arrasando pelo mundo inteiro. As coisas estavam ótimas. De repente, eu estava f*dido e mal conseguia andar, estava em uma cadeira de rodas, tinha Parkinson e era isso. Foi como uma sentença de morte, tudo acabou. As gravadoras me disseram adeus, gastei cada centavo do meu dinheiro para me salvar.
Foram anos e anos na merda. Isso foi muito mais difícil do que o lance do sequestro. Conforme os anos foram passando, fui melhorando com os remédios e voltei a escrever. As músicas que saíram foram, obviamente, muito profundas.
Tive um filho e tenho minha esposa. Ela me manteve vivo ao longo da última década. Tem coisas muito emocionais nesse disco, muitas coisas que as pessoas esperam, muitas coisas do tipo "Wherever You Will Go"...
Tudo impactou esse álbum, tudo o que está acontecendo no mundo. Todo lugar está em guerra. Estamos testemunhando coisas horríveis, regredindo com leis americanas... Não esperava que nada disso acontecesse nessa época. É terrível e definitivamente será um tópico abordado.
Rolling Stone Brasil: O que quis dizer quando afirmou que sua esposa te manteve vivo? Pode me falar mais sobre isso?
Alex Band: Tudo bem... Depois que passei pelos primeiros anos do Parkinson, estava tendo um momento muito, muito difícil. Foi bem na época que nos reconectamos. Ela foi meu primeiro amor e namoramos durante a adolescência — e eu a deixei para me casar com Jennifer Sky. Isso foi horrível. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria feito isso. Era tão jovem, tinha 18 ou 19 anos quando isso aconteceu, e foi bem na época quando nosso primeiro álbum saiu.
Enfim, ela me ajudou a passar por momentos difíceis. Passei por muitos problemas. Tipo, antes mesmo do Parkinson, eu nasci com escoliose. Tive que passar por cirurgia, porque só piorava. Então, nos últimos dez anos, perdi cerca de sete centímetros. Tenho certeza que os fãs vão notar. Fui de 1,77 m para 1,70 m. É maluco!
Não quero entrar em detalhes, mas, especialmente depois do sequestro, ela foi tudo para mim. Não sei se estaria aqui. E os fãs que continuaram comigo, aqueles que continuaram se importando com a música e comigo, tudo isso não tem preço.
Rolling Stone Brasil: E sua carreira solo? Tem planos?
Alex Band: Foi tudo tão mal. Foram anos, de 2006 a 2009, de discussão com minha antiga gravadora para fazer um disco. Eles queriam que eu escrevesse com milhares de outros compositores. Eu escrevi com outros compositores, a gravadora odiou, então acabaram querendo tudo o que escrevi. Esse álbum solo, na minha opinião, é incrível...
Tive que passar por algumas merdas na Justiça. Comprei os masters da Universal, tive que refazer um acordo com a EMI para, aí sim, começar a lançar álbuns solo. Daí apareceu o Parkinson... Trabalhei tão duro para fazer com que o The Calling voltasse.
Também tem sido um pesadelo legal com o outro membro original da banda — não preciso dizer o nome dele. O cara que estava no The Calling comigo, que escreveu as músicas comigo, acabou saindo, depois voltou, saiu de novo, e aí eu acabei o demitindo em 2005. Mas ele continuou presumindo que ele deveria ter direito sobre metade do nome do The Calling. Ele nunca mais fez nada, foi demitido. Eu literalmente sou dono de tudo do The Calling desde que isso aconteceu. Ele me impediu de fazer turnês, legalmente.
Levou anos, fomos ao tribunal da California, depois ao tribunal federal, até que finalmente as coisas agiram ao meu favor. Isso só aconteceu no ano passado. Desde o ano passado sou o único dono e não preciso me preocupar sobre ele. Vamos lançar um álbum, e as coisas estão acontecendo.
Foi uma longa batalha e foi estranho, porque ele não queria dinheiro, ele não queria estabelecer uma porcentagem — eu ofereci isso. Ele só queria que o The Calling morrese. Ele literalmente disse: "Não quero que o The Calling exista além dos dois álbuns que fizemos". Até o juiz entranhou. Estou feliz por seguir em frente.
