Em novembro de 2023, Urias lançou o deluxe Her Mind - Blossom Edition e conversou com a Rolling Stone Brasil sobre essa era marcante
Felipe Grutter (@felipegrutter) Publicado em 01/12/2023, às 07h00
Desde quando iniciou carreira como cantora, com o lançamento de “Diaba” em 2019, Urias traz uma proposta bastante diferente daquilo que vemos no pop brasileiro — não à toa o single de estreia já foi um grande sucesso, e conta com mais de 17 milhões de reproduções no Spotify.
Apesar de encontrar uma fórmula preciosa logo no começo, a cantora mineira de 29 anos se recusa a ficar a zona de conforto e sempre se obriga a explorar novas sonoridades. Foi essa preocupação que rendeu dois ótimos discos de estúdios e completamente diferentes: Fúria (2022) e Her Mind (2023).
Se você gosta de um estilo sonoro mais urbano, um tanto quanto sombrio e com batidas mais dramáticas, Fúria é uma ótima escolha de play. Já se você curte um som mais eletrônico, techno e dançante, sugiro que vá de Her Mind. Se você curte os dois estilos, Urias é a artista perfeita para você acompanhar.
O próximo passo da carreira dela foi uma extensão do álbum de 2023: em 21 de novembro de 2023, ela lançou o deluxe Her Mind - Blossom Edition, com adição de três novas músicas e um remix com participação do rapper estadunidense Cakes da Killa.
Com o passar do tempo, ela lançou dois discos de estúdio, ambos com sonoridade e proposta completamente distintas. O mais recente lançamento dela foi o álbum deluxe intitulado. Como dito em uma matéria anterior da Rolling Stone Brasil, Blossom Edition mostrou como a cantora é uma das principais divas pop do Brasil.
Durante entrevista no estúdio da redação, Urias aproveitou para falar sobre o processo criativo do novo disco, mudanças sonoras, representatividade e letras profundas que também propõem aos ouvintes dançarem. Ela, Maffalda e Number Teddie começaram a pensar no conceito após o lançamento de Her Mind em 8 de junho.
Vale destacar como as três músicas inéditas de Her Mind - Blossom Edition, “Rolling,” “Trip” e “Suave,” possuem um estilo único comparado ao original, e Urias tinha exatamente essa mudança em mente durante o processo criativo, descrito como uma luta para fazer algo novo que não tinha no primeiro Her Mind.
Um nome presente na produção bastante elogiado pela artista foi Maffalda, que trabalha com ela desde “Diaba.” Inclusive, a cantora o descreveu como “um homem do futuro” e “visionário” — e fez um pedido para a dupla seguir como colaboradores.
Dessa vez, as bases e produções musicais foram completamente da mente do Maffalda. A gente conversava e compartilhava o que queríamos, claro, mas ele que tem as sacadas das viradas e das misturas, como o reggaeton com drum and bass de 'Suave.'
Já o remix de “Ultimate One” com Cakes da Killa representa o único feat da era Her Mind. Eles se seguiam nas redes sociais antes, e o cantor foi bastante proativo para a parceria realmente acontecer. “Ele me incluiu na reimaginação de ‘Sex Drive,’ aí eu aproveitei esse contato e abertura, já trocando e-mails de produtores,” relembrou.
Existem duas formas de você escutar Her Mind - Blossom Edition: aproveitar as batidas e não prestar atenção nas letras e significados, ou tentar parar para entender aquilo que Urias quis dizer com este trabalho.
O deluxe tem como base um estudo da Universidade de Lieja, da Bélgica, no qual foi comprovado como o cérebro de pessoas trans é similar ao de pessoas cis às quais se identificam e não ao gênero biológico. Além disso, a pesquisa contou com exames que mediram microestruturas cerebrais através da técnica de imageamento tensor de difusão. Por fim, o resultado observou como meninos que se dizem transgêneros possuem a mesma atividade cerebral de meninos cisgêneros — e o mesmo acontece com pessoas do sexo feminino.
Uma curiosidade interessante: a cantora teve o primeiro contato com o estudo após um vídeo de uma mulher sobre esse assunto aparecer no algoritmo do TikTok dela. Nesse meio tempo, pós-lançamento de Fúria, Urias começou a se incomodar bastante com comentários excessivos que faziam sobre o corpo dela — e decidiu explorar a mente dela (por isso o nome Her Mind).
