Sabe o que conseguiríamos se juntássemos Porta dos Fundos, Parafernália e Choque de Cultura? Provavelmente, esta série de Daniel Rezende
Yolanda Reis Publicado em 25/11/2019, às 19h41
Ninguém Tá Olhando é a nova série brasileira adicionada ao catálogo da Netflix. Dirigida por Daniel Rezende (Bingo - O Rei das Manhãs e Turma da Mônica: Laços) estreando na comédia para TV, a produção é uma ótima adição ao catálogo de séries curtas do serviço de streaming.
A série conta a história das criaturas Angelus - que são como anjos (embora fique bem claro que não sejam anjos), indivíduos alados que têm como missão ajudar os humanos na Terra, salvando-os de acidentes e evitando que se machuquem.
Mas esses angelus trabalham no esquema de uma repartição pública - e sob quatro regras bem estritas que, se quebradas, levam à morte (na verdade, desintegração, já que eles são imortais - fato reforçado, inclusive, por "Imortal" de Sandy e Junior). Como funcionários, vivem uniformizados com camisa branca, calça preta, uma gravatinha vermelha e cabelos ruivos.
Um departamento do Rio de Janeiro vê tudo virar de ponta cabeça com a chegada de Uli (Victor Lamoglia), a primeira criatura a chegar lá em 500 anos. Ele começa a ser auxiliado na missão de salvar pessoas por Greta (Júlia Rabello) e Chun (Danilo de Moura), dois angelus veteranos que já trabalham há 8 mil anos no negócio.
Mas logo entram em saia justa, pois Uli simplesmente não consegue seguir as regras básicas (quebra as quatro logo no primeiro episódio), o que chama muito a atenção de Fred (Augusto Madeira), chefe do departamento, que começa a entrar em parafuso com a ideia de perder uma estrela em sua nota impecável - ou pior, ser desintegrado pelo Chefe e criador.
Agora que você conhece a história, aqui estão 6 motivos para assistir Ninguém Tá Olhando na Netflix:
A premissa de Ninguém Tá Olhando parece séria e polêmica - anjos (angelus) da guarda. Mas a série passa longe de ser sóbria - é simplesmente hilária. Boa parte da graça vem de Greta, a anja cabeça-quente e boca suja que não cansa de rebater qualquer argumento ou resposta com “teu c*.”
As piadas, também, bem atuais são engraçadas e boas para todo um público. É uma série de comédia fácil de ver e boa de maratonar - e ideal para terminar em um ou dois dias (pelo menos, enquanto tem apenas uma temporada).
Se você gosta de sitcons curtas, com episódios de 20 minutos de duração, é ótima, também. Dá para assistir no ônibus, no almoço, na sala de espera.
E, ainda, tem “cara” de outras produções da Netflix - a comédia por comédia, sem risadinhas de estúdio ao fundo, e bem divertidas e inteligentes.
É difícil assistir à Ninguém Tá Olhando sem prestar atenção no tom bem brasileiro que a produção tem. Embora já haja comparações da história com The Good Place, o programa brasileiro passa bem longe das “americanidades” da série dos EUA.
A história, que se passa no Rio, traz cenários reconhecíveis a todo brasileiro. Mostra os apartamentos antigos do centro da cidade, decorados com aqueles azulejos vermelhos que são quase tão patrimônio histórico quanto o vira lata caramelo; há os móveis coloridos dos pés fininhos que existiam nas casas da maioria das nossas avós; pelas ruas, fios de postes de energia e muros pichados - tudo familiar.
É algo legal para a proposta de entretenimento global da Netflix, pois sendo uma série original, estará disponível para todos os países em que o streaming existe, e mostra um lado puramente brasileiro. Dá para reconhecer as peculiaridades e traços únicos do país nos cenários, uma boa apresentação para o público gringo. E, se aqui no Brasil amamos séries de países diferenciados (oi, Dark!), por que Ninguém Tá Olhando não poderia ser uma das favoritas da Dinamarca?
