Polêmica, controversa e inteligente, a série foi baseada na saga de livros Fronteiras do Universo, de Philip Pullman
Yolanda Reis Publicado em 04/11/2019, às 15h54
***ATENÇÃO COM POSSÍVEIS SPOILERS***
Alguns classificaram His Dark Materials, nova série da HBO, como uma “nova Game of Thrones.” Erraram. A história, para começar, tem um ar infanto-juvenil - mas apaixonante para adultos. Faz-se ideal para todas as idades.
E, enquanto George R. R. Martin, autor das Crônicas de Gelo e Fogo (série que inspirou Game of Thrones) vai fundo em mitologias e tramas de Estado com personagens problemáticos e enredos complicados, Phillip Pulman escolheu, em Fronteiras do Universo (saga de livros na qual se inspira His Dark Materials) uma visão mais social - e altamente politizada, mesmo assim.
Na saga, conhecemos a história de Lyra Belacqua. Uma menina de 10 anos que vive em Oxford, mas em um universo alternativo. Naquele mundo, há duas principais diferenças: a primeira, um pedaço da alma de cada pessoa fica “fora” do corpo dela, no formato de um animal. Esse bichinho muda o tempo todo, e escolhe uma forma fixa quando a pessoa deixa de ser criança.
A outra diferença é na sociedade: lá, a Igreja e o Estado nunca chegaram a se separar, realmente, e o órgão religioso tem grande influências em tudo - até nos estudos. E controlam um aspecto em particular: o estudo do Pó. Não querem que ninguém futrique nesse elemento, que é um grande mistério. O que sabe-se sobre ele é que não está presente nas crianças, só nos adultos. E acham que ele é ruim - o símbolo do pecado.
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A série de livros tem sua cota de fãs. Primeiro, pela adaptação cinematográfica de 2007, A Bússola de Ouro (homônima ao primeiro volume da trilogia de livros), estrelada por Nicole Kidman, Daniel Craig e Ian McKellen. Depois, pelos diversos prêmios europeus de literatura.
Agora, com a adaptação da HBO, a polêmica história de Pullman - que foi de frente com o próprio cristianismo e Deus - deve ganhar novo fôlego e uma nova parcela de fãs com sua estreia nesta segunda, 4. E, se o canal seguir o livro à risca, verá também uma grande leva de problemas com grupos religiosos.
Mesmo assim, é uma saga de tirar o chapéu. Separamos 5 motivos para você conhecer a saga Fronteiras do Universo - ou, agora, His Dark Materials.
Enquanto Harry Potter, Percy Jackson, O Senhor dos Aneis, e diversos outros livros infanto-juvenis têm protagonistas masculinos, His Dark Materials, não. Sua personagem principal é Lyra, uma garota de 10 anos, esperta, curiosa, petulante e dona do próprio nariz. Difere, também, da delicadeza quase inatural de boa parte das meninas de livros. Mas, assim, reconhece-se em muitas garotas reais.
Lyra é, também, bastante inteligente - e extremamente corajosa. Tudo o que queremos para um personagem de histórias de aventura e fantasia.
Pullman construiu um mundo incrível e cheio de criaturas extremamente impressionantes. A começar pelos humanos do mundo de Lyra: eles têm uma alma única dividida em duas. Uma parte fica dentro do corpo humano. A outra, no daemon, um animal que precisa estar sempre próximo à pessoa e muda de forma durante a infância. Depois, escolhe um “formato” fixo. Há humanos como nós também, mas esses “têm os daemons do lado de dentro,” explica Lyra na saga. É como chamamos nossa “voz da consciência.”
O mundo não pára em pessoas. Há, também, os Ursos de Armadura. Eles são do tamanho, e têm a aparência, dos animais. Mas são extremamente inteligentes - a ponto de formar sociedades complexas e bem montadas. Além disso, têm habilidade com metal, e produzem armaduras especiais que os deixam prontos para o combate - daí o nome.
Em uma outra parte, há as bruxas. Elas são pessoas, também - mas não exatamente humanas. Vivem uma vida enorme, e podem, ao contrário da maior parte das pessoas, separarem-se de seus daemons. Elas conseguem voar, também, e fazer algumas magias.
E, fora isso, há os anjos - seres de pura Luz e Pó e serventes a Deus (ele também é um anjo); os espectros, comedores de almas/Pó; e as próprias almas, vagando no submundo.
Lyra começa Fronteiras do Universo em Bússola de Ouro, aos 10 anos. Termina em A Luneta Âmbar, aos 13. A trama explora esse crescimento - e a perda da infância para o início da adolescência. E, inevitavelmente, o despertar de si mesma - e dos desejos.
É uma época intensa para todo o mundo. A confusão, as amizades, e, principalmente, o despertar da paixão. Parafraseando Conta Comigo: ninguém nunca vai amar alguém como amava aos 13 anos. E Lyra sabe bem disso - pois, ao lado de Will, um menino de outro Universo, descobriu o amor. E, com ele, teve o primeiro beijo. Assim como todos têm.
Mas, no livro, há um grande porém. A Igreja não queria isso - pois seria, então, a representação de todo o Pecado que eles tanto querem livrar o mundo. Ao sucumbir ao desejo de um beijo (e perder a inocência), Lyra vira Eva, e, ao mesmo tempo perde o mundo da inocência e dá conhecimento a todos.
É uma reflexão filosófica interessante: será que, se não pecássemos, saberíamos do que sabemos? E o que seria melhor: viver na inocência do Éden ou entender o que acontece em volta? Há essa escolha?
Percebe-se, já, que His Dark Materials vai de frente com alguns aspectos da Igreja Cristã. A começar pelo domínio da entidade no governo - e a dedicação que eles têm para que não haja um estudo capaz de ir contra o que pregam. Depois, pelo desenvolvimento da história - que fez com que Lyra, para salvar o mundo, tenha que virar Eva. E o ápice da afronta: afirmam, com todas as letras, que Deus é velho e está morrendo. Querem matá-lo.
Gerou reações. Grupos católicos na Europa e EUA começaram a promover boicotes, dizendo que Pullman promovia “ateísmo para crianças.” Alguns defenderam que os livros fossem queimados em praça pública, inclusive; prática comum antigamente - quando um governo não concordava com o ideal de uma publicação.
His Dark Materials, porém, tem o seu valor. Assim como Crônicas de Nárnia é uma ode católica, a trilogia de Pullman pode ser o oposto - e adequar-se como guia para aqueles que não seguem a religião. Ou, ainda, para prevenir dos perigos da Igreja, quando torna-se controladora. Essa última ideia foi de Rowan Williams, arcebispo da Comunidade Anglicana dos EUA. Acredita que os livros deveriam ser material para aulas de Ensino Religioso - para exemplificar os perigos dos dogmas ao serem usados como opressores.
Apesar de todos os pesares - e das controvérsias - His Dark Materials é uma ótima história para a família. Isso porque Philip Pullman não força informações - a história é densa, mas a linguagem é simples. Portanto, o jeito que você absorve a história muda demais de acordo com a idade. Uma criança não verá nela nada além de partes infantis. Já um adulto entenderá as nuances, pois o polo central da trama - crescimento, conhecimento e desejo - é algo que acontece com todos.
Assim como acontece com Lyra, o entendimento da história cresce. No começo, para as crianças, é só um mundo mágico - cheio de criaturas fantásticas, descobrimento e promessas de aventura. Depois, a personagem percebe todas as nuances do que tem que enfrentar. Mas só quando for mais velha vai entender, de verdade, tudo o que passou. Exatamente como deve acontecer com os leitores
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