Para o Dia Internacional da Mulher, Leila Oliveira, diretora comercial da Warner Music Brasil, falou sobre os desafios de gênero na indústria fonográfica
Marina Sakai | @marinasakai_ (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 08/03/2021, às 17h50
No dia 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Como em muitos outros setores de trabalho, a desigualdade de gênero está na indústria da música. De acordo com pesquisa realizada pela Semana Internacional da Música (SIM), 84% das mulheres brasileiras da área foram discriminadas no ambiente profissional e 21% não se sente confortável no trabalho.
Não é surpresa o fato de somente 2,6% de lançamentos entre 2012 e 2019 terem sido produzidos por mulheres, de acordo com pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia.
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No quesito artístico, o cenário é mais positivo. Pouco a pouco, as gravadoras trabalham para reverter o quadro e dar mais voz às mulheres. A Warner Music, por exemplo, investe nas carreiras femininas e obteve, nos últimos anos, resultados consistentes. Anitta é prova: tem mais de 8,8 bilhões de streams de música.
Para pensar o papel das mulheres no cenário fonográfico e a mudança pela qual a indústria passa, a Rolling Stone Brasil conversou com Leila Oliveira, Diretora Comercial da Warner Music Brasil.
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Primeiro, é preciso entender a herança histórica. No Renascimento, mulheres eram musas inspiradoras para os homens. Nos palcos, podiam ser — no máximo — intérpretes, ao executar uma obra composta por alguém do sexo masculino, e apenas com autorização de um tutor.
A mulher era vista como incapaz de possuir as qualidades emocionais e intelectuais para aprender a arte. Talvez isso explique o dado apurado pela Universidade do Sul da Califórnia, de que menos de 5% de 800 músicas lançadas entre 2012 e 2019 foram produzidas por mulheres.
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Leila Oliveira, diretora comercial daWarner Music Brasil, explicou em entrevista para Rolling Stone Brasil porque poucas pessoas do sexo feminino atuam nos bastidores da música - como produção ou partes técnicas. Isso conecta-se não só ao passado predominantemente masculino, mas às características dessas áreas.
A pesquisa “Quem são as mulheres na indústria da música no Brasil?”, da Semana da Música Internacional (SIM) traçou um perfil. 24,5% das mulheres da área têm ao menos dois trabalhos e não conseguem viver apenas do mercado musical. Assim como na maioria das profissões, têm jornadas duplas ou triplas - são responsáveis pela casa e filhos - e não conseguem dedicar tanto tempo quanto homens às mesmas funções. Além disso, horários e processos muitas vezes não batem com a rotina doméstica.
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Leila veio da área de negócios e conteúdo e teve o primeiro contato com a indústria fonográfica quando a carreira estava bem encaminhada. Teve boas oportunidades e se sentiu respeitada, mas entende seu privilégio nesse sentido. “Não é o normal. Tive dificuldades em conciliar a vida pessoal e profissional, e a cobrança (muitas vezes minha mesmo) de sempre entregar mais e provar valor,” relatou.
Apesar dos passos lentos, a situação está em processo de mudança. Segundo a porta-voz, ainda temos um legado machista a vencer, de quando as mulheres estavam completamente fora do mercado de trabalho em geral.
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Na Warner Music Brasil, a maioria das artistas e funcionárias se identificam com o gênero feminino, e muitas das colaboradoras estão em posições de gerência e liderança. A diretora está feliz em fazer parte de uma empresa preocupada em se engajar na mudança. “Ser mulher e ser brasileira é também ter espaço para ser uma voz nessa jornada dentro da companhia.”
Outro dado da Universidade do Sul da Califórnia indica apenas 21,7% de artistas mulheres nos lançamentos entre 2012 e 2019. Sobre o papel ativo na indústria fonográfica para aumentar esse índice, Leila acredita na força do empoderamento feminino espalhado por meio das músicas.
Artistas de grande destaque como Anitta, Beyoncé, Lady Gaga e Adele precisam transmitir essas mensagens para influenciar a nova geração de musicistas. “Além de estarmos com as portas abertas para novas vozes, precisamos inspirá-las com a cultura que ouvem e absorvem, até virar parte natural da nossa sociedade,” concluiu.
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