Vocalista do 5 Seconds of Summer, Luke Hemmings aproveita o primeiro disco solo da carreira para dar espaço às habilidades e singularidades
Isabela Guiduci Publicado em 14/08/2021, às 15h00 - Atualizado às 15h21
When Facing The Things We Turn Away From não esconde que Luke Hemmings vem do 5 Seconds of Summer e traz referências aparentes ao rock e pop, apresentadas anteriormente na discografia da banda. O primeiro disco solo do vocalista, no entanto, abre um espaço interessante para a íntima criatividade do cantor — e, com isso, reverbera as melhores habilidades do artista: seja a partir da voz ou lírica.
Com o 5 Seconds of Summer desde 2011, quando ainda era adolescente, Hemmings foi moldado pela banda e não esconde a essência e reflexo na experiência musical. O cantor não quer exagerar ou se reinventar — o que o disco representa é o desejo do artista em explorar os próprios processos criativos e compartilhar o resultado com o público.
Embora o álbum não inove em sonoridade ao que conhecemos da carreira do cantor, traz experimentações. Há uma consistência delicada, potencializada pela voz suave do artista, quem se mostra confiante em todas as canções. Se a intenção era entregar mais de si em um projeto abrangente, o músico pode se dar por satisfeito.
As guitarras aceleradas, atmosfera dos sintetizadores, melodia acústica e harmônia de piano são recursos bem trabalhados ao longo das doze faixas que compõem When Facing The Things We Turn Away From. Em um ritmo leve, sereno e facilmente encantador que bebe muito do rock clássico, o projeto viaja pelas singularidades de um jovem de 25 anos com uma polidez aconchegante.
Como o título When Facing The Things We Turn Away (“Quando enfrentamos as coisas das quais nos afastamos”, em tradução livre) sugere, o álbum mostra uma faceta mais íntima de Hemmings. Os sentimentos e questionamentos internos do jovem são dialogados nas composições. De romances e arrependimentos aos desesperos da idade: as músicas ganham uma singularidade potente através da lírica.
Os vocais suaves do cantor causam arrepios sinceros e reforçam o talento do artista em provocar as mais diversas sensações nos ouvintes. Fica nítido a grandeza da habilidade de interpretação do cantor, que vai aos falsetes com um domínio encantador, e o disco oferece o melhor da voz do artista.
Para abrir seu disco de confissões, a escolhida foi “Starting Line”: uma das mais enérgicas do disco, com um riff de guitarra comovente e crescente. A faixa, que ganha um ritmo gradual, foi a decisão pontual para convidar ao país das maravilhas — extraordinário e assombroso — de Hemmings.
Seguindo em um embalo mais intenso, “Saigon” é um destaque devido à paisagem sonora que leva ao universo do cantor enquanto ele desabafa: “Vamos separar até que não haja mais nada de nós para continuar. Agora estamos enfrentando as coisas das quais nos afastamos.”
Na terceira faixa, “Motion,” a agitação da abertura do álbum segue conduzida pela combinação da bateria e riff de guitarra, acompanhadas por sonoridades provocativas de sintetizadores. Os vocais do cantor potencializam a proposta magnética da canção.
“Place in Me” desacelera a frenesi para o acústico do violão e a voz fascinante de Hemmings canta em um tom intimamente confessional: “Agora com meus olhos bem abertos. Rasguei você em pedaços. Me ligue de manhã, sim, desculpe por ter te decepcionado.”
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A quarta faixa é apenas um respiro da euforia sonora. Já a canção seguinte, “Baby Blue” resgata a força marcante da bateria em uma levada deliciosa: a música é uma adrenalina flutuante pelas inquietações e intimidades líricas.
Em descompasso, “Repeat” volta às cordas do violão e traz mais dos falsetes impressionantes de Hemmings. Chegamos à metade do disco e a faixa soa como uma pausa para anteceder a ‘segunda parte do disco,' um momento mais experimental com sintetizadores, embora aconchegante.
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Para reforçar a pessoalidade do projeto, “Mum” mostra a correria do adolescente, quem não tem tempo para ligar para mãe e se culpa por este motivo. Os elementos sonoros dialogam diretamente com a lírica da canção — e a faixa é uma viagem hipnotizante ao cosmo pessoal do vocalista do 5 Seconds of Summer.
Hemmings continua tirando o fôlego do ouvinte com “Slip Away,” igualmente sensível, intimista e profunda. A atmosfera da canção projeta um espaço caloroso e segue desdobrando a proposta sincera de todo o disco: “Não me deixe neste silêncio. Quando você viu todos os meus erros.”
“Diamonds” também surfa no clima dos sintetizadores para reviver o ritmo enérgico, que estava mais desacelerado se comparado ao começo. Mais uma vez, você se sente em um passeio carregado pelas confissões do cantor em When Facing The Things We Turn Away.
Em sequência, “A Beautiful Dream” cumpre um papel semelhante em completar a narrativa harmoniosa da faixa anterior, sendo possivelmente a música mais experimental do disco, que busca refletir, a partir da perspectiva melódica, o sonho do músico: “Vejo tudo aqui em cores. É um sonho tão lindo.”
Para se despedir magistralmente, “Bloodline” cria o ambiente perfeito de confissão com uma das melhores paisagens sonoras e um dos destaques vocais do disco. Hemmings sussurra, transborda sensações e faz um trabalho incrível: “Os corredores estão se fechando. Se eu soubesse desde o começo. Isso mudaria algo?”
A melhor transição de faixas do disco, “Comedown” dá continuidade a “Bloodline” com um acústico sensível — que ganha um desenvolvimento melódico fascinante, e captura a proposta emotiva e sincera do disco. As duas canções finais totalizam a narrativa em uma despedida fenomenal.
Luke Hemmings alcançou o objetivo com o primeiro trabalho solo após mais de 10 anos de carreira ao lado do 5 Seconds of Summer. Liricamente, as doze canções são confessionais, conectadas e encaixadas em uma linearidade significativa, combinadas às sonoridades poderosas.
Ao invés de hits dançantes, Hemmings segue em grandes canções intimistas para explorar as próprias habilidades e experiências em When Facing The Things We Turn Away. O primeiro disco solo do vocalista do 5 Seconds of Summer é um aconchego, uma narrativa artística interessante e um passeio sensível pelas singularidades do músico. É um espaço de diálogo sossegado em meio a um mundo tão afobado.
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Respire, reflita, enfrente e se alente: When Facing The Things We Turn Away já está disponível em todas as plataformas digitais.
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