A série produzida por Jordan Peele e Misha Green mistura terror cósmico com racismo e acontecimentos históricos
Vinicius Santos | @vini_ls13 Publicado em 31/10/2020, às 07h00
Recentemente, o canal HBO transmitiu o último episódio da primeira temporada de Lovecraft Country, uma das novas super-produções do grupo de TV a cabo para 2020. A série, como o nome já diz, se baseia na mitologia do horror cósmico, subgênero de terror criado pelo autor H.P. Lovecraft.
Com uma média de 90% de aprovação da crítica e 70% do público na plataforma Rotten Tomatoes, a série é uma das mais bem-sucedidas (e assustadoras) do ano. Além disso, conta com Jordan Peele e J.J. Abrams como produtores executivos.
Atualmente sendo reprisada diariamente nos canais da HBO na TV e com toda a temporada disponível no serviço por assinatura HBO Go, a Rolling Stone Brasil elencou alguns motivos para considerar maratonar a série neste Halloween.
Game of Thrones acabou, mas a vontade do grupo HBO de fazer uma série no mesmo nível de orçamento e qualidade de produção continua. Esses valores e investimento foram transferidos para Lovecraft Country.
A showrunner Misha Green não entrou em cifras, mas disse em uma entrevista ao site IndieWire que a produção contava com mais de 160 artistas de efeitos especiais e um orçamento que a permitia fazer tudo que ela quisesse.
Lovecraft é conhecido por inovar no terror misturando o encanto das várias descobertas científicas dos séculos XIX e XX com o horror de monstros além da compreensão, vindos da imensidão do espaço sideral. Se essa descrição do terror cósmico te deixou interessado, vale a pena dar uma chance a série.
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O aspecto retrô da segunda revolução industrial combinado com a culturas antigas sendo descobertas no processo de globalização é uma estética única e muito atraente para obras de ficção. Para os fãs de cinema, é como misturar Indiana Jones com Alien.
O que chamou a atenção no livro escrito por Matt Ruff, no qual a série se baseia, são os protagonistas e a maioria dos personagens coadjuvantes são negros. A série mantém essa característica, com a história de Atticus Freeman, um veterano da Guerra da Coreia que retorna a cidade natal dele para resolver questões de família com o pai, Montrose.
Com claras homenagens ao gênero do blaxploitation, Lovecraft Country usa talentos negros em praticamente todos os aspectos da produção. Seja na trilha sonora, figurinos ou consultoria histórica para retratar fielmente aspectos da realidade dos anos 1950.
Os nomes do elenco falam por si próprios: Jonathan Majors (de Destacamento Blood, de 2020) é Atticus, Jurnee Smolet (Aves de Rapina, de 2020) é a melhor amiga Letitia, Michael Kenneth Williams (The Wire, de 2002) é o pai Montrose e Courtney B. Vance é o tio e mentor George.
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Basta dizer que todos os atores estão ótimos nos papéis, que parecem ter sido escritos pensando neles.
Na década de 1950, vários estados norte-americanos ainda viviam sobre leis segregacionistas. Negros tinham bairros inteiros, assentos nos transportes públicos e até banheiros destinados para eles. Infringir essas barreiras acarretava punições e até encarceramento.
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Para quem não conhece o tema, Lovecraft Country é uma aula, com informações históricas apuradas e assustadora em vários momentos, não apenas pelos monstros fantasiosos.
Algo presente em traços da escrita (e largamente na vida pessoal) de H.P. Lovecraft eram as crenças na superioridade racial e um ódio velado a negros e demais minorias étnicas, além de culturas estrangeiras. A série aborda todas essas questões, sem tentar fugir da sombra do racismo do criador.
Desde vilões supremacistas, piores até que os monstros sobrenaturais, até atos de reparação histórica que os heróis ajudam a fazer, a luta contra o racismo é tema recorrente em Lovecraft Country. O que não poderia ser diferente logo em 2020.
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