Rolling Stone Brasil: Ele já disse em outra entrevista que aceitaria voltar para o The Calling ["Se Band fizesse uma ligação, Kamin diz que 'não poderia dizer não' para se juntar novamente ao The Calling"]. O que acha disso?
Alex Band: Isso me deixa ainda mais... Eu nem sabia que ele tinha dito isso, mas isso é insanidade. Por que ele teria mais de 50%? E isso é verdade! Na corte federal, eu ofereci a ele 50%, não apenas do The Calling e tudo o que tínhamos, mas para que ele seguisse em frente, e ele não teria nada a ver com isso. Eu ofereci a ele 50% de tudo o que eu faria com o The Calling, composições, tudo, para que ele seguisse em frente. Ele não quis, tudo o que ele queria era que a banda morresse. Esse era o único propósito dele. Ele não queria dinheiro. Eu ofereci para que ele não tivesse mais nada a ver com isso — quer dizer, ele já não tem desde 2004. Ele estava maluco. De novo, estou feliz que isso tenha passado.
Rolling Stone Brasil: Como é sua relação com Daniel e Liberati? Por que confia neles para continuar o legado do The Calling com você?
Alex Band: Daniel substituiu meu antigo parceiro quando ele saiu e foi um membro de turnê, porque ele parecia com meu antigo parceiro, foi ele quem o contratou. Ele se tornou um incrível guitarrista e um incrível compositor. Escrevemos para outras pessoas, trabalhamos ídolos americanos fazendo outras coisas, durante os anos 2000. E aí, depois veio o Parkinson e parecia o fim, então não trabalhamos juntos por um bom tempo.
Foi perfeito, foi ótimo para ele voltar. Confio nele mais do que em qualquer outra pessoa. Estou tão feliz que ele não apenas esteja na banda, porque eu paguei para pessoas estarem na banda, mas ele é um membro da banda. E aí o Dom [Liberati] entrou como um cara contratado para tocar em alguns shows nos Estados Unidos, há um ou dois anos. Ele é simplesmente incrível e talentoso em tantos níveis. Na verdade, ele vai abrir os shows da turnê, fazer sua própria apresentação.
Rolling Stone Brasil: Como lida com o rótulo de artista de um hit só?
Alex Band: Eu não tenho que lidar com isso. Para qualquer um que diz isso, eu digo: 'Vai se f*der'. Tenho a música com o Santana, nos Estados Unidos. Tive duas músicas número um da década, número um e número cinco da década. Isso são duas músicas! [Risos] "Adrienne" foi um sucesso nos Estados Unidos — não foi número um, mas se saiu extremamente bem. Ganhei prêmios por isso. "Adrienne" foi número um em 40 países, incluindo o Brasil. Existem outras músicas, do primeiro e do segundo disco, que foram número um ao redor do mundo, mas não funcionaram nos Estados Unidos.
Não vou entrar nisso, mas houve muito drama durante o segundo álbum, principalmente por causa do meu antigo parceiro. Enfim, o segundo álbum não recebeu uma chance justa, de jeito nenhum. Basicamente, a gravadora desistiu muito cedo nos Estados Unidos. Internacionalmente, floresceu.
Esse é o foco principal com o novo álbum: tentar emplacar nos Estados Unidos. Acredito que é possível. Temos muitos fãs por aqui.
Houve um tempo em que esse lance de um hit só... Muita gente que não está familiarizada com a banda só conhece essa música. "Wherever You Will Go" é um sucesso enorme, continua tocando, as novas gerações a conhecem... Claro, eu tenho uma música que é enorme pela qual a maioria das pessoas me conhecem, mas, juntando, tenho oito músicas número um.
Rolling Stone Brasil: Tem alguma mensagem para os fãs do Brasil?
Alex Band: Quero dizer que essa será a turnê mais detalhada e intimista que já fiz no Brasil. Não sei se faremos isso de novo. Também será a primeira vez em que iremos com uma setlist tão grande. Não vai ser uma hora de show e 'tchau', vamos tocar mais de 20 músicas. Vamos ver se conseguimos sobreviver [risos]. Hoje em dia, todos estão sofrendo financeiramente, está tudo mais difícil para todo mundo. Quero que quem comprou ingresso para nos ver no Brasil saiba que seu dinheiro valerá a pena. Eu prometo. Estou muito animado!
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