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Como ótima série de comédia e ótima produção brasileira, o elenco de Ninguém Tá Olhando é simplesmente incrível. Juntaram algumas pessoas conhecidas na internet (como Kéfera Buchmann) e música (Projota) com alguns nomes que conhecemos há um bom tempo pela viés cômico: Victor Lamoglia (Parafernália), Júlia Rabello (Porta dos Fundos), Leandro Ramos (Choque de Cultura), Danilo de Moura (Apaixonados), Augusto Madeira (Os Caras de Pau), Telma Souza (Ó Pai, Ó) e até uma participação especial de Evelyn Castro (Porta dos Fundos).
Um dos pontos mais fortes de Ninguém Tá Olhando é o quão atual a série é. A começar pelas tecnologias - os angelus ajudam Miriam (Kéfera) a encontrar um amado pelo Tinder. Mas também na gírias (como Greta comenta quando toma sorvete pela primeira vez: “Credo, que delícia”) e principalmente nas ondas jovens: em uma festa, os angelus ficam bem loucos com MD, nova droga sintética que é febre nas baladinhas de todo o país (inclusive, é tema da reportagem principal da revista Veja desta semana, com o títiulo “Viagem Perigosa”).
Os personagens, também, são contemporâneos além de tudo. Miriam, por exemplo: é vegana, entende tudo de signos, e até pensa em ser youtuber por um breve segundo quando não consegue emprego de jeito algum (até a recessão tá lá).
Outro piada incrível é Nicolas Cage, o queridinho dos memes na internet. Lembra quando a máscara dele foi um hit no Halloween? Pois apareceu também na nova série.
Mesmo correndo o risco de ficar datada, a série sabe explorar esses aspectos para tornar a trama reconhecível para os jovens - uma boa sacada, pois metade do público da Netflix tem até 29 anos, e quase 90% têm menos de 50 anos.
A série tem direção de Daniel Rezende, que aos 44 anos é uma das próximas promessas para o cinema brasileiro. Nos últimos dois anos, foi o responsável por duas das maiores produções nacionais: Bingo: O Rei das Manhãs e Turma da Mônica: Laços.
Antes disso, trabalhou na montagem de outros dos maiores filmes nacionais da história, como Cidade de Deus (2002), Diários de Motocicleta (2004), O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), Tropa de Elite e Cidade dos Homens (ambos de 2007). Também já se aventurou na gringa com Robocop (2014), dirigido por Roberto Padilha.
Com a nova produção, Rezende prova que consegue mandar bem em qualquer formato que se propuser a desenvolver. A história, no primeiro episódio, parecia algo que poderia ser resolvido em um filme de duas horas ou pouco mais, mas mesmo com oito episódios, conseguiu manter um bom ritmo e distribuir bem os acontecimentos. E o melhor? Deixou, no fim, um gancho para mais uma temporada - que com certeza vale a pena ser produzida.
Apesar da temática engraçada, Ninguém Tá Olhando tem ótimas reflexões sobre a vida. A começar pelo título da produção, que pode ser traduzido em: “ei, você! Faça o que quiser, porque ninguém tá olhando, não!”
Também o bordão de Uli, o protagonista, nos faz pensar. “A vida não é aleatória por acaso.” Ele usa isso como uma justificativa para tudo o que acontece que nos faz querer desistir. Mas a questão é essa: merdas acontecem. Não há o que fazer, pois é aleatório. Mas, ao mesmo tempo, isso não é por acaso: é apenas pela vida.
E nos faz pensar bastante sobre controle e sobre as nossas atitudes na vida. Você faz tudo o que faz porque precisa ou porque deseja? E mais ainda: você é bom por ser ou por medo de uma punição? E acima de tudo isso - será que todas as suas atitudes são necessárias e as suas preocupações realmente valem a pena?
Talvez todas essas perguntas possam ser resumidas em uma resposta: faça o que deseja e tente ser feliz com isso - pois não há respostas. Afinal, ninguém tá olhando.
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