Relatório da Comissão Nacional da Verdade lista 30 formas de abuso comuns no período
Marina Sakai | @marinasakai_ (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 31/03/2021, às 18h10
31 de março de 2021 marcou 57 anos do Golpe de Estado no Brasil e o começo da Ditadura Militar. Um dos períodos mais controversos da história do país foi definido por censura, fim das eleições diretas, fechamento do Congresso, tortura e assassinatos.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) reuniu relatos de ex-presos políticos sobre horrores da época. Mais de 30 formas de tortura foram inventariadas: de urina no rosto a baratas nas partes íntimas. O relatório tem a intenção de transformar lembranças pessoais em memória coletiva do país. As informações são d'O Globo.
Alguns tipos de abuso são mais conhecidos: choques elétricos, palmatórias, “pau de arara”, afogamento, telefone (tapas nos dois ouvidos ao mesmo tempo), queimadura por cigarro, injeções com éter para necrosar tecidos, sufocamento e espancamentos eram comuns.
Antônio Pinheiro Salles relatou à CNV como, muitas vezes, várias agressões eram combinadas. “Nilo Oliveira (torturador), quando eu estava pendurado no pau de arara, [...] abria a calça, tirava o pênis e urinava na minha cara.”
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O relatório reuniu informações conhecidas recicladas de trabalhos da Anistia Internacional e pelo livro Brasil: Nunca Mais (1985), mas também trouxe novidades. Separamos quatro dos horrores menos conhecidos do período:
Militares lançavam animais — cachorros, ratos, jacarés, baratas, entre outros — às vítimas. Alguns eram, inclusive, colocados dentro dos corpos das pessoas. A cineasta Lucia Murat contou como inseriram uma barata em sua vagina.
“Estavam histéricos, precisavam extrair alguma coisa em 48 horas, se não, perderiam meu contato. Gritavam, xingavam, me puseram de novo no pau de arara. Mais espancamento, choque, água e dessa vez, entraram as baratas.”
Uma caixa com formato parecido de uma geladeira, vinda da Inglaterra, ficava na sede do Destacamento de Operações de Informação, DOI, no Rio de Janeiro. O objetivo era estimular os sentidos de quem estava dentro: luzes piscavam freneticamente, sons estridentes quase rompiam os tímpanos e temperaturas variavam entre calor e frio rapidamente.
Vítimas ficavam presas na “geladeira” durante dias, sem comunicação, mobilidade, água ou comida.
Estupros e violações eram práticas comuns, especialmente contra mulheres. Choques nos mamilos, vagina e ânus eram recorrentes. Karen Keilt relatou à CNV: “Veio um dos guardas e me levou para o fundo das celas e me violou. Falou que eu era rica, mas tinha a b***ta igual a de qualquer outra mulher.”
Além disso, mulheres eram humilhadas por aspectos de feminilidade e maternidade. Maria Amélia de Almeida Teles foi presa com o marido e dois filhos. Amélia passou pelo pau-de-arara, levou choques, apanhou de palmatória e sofreu violência sexual. Depois, os filhos eram levados para vê-la nua, coberta de sangue e urina. A CNV configura essa parte como crime contra a humanidade.
A engenhoca era uma fita de aço amarrada ao redor do crânio e apertada por uma tarraxa. O instrumento provocou a morte da militante Iara Iavelberg por esmagamento do crânio.
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