Novas maneiras de contar velhas histórias? Parece legal, mas já cansou - está na hora de uma revolução à Spielberg
Yolanda Reis Publicado em 12/06/2020, às 07h00
2020 era para ser o ano dos remakes. Ghostbusters, O Grito, Beleza Negra, Dolittle (com Robert Downey Jr), Duna, Convenção das Bruxas, Maria e João… A pandemia de coronavírus, porém, tinha planos diferentes. Em meio à quarentena, a produção cinematográfica encontra-se cancelada. E talvez isso seja, afinal, uma boa ideia…
Durante os anos 2000, os remakes ganharam força no meio cinematográfico. Começaram discretos e tímidos, normalmente uma adaptação hollywoodiana de algum sucesso estrangeiro, japonês ou indiano. Depois, percebeu-se o poder de reviver alguma história conhecida: vieram as refilmagens de clássicos como Carrie, A Estranha (2013); Karate Kid (2010); A Hora do Pesadelo (2010) e mais tantos outros.
Durante a década de 2010, seria estranho não ver algumas dezenas de remakes nas telonas de cinema. Pessoas ansiosas para rever clássicos da infância, ou alguém conhecendo uma história de 20 anos atrás por meio de continuações desempoeiradas de filmes como Jurassic Park, Exterminador do Futuro ou Toy Story. Bilheterias enormes entre refilmagens, continuações e reformulações… Até tudo começar a cansar.
Caça-Fantasmas (2016) talvez seja o primeiro exemplo de remake-falho-da-era-das-refilmagens. O novo filme reinventava a história clássica dos anos 1980. Desta vez, seriam caçadoras de seres sobrenaturais. Uma divulgação extensa, um hype gigantesco, filas nas bilheterias… Apenas para decepção. A reinvenção, embora bem vinda em termos sociais, não colou. Apesar da bilheteria generosa (mais de US$ 700 milhões), o público não gostou: a aprovação no Rotten Tomatoes é 50%.
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Cada vez mais, remakes começaram a perder o brilho. Em 2019, ano recheado de continações do estilo, foi exemplo disso: X-Men: Fênix Negra, fora do escopo do MCU, teve lucro de pouco mais de US$ 50 milhões. Exterminador do Futuro: Destino Sombio segue o mesmo exemplo, assim como Cats (embora esse tenha motivos bem óbvios para o fracasso).
Há, é claro, sucessos da área. A Disney bem sabe disso, e surfa numa onda de novas tecnologias sem investir em imaginação: refazer desenhos clássicos de modo mais moderno (animação realista ou live action), mas sem alterar nada da história que conhecemos. O Rei Leão, Aladdin, Cinderela, A Bela e a Fera, Mogli, Dumbo…. Todas bilheterias gigantescas, na casa dos bilhões. Mas… Até quando a novidade de ver algo que já conhecemos durará?
O mais provável é que, à exemplo de 2019, no futuro próximo os remakes e continuações percam o brilho. Isso afeta, diretamente, o cinema - pois se esses filmes são a maioria, uma queda neles significa uma queda em todo o setor. Bilheteria, credibilidade, fôlego. Mas, ainda bem, isso não é o fim.
Na verdade, parece ser parte de um ciclo do cinema: altos, baixos, inovações (ou renovações). Durante a história do cinema, houve períodos de queda e falta de interesse. O primeiro deles foi durante os anos 1930, por causa da Segunda Guerra Mundial e baixo orçamento. O final da década de 1940 e a década de 1950 resolveram o problema: apresentaram os fabulosos musicais e filmes de suspense - dos quais nenhum exigia enorme orçamento. A fase é vista por muitos, até hoje, como a melhor época do cinema.
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Embora os anos 1960 tenha suas (muitas) características notáveis, e os anos 1970 sejam resonsáveis por muitos dos insanos e rebeldes clássicos cult de hoje em dia, as duas décadas também desgastaram-se, pois faltava a inovação. Em tempos da abertura de shopping centers, também, os cinemas de rua perdiam espaço. O público dos EUA encolheu-se tanto quanto em tempos de recessão econômica, muito embora houvesse, então, o boom capitalista. Era, de novo, hora de inovar.
A resposta para os “problemas” do cinema vieram de um jovem recém-formado em cinema e apaixonado pelo espaço e aventuras heróicas desde criança: George Lucas. Em 1977, o diretor apresentou ao mundo Guerra nas Estrelas (naquela época, um único título). Foi um sucesso, literalmente, de arrasar o quarteirão. Pela primeira vez na história, formavam-se fila para assistir a um filme, e pessoas encontravam-se para discutir os acontecimentos. Revolucionou não apenas o cinema, mas a forma de vivê-lo: como fã.
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Guerra nas Estrelas - hoje, o original Star Wars - ditou a regra do cinema dos anos 1980: muitas aventuras épicas (e heróis), histórias fantásticas, criaturas bizarras.. Ou, talvez, histórias de rebeldia e irreverência. Houve uma explosão de cores, efeitos especiais, piadinhas e personagens marcantes. Mais ainda, de nomes de bons diretores.
Steven Spielberg é a “cara” dos anos 1980 - e carro chefe da revolução. Foi o responsável por tantos títulos importantes, como Indiana Jones, E.T. - O Extraterrestre, Poltergeist, Os Goonies - e, um pouco mais tarde, Jurassic Park.
Mas o cinema dos anos 1980 vai bem além dele: dramas adolescentes (Curtindo a Vida Adoidado, Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco), viagens no tempo e no espaço (De Volta Para o Futuro, O Exterminador do Futuro), criaturinhas simpáticas e bizarras (Gremlins). É um desfile de clássicos cheios de imaginação.
São essas mesmas histórias que vêm sido recicladas no cinema de hoje - com acréscimo na fantasia dos super-heróis. Mas, pouco a pouco, começamos a ver uma mudança. A nova fase do cinema tem uma proposta mais séria e sóbria - os ganhadores do Oscar 2020, Parasita e Coringa, mostram isso. É o contrário da última revolução e dos resquícios das décadas seguintes. Mas é isso que espera-se de uma revolução na arte: o contrário.
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Portanto, podemos esperar nos próximos anos uma diminuição nos remakes - principalmente porque esses mostram-se menos rentáveis e agradáveis - e uma nova onda de filmes que tratam da vida na Terra, como conhecemos.
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