A biografia Na Raça conta a trajetória da fundação da XP e mostra que vencer no Brasil é possível, mas o preço a pagar é alto
Guilherme Ravache Publicado em 23/12/2019, às 14h39
A biografia Na Raça, que conta a ascensão da XP Investimentos e de Guilherme Benchimol, seu fundador, é uma obra importante. Publicada pela editora Intrínseca, traz detalhes envolventes sobre os bastidores das negociações, disputas e tacadas de sorte que tornaram a empresa de investimentos um dos maiores cases de sucesso do mundo, sendo avaliada em quase R$ 80 bilhões. Além, claro, de colocar Benchimol no clube dos bilionários, com fortuna pessoal avaliada em mais de R$ 1,2 bilhão.
Na Raça, porém, está longe de ser uma obra definitiva. O livro parece trazer mais a versão dos fatos na perspectiva de Guilherme do que de seus “adversários” pelo caminho. Mas, seja como for, é possível tirar lições valiosas de como empreender e ter sucesso aqui por nossas terras tupiniquins. Aqui estão 11 delas:
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Correr atrás do que quer mesmo após os reveses. Benchimol foi demitido aos 24 anos, mudou-se para Porto Alegre, onde abriu a XPTO - por absoluta falta de ideia melhor para o nome da empresa. Depois, mudaram para XP. Resumidamente, tudo bem se você não for o mais brilhante se puder ser o mais “raçudo”.
“Eu não sou um cara brilhante, não levo jeito para trader. Sou um cara raçudo. Tenho que encontrar o que fazer com isso”. Esse é Guilherme jovem decidindo o que fazer da vida.
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Depois de uma década de baixos e baixos, na penúria, Guilherme e seus sócios recusaram uma oferta para vender a XP por 30 milhões para Eduardo Plass em 2005. Benchimol ganhava cerca de 30 mil por mês naquela época. Plass era sócio majoritário da Ágora, maior corretora independente do país. Guilherme passou a chance de se tornar milionário. Logo em seguida iria se arrepender com a crise global de 2008 que quase levou a XP à lona. Mas, tivesse aceitado a oferta, hoje não seria um bilionário.
Coloque seu objetivo acima de qualquer coisa. Mesmo que isso signifique abrir mão de estar próximo da família ou brigar com sócios, funcionários e qualquer um que esteja no caminho do seu objetivo.
Fica evidente que Guilherme colocava o sucesso da XP acima de qualquer coisa. Ana Clara, sua esposa, terceira funcionária da XP e sócia-fundadora, teve sua participação societária diluída na empresa porque, ao voltar da licença maternidade de seis meses, não bateu a meta da empresa. De pouco adiantou ela argumentar que sem trabalhar e cuidando do bebê seria impossível bater a meta. Meta é meta, não bateu, perdeu.
A XP, para sobreviver em 2002 durante a crise da bolsa brasileira, passou a comprar e vender saldo de tickets de alimentação, com Guilherme indo à porta da fábrica da Gerdau, comprando tickets com 10% de desconto e revendendo-os com 2% de desconto. A empresa também começou a dar cursos sobre investimentos.
Ser demitido aos 24 anos do que parecia ser o “emprego dos sonhos” (a corretora online Investshop), foi a oportunidade de ir envergonhado para Porto Alegre e começar o que se tornaria a XP. E fracassar jovem é importante. Deixa na sua memória uma marca que pauta a sua vida e te joga para a frente.
Vá onde outros não foram. No Rio de Janeiro, Benchimol era alguém no máximo normal. Um profissional sem brilho com passagens pelo Icatu e Bozano. Em Porto Alegre, onde não existia tradição financeira, ele foi o profissional com passagem por bancos de primeira linha do Rio de Janeiro, celeiro de grandes banqueiros.
A XP não foi a primeira corretora online do país. A Investshop, do Banco Bozano, foi pioneira. Benchimol se tornou o 13° empregado da “startup” do Banco Bozano. Seu papel era angariar clientes e corretoras independentes para trabalhar com a Investshop.
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Mas a Investshop quebrou com a crise. A XP ralou por anos e anos e teve mais “raça” do que a Investshop para seguir sem fechar. Passou anos formando uma carteira de clientes com seus cursos e defendia os investimentos em bolsa mesmo na pior fase.
Em 2004, quando a Bovespa subiu 97%, e o preço das commodities dispararam, Benchimol e seus colegas da XP se tornaram profetas. No mercado financeiro, timing é tudo - e a XP, sem querer, acertou o timing na mosca.
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As pessoas não gostam de ver a sorte como fator determinante - mas ela é. E Guilherme teve muita sorte. Ter sorte pode ser até ter falta de sorte, como quando a XP deixou de ser comprada pelo Itaú e pelo Unibanco quando os dois grandes bancos anunciaram a fusão na mesma semana que a XP fecharia sua venda (ou com o Itaú, ou com o Unibanco - os dois bancões negociavam separadamente a compra da XP).
A XP cometeu diversos erros estratégicos, como contratar como CLT agentes autônomos pouco antes da crise de 2008. Teve de reverter em semanas a decisão e até demitir pessoas que havia contratado menos de um mês depois.
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Os primeiros anos da XP Gestão aconteceram graças à cópia das estratégias da Dynamo. Os sócios iam à Dynamo e copiavam os métodos sem qualquer pudor. Mais recentemente, já em 2010, Benchimol e seus sócios foram à feira do banco americano Charles Schwab e copiaram o modelo do banco americano.
A partir dali, tentaria convencer as pessoas a deixar os grandes bancos, algo inconcebível até aquele momento. Copiaram até o slogan da Schwab. O “Wake up America” usado pela Schwab nos EUA, na XP virou “Acorda, Brasil”.
SERVIÇO
Na Raça
Editora Intrínseca
240 páginas
Impresso: R$ 49,90
E-book: R$ 24,90
Autora: Maria Luíza Filgueira
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