Além de possivelmente estragar o final do filme de Joaquin Phoenix, incoerências a própria essência do personagem ficam contra a ideia de uma sequência
Vinicius Santos Publicado em 23/11/2019, às 11h00
Após o sucesso histórico de Coringa, os fãs ficaram ávidos por uma continuação, e os rumores de que o diretor Todd Phillips e Joaquin Phoenix já aceitaram fazer um Coringa 2 são divulgados e desmentidos quase que diariamente.
Mas, parando para pensar com mais calma, seria mesmo certo dar continuidade a história de Arthur Fleck, já que foi dito desde sempre que o longa teria uma história única e sem intenção de fazer parte do universo de filmes da DC? Listamos argumentos a favor de que um novo filme do Palhaço do Crime não é necessário, pelo menos não por enquanto.
Vale lembrar que serão citados elementos-chave do enredo de Coringa, que podem ser considerados spoilers para quem não viu o filme.
Ainda no universo do Batman, uma das histórias mais originais e aclamadas do herói foi Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, lançada em 1986. Era a história de um Batman muito mais velho, violento e realista, que revitalizou o personagem e foi considerada revolucionária.
Após 15 anos e muita pressão dos fãs, Miller lançou Cavaleiro das Trevas 2, e a obra foi muito decepcionante, em parte pelo enredo fraco e arte abaixo da média. Já era esperado que a obra não superasse o predecessor, mas conseguiu ser ainda pior.
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Frank Miller já admitiu em diversas ocasiões que não queria fazer uma sequência, e, similar a clássicos do cinema como Apocalypse Now (1979) e Cidadão Kane (1941)talvez a função da obra fosse ser uma obra-prima única que mudou o mercado. Fazer mais um manchou o legado, e o mesmo pode acontecer com Coringa.
Sejamos sinceros, se a história do Coringa de Joaquin Phoenix continuar, uma hora ou outra ele terá que enfrentar um sujeito chamado Batman.
Apesar de vários fãs estarem empolgados com a chance de ver o Homem-Morcego de Robert Pattinson em cena com Phoenix, é necessário questionar: poderia existir um Batman na Gotham City mostrada pelo filme?
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Uma das principais motivações para Bruce Wayne se tornar o Batman é de honrar o legado do pai, geralmente representado como um filantropo bondoso que deseja genuinamente tornar rna Gotham City um lugar melhor, e que foi uma vítima aleatória do crime. Não é esse personagem que aparece em Coringa.
O Thomas Wayne do longa é um demagogo e manipulador, que poderia ser o pai de Arthur Fleck e tem vários diálogos no filme que atiçam a violência, postura que resulta na morte dele como um ato político do movimento de “morte aos ricos” do enredo.
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Um Bruce Wayne que viu os pais serem mortos logos após de ouvir de um assassino que fazia parte de um movimento popular: “Você recebe o que merece, Wayne” sentiria vontade de combater o crime para defender esse mesmo povo? E mesmo se ele se tornasse Batman, como ele iria se inspirar no pai sendo que ele foi uma pessoa corrupta?
A representação diferenciada que Coringa faz desses personagens pode invalidar a existência do Batman ou até mesmo condenar as chances de uma sequência dar certo.
Umas das revelações mais chocantes de Coringa são as alucinações de Arthur Fleck. Após perceber que o personagem mistura realidade e fantasia, o espectador se encontra mergulhado em um mistério de saber o que aconteceu de fato no filme.
O Coringa matou de fato o apresentador Murray Franklin (Robert De Niro)? O casal Wayne foi assassinado mesmo? Ou tudo isso não passa de uma grande imaginação de um Arthur Fleck internado no Asilo Arkham? Essas ambiguidades são um dos melhores elementos do filme.
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Agora, para fazer uma sequência implica mostrar como Gotham City mudou depois dos atos do Palhaço do Crime, e para tal, teria que ser estabelecido o que ele realmente fez e não fez. Isso pode estragar o final do primeiro longa.
O mistério de quem o Coringa é as coisas que eles fez fazem parte da própria essência do personagem, e tentar definir isso prejudica a qualidade da obra, e talvez a torne irrelevante, ou seja, o completo oposto do primeiro filme.
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