“Por mais que o meu corpo estivesse em evidência, eu queria chamar atenção para minha mente também, outros aspectos e outras características… para mostrar que eu era mais múltipla também,” explicou à Rolling Stone Brasil. Em seguida, ela falou sobre o impacto da pesquisa belga:
Esse estudo me trouxe a grande reflexão do modo que eu iria impor a minha existência. Até biologicamente falando, sabe? De que eu faço parte da biologia e da natureza. Mesmo se não existissem as conjunturas sociais, os pilares sociais que construímos ao longo da humanidade, eu ainda assim faria parte da natureza. Her Mind é essa busca da naturalidade através da natureza, enquanto o Blossom Edition é a conclusão de tudo isso.
Claro, esse é um período de muita reflexão para a cantora, e o lançamento de Her Mind representa uma grande experiência para ela, que comentou como percebeu que é ouvida, além de ficar aliviada ao saber como as pessoas ficam instigadas a ir além do trabalho dela. Um lugar de satisfação.
“Aprendo muito sobre mim, meus limites… sobre limites que são meus, mas também não vem de mim,” afirmou a artista. “Sobre limites no lugar de ir até onde eu posso ir, a distância na qual posso correr. Descobrindo que essa distância tem aumentado e expandido durante todo esse tempo. Do Fúria para cá, vi que sou cantora, compositora [risos]. Caiu essa ficha.”
Her Mind - Blossom Edition também representa uma mudança estética para Urias, que lançará merch e até mesmo vinil (com lançamento marcado para o dia 5 de dezembro de 2023), nos palcos. A identidade visual do deluxe integra o corpo dela à natureza.
Não apenas a sonoridade, mas a língua de Her Mind é bastante diferente do Fúria. No álbum de 2023, ela dividiu atenção com outros idiomas além do português: ela fala inglês, espanhol e até francês. “Eu queria fazer música dançante, para cima, que vários tipos de pessoas fossem ouvir. E queria também que essas músicas lembrassem que sou brasileira. Esse foi o norte em que a gente tentou ir, e as coisas foram rolando. Tinha a minha cara,” garantiu.
Essa exploração de outros idiomas rendeu uma expansão da cantora pelo mundo, e a base de fãs cresceu, especialmente na América Latina. Na conversa com Rolling Stone Brasil, Urias revelou como recebe mensagens de pessoas de Paris e Espanha, por exemplo. Ela também tem um fã-clube, o Urias Argentina, que chegou até a viajar para assistir a um show dela no Brasil: “Eu acho impressionantíssimo. Ficou passada.”
Já o pop brasileiro começou a ganhar bastante força na última década, e os artistas mainstream recebem cada vez mais investimentos para os respectivos lançamentos. No entanto, o gênero parece estar em uma zona de conforto, com diversas sonoridades e estéticas semelhantes.
Aí que entra Urias: ela é uma das artistas mais diferenciadas do meio, com uma pegada original e única. Como supracitado, ela tem uma meta de fazer “música para todo mundo ouvir e dançar” e, caso a pessoa queira, pode ir atrás do significado disso tudo.
“Eu tento fazer uma balanceada,” disse. “Não faria sentido para mim se não fosse falar de algo que impacta a minha vida negativamente. Se eu não fosse falar de algo com esse certo tipo de impacto na minha vida, não é todo mundo do meu recorte que consegue ser ouvido dessa forma.”
Para mim ainda é num lugar de necessidade e falar sobre algo. Só que quando eu quiser ser fútil, eu vou ser fútil também. E está tudo bem.
“Até hoje, na minha carreira, tenho me destacado por fazer coisas que ninguém faz, coisas diferentes,” continuou. “Não tem motivo de mudar essa linha de pensamento, agora que consegui um certo destaque dentro do que eu mesma faço, para mudar para algo tido como mainstream.”
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Ainda é muito cedo para discutirmos ou começarmos a imaginar o terceiro disco de estúdio da carreira de Urias. Ela acabou de lançar Her Mind - Blossom Edition e ainda quer trabalhar essa era de maneira melhor. Mas a cantora já sabe o que esperar do futuro
No meu próximo trabalho, quero fugir desses dois [álbuns]. Não quero fazer coisa repetida, não quero não explorar no momento. Quero procurar, descobrir sobre mim… o que eu consigo fazer, o que eu não consigo. Sempre estarei mudando.
Seja com rimas, batidas dançantes, linhas mais puxadas para o rap ou nas baladas do Brasil, Urias tem muito talento para fazer ainda mais sucesso — e uma legião de fãs que a acompanha de perto.
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