A produção estreou em 12 de maio e acompanha o cotidiano de uma afro-americana
Camilla Millan Publicado em 17/05/2021, às 15h16
Em 12 de maio, estreou na Netflix a sitcom Família Upshaw, produção que conta o cotidiano (e confusões) de uma família afro-americana. Apesar de ser parecida com muitas séries conhecidas pelo público - a exemplo de Eu, a Patroa e as Crianças - a nova produção relembra formatos antigos para trazer novos (e necessário) debates.
Ambientada em Indianápolis, a produção segue o mecânico Bennie Upshaw (Mike Epps) e a sua família. Ganham destaque, principalmente, a esposa Regina (Kim Fields), as filhas e o filho adulto do casal - assim como um filho mais novo que o protagonista teve fora do casamento. Além deles, uma das principais personagens é Lucretia, cunhada sarcástica interpretada por Wanda Syes.
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Sitcoms com todo o elenco negro não são novidade - mas há quanto tempo essas produções não ganham evidência na televisão ou no streaming? Família Upshaw chega a Netflix para os espectadores matarem a saudade de formatos conhecidos, mas traz autenticidade nas temáticas e discussões.
Criada por Regina Y. Hicks e Wanda Sykes, a produção retoma as dinâmicas dos relacionamentos dentro de uma família negra - e consegue ser hilária. Confira quatro motivos para assistir Família Uphshaw, nova série da Netflix:
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Como se trata de uma sitcom sobre uma família afro-americana, todo o elenco principal da produção é negro. Além disso, os homens e mulheres por trás das câmeras também são negros - e a importância dessa equipe é inegável.
Ao lançar séries e filmes com elenco e produção negros, a indústria audiovisual é transformada. Cria-se oportunidade para mais profissionais contarem histórias pelo ponto de vista preto, não pela perspectiva branca que ainda é maioria no mercado. Mais do que representatividade, Família Upshaw configura o protagonismo negro também fora das telas, como responsável por criar narrativas.
Família Upshaw retoma formatos já conhecidos (e amados) pelos fãs. Cenas hilárias com a família na cozinha, na escola, e as conhecidas risadas ao fundo. A fórmula que o público ama em A Patroa e a Criança, Um Maluco no Pedaço e Family Matters, é retomada - e isso com certeza mostra o potencial da produção.
Por isso, é difícil não se sentir nostálgico ao assistir algumas cenas da produção. O formato faz o espectador voltar no tempo, à época das séries já conhecidas. Além de ser um elemento que aumenta a identificação com Família Upshaws, também dá evidência à autenticidade da produção.
A produção retoma conceitos e formatos conhecidos, mas ganha força com a personalidade, principalmente nos debates modernos. O público entra em contato com diversas questões importantes sobre paternidade, casamento e sexualidade - e não são as problemáticas de décadas atrás, mas as mais atuais possíveis.
Família Upshaw aborda diversas questões importantes em relação às populações negras, inclusive a identificação de LGBTQIA+ enquanto pessoa preta. Todo debate não deixa de carregar um toque envolvente de humor que torna a produção ainda mais certeira.
A produção conta com um grande elenco - entre astros mundialmente conhecidos e outros ainda em ascensão. Alguns dos nomes que se destacam são os comediantes Wanda Sykes (roteirista de grandes programas, como The Chris Rock Show), Mike Epps (A Mais Louca Sexta-Feira em Apuros) e Kim Fields (Living Single).
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No dia 14 de abril, estreou no catálogo da Netflix o aclamado curta-metragem Dois Estranhos. Dirigido por Travon Free e Martin Desmond Roe, o drama mostra, em 30 minutos, a dura realidade de ser negro nos Estados Unidos. Contudo, é uma história que transcende as fronteiras, e também se repete em outros países, como no Brasil.
O curta prova que não são necessários muitos minutos para dar uma aula importante sobre racismo. Preso em um loop assustador, o jovem Carter James (Joey Badass) é morto todos os dias pelo policial branco Merk (Andrew Howard) ao tentar voltar para casa - e no dia seguinte, ao acordar, tenta escapar do destino, mas está aprisionado nessa chacina cruel.
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É impossível não se arrepiar com a produção, uma das favoritas a ganhar o prêmio de Melhor Curta-Metragem na cerimônia. Atual, urgente, dramático e inovador, Dois Estranhos é surpreendente. A Rolling Stone Brasil listou 4 motivos para assistir à produção:
Dois Estranhos conta uma história real diversas e diversas vezes. Para isso, a produção se apoia na ficção - mais especificamente no conceito conhecido do loop temporal. Mas não se engane, a história é bem mais atual e realista do que parece.
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A ficção apenas oferece uma diferente perspectiva, e reafirma o fator repetitivo e cruel do assassinato de negros por policiais. Não importa o que façam, esse é o triste destino de nomes como George Floyd, Breonna Taylor, João Pedro e, na trama, Carter James. No entanto, o esforço para sobreviver não é em vão - e o final do curta deixa isso evidente.
A importância de curtas como Dois Estranhos não é medida com números de streaming. A produção ganha força e relevância histórica por registrar essa terrível realidade de forma crítica - e se apoia na ficção, que transborda a criatividade e inovação dos diretores.
No dia 20 de abril de 2021, Derek Chauvin foi condenado pelo assassinato de George Floyd. Em maio de 2020, o ex-policial ficou mais de 9 minutos com o joelho no pescoço de Floyd. Se não fosse pelos registros e pela mobilização internacional, o julgamento poderia não ter acontecido.
Por isso, é importante trazer esse cenário para as plataformas de streaming - e Dois Estranhos o faz com maestria. O curta reflete o movimento Black Lives Matter, mas vai além: denuncia histórias reais que acontecem há muito tempo, e repetidamente.
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O uso da ficção científica deixa a narrativa muito interessante - e mesmo fazendo diversos retornos ao mesmo dia, não fica cansativo. A atuação de Joey Badass (que também é rapper) merece destaque por isso.
Um dos responsáveis por trazer movimento à trama, o astro mostra a potência e vontade do personagem. Mesmo se tratando de uma trama brutal, Badass consegue protagonizar alguns momentos cômicos - e nada é de maneira forçada.
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Apesar da repetição incessante do destino do personagem, cada momento é diferente. Ao longo das diversas cenas e tentativas do personagem, a narrativa cresce de maneira surpreendente - tudo isso para desembocar no final emocionante.
A narrativa potente de Dois Estranhos funciona como ativismo ao defender uma causa. Contudo, a produção subverte diversos valores abordados na indústria cinematográfica, como a noção do homem branco que compreende a realidade dos negros.
O curta constrói a possibilidade de transformar o policial Merk em alguém bom para mostrar que, na verdade, não existe essa chance. Afinal, não são os próprios filmes que tornaram o preto sinônimo de vilão, cruel e ruim? Dois Estranhos mostra o contrário - e é melhor pegar a caneta para anotar.
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