No dia do Orgulho Bissexual, confira seis séries que acertam ao retratarem personagens bi+
Julia Harumi Morita Publicado em 21/06/2021, às 16h23 - Atualizado em 23/09/2021, às 15h25
Conforme a bissexualidade ganhou espaço na televisão, a discussão sobre como retratá-la sem perpetuar preconceitos também ganhou força. Mesmo com a inclusão de personagens gays ou lésbicas, muitas séries falharam ao excluírem e invisibilizarem a terceira sigla da comunidade LGBTQ+.
Como apontou a Rolling Stone EUA, a série hit Sex and the City (1998), trouxe o tema para o episódio "Boy, Girl, Boy, Girl...", no qual as protagonistas duvidam da existência da bissexualidade, além de sugerirem que as pessoas devem "escolher um lado". "É uma parada no caminho da Cidade Gay", diz Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker).
Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), de Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010), descreve o relacionamento dela com uma garota como "apenas uma fase". Até Kurt Hummel (Chris Colfer), da série Glee (2009), declara que "bissexual é um termo que rapazes gays usam no ensino médio quando querem andar de mãos dadas com garotas e se sentirem como uma pessoa normal, para variar.”
Outras produções incluem personagens bissexuais, mas reproduzem estereótipos, desenvolvem arcos narrativos apenas relacionados à orientação sexual, evitam dar nome à sexualidade ou apenas utilizam a nomenclatura sem desenvolvê-la. Com narrativas rasas, eles ganham características universais - e negativas: impulsivos, viciados, confusos, hipersexuais e psicóticos.
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Um exemplo recente é O Gambito da Rainha (2020), sucesso da Netflix. O único momento em que vemos Beth Harmon (Anya Taylor-Joy) se envolver com uma mulher é durante a recaída com o álcool e os tranquilizantes.
Frank Underwood (Kevin Spacey), de House of Cards (2013), Villanelle (Jodie Comer), de Jodie Comer (2018), e Annalise Keating, de How To Get Away With Murder (2014), são outros personagens que se encaixam no estereótipo do bissexual manipulador capaz abandonar os princípios morais para atingir os próprios objetivos.
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Mas como trazer uma representatividade eficaz? Talvez, o primeiro passo seja entender a nomenclatura. A GLAAD utiliza bissexualidade+ como "um termo abrangente para pessoas com a capacidade de serem atraídas por mais de um gênero. Inclui pessoas que se identificam como bissexual, pansexual, fluido, queer e muito mais."
O The Trevor Project também inclui a omnissexualidade (atração por todos os gêneros - levando em consideração o gênero); abrossexualidade (atração fluida e em mudança constante); e ceterossexualidade (atração por pessoas trans e não binárias).
Também é necessário olhar para os exemplos certeiros, afinal, eles também existem. No dia do Orgulho Bissexual, confira seis séries que acertaram na representatividade bissexual+. Confira:
Callie Torres (Sara Ramirez) começa a questionar a sexualidade dela após conhecer a Dr. Erica Hahn (Brooke Smith), com quem se envolve amorosamente mais tarde. Nas próximas temporadas, cirurgiã ortopédica começa a namorar a cirurgiã pediátrica Arizona Robbins (Jessica Capshaw), com quem se casa no episódio "White Wedding".
Longe de mostrar a bissexualidade como uma fase de autoconhecimento, o seriado de Shonda Rhimes ganhou elogios dos espectadores por explorar a descoberta da personagem com profundidade ao longo da participação dela no programa.
"Então, eu sou bissexual! E daí? É uma coisa e é real. Quero dizer, é chamado LGBTQ por um motivo. Existe um "B" ali e isso não significa "fod**". Ok, meio que sim, mas também significa bi."
De acordo com o site Deadline, Torres se tornou um marco para a diversidade na televisão e ganhou o título de personagem LGBTQ+ mais duradoura em uma produção televisiva. (Foto: Reprodução /Twitter)
Logo na primeira temporada de Crazy Ex-Girlfriend, o advogado de meia-idade Darryl Whitefeather (Pete Gardner) começa a questionar a própria sexualidade e, no episódio "Josh Is Going to Hawaii!", assume a bissexualidade dele para os colegas de trabalho.
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Com um número musical cheio de humor, o personagem canta sobre os estereótipos que devem ser quebrados. "Agora, alguns podem dizer /Oh, você é apenas gay /Por que você simplesmente não fica gay de uma vez? /Mas não é isso /Porque bi é legítimo" entoa Whitefeather.
Ele também diz: "Ser bi não implica que você seja um pegador ou uma vagabunda /Claro, eu gosto de sexo /Mas eu não sou fácil /Eu vou devagar /Até me sentir à vontade [...] Não é uma fase /Não estou confuso /Não sou indeciso /Eu não tenho que escolher /Não me importo se você usa saltos altos ou gravata /Você pode simplesmente chamar minha atenção /Porque eu definitivamente sou bi."
O arco de Whitefeather se destaca por apresentar um homem bissexual - normalmente, é comum ver mulheres com tal orientação sexual na TV. Além disso, o fato do personagem ser mais velho reforça que a bissexualidade não é uma experimentação juvenil e pode ser descoberta em qualquer idade. (Foto: Reprodução /Youtube)
Séria, reservada e intimidadora, Rosa Diaz (Stephanie Beatriz) se assume bissexual na quinta temporada de Brooklyn Nine-Nine após Charles descobrir o relacionamento dela com outra mulher sem querer. Para a informação não se espalhar sem o controle, a detetive decide revelar a orientação sexual dela para os colegas de trabalho.
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Em uma cena curta, pouco emotiva e com certa dose de humor, ela diz: "Sou bissexual". Com uma curiosidade natural, os colegas perguntam o motivo do anúncio ou quando descobriu que não era atraída apenas por homens.
Mais tarde, a personagem decide repertir a atitude na frente dos pais, porém, o momento conta com mais emoções. Os pais de Diaz não aceitam muito bem a notícia e a personagem é consolada pelos amigos.
O arco de Diaz agradou muitos fãs da série, porque a sexualidade dela não define as ações da detetive, mas a forma como ela se assume reflete a personalidade dela. Além disso, a produção mostra que, às vezes, é preciso se assumir diversas vezes, de diferentes formas. (Foto: Reprodução)
David Rose (Dan Levy) é um dos personagens LGBTQ+ mais queridos da televisão. O protagonista de Schitt’s Creek se identifica abertamente como pansexual durante uma cena descontraída da primeira temporada.
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“Eu bebo vinho tinto. Mas também bebo vinho branco. E sou conhecido por experimentar o rosé ocasionalmente. E alguns verões atrás, eu tentei um merlot que costumava ser um chardonnay.”
A trajetória de Rose também chama atenção pela ausência de homofobia, uma escolha proposital dos criadores. “Não tenho paciência para a homofobia. Como resultado, tem sido incrível levar isso para o show. Mostramos amor e tolerância. Se você tirar algo assim da equação, está dizendo que não existe e não deveria existir,” explicou Levy no Vulture Festival. (Foto: Reprodução /Youtube)
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The Bisexual quebra o estereótipo de mulheres que se envolvem com outras mulheres depois de terminarem relacionamentos com homens. Leila (Desiree Akhavan) decide conhecer parceiros masculinos após se identificar como lésbica durante anos.
A produção explora como a bissexualidade é vista dentro da própria comunidade LGBTQ+. "É uma coisa gay," diz a protagonista ao ser questionada sobre o receio de assumir relacionamentos com homens.
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Em outra ocasião, ela fala: "Quando eu ouço [a palavra] bissexual, eu penso: 'V*dia patética'. É brega, deselegante. Te faz parecer dissimulada, como se suas genitais não tivessem lealdade. Não é uma coisa legal de ser." (Foto: Reprodução /Youtube)
Euphoria se tornou imediatamente um marco para a representatividade LGBTQ+ na TV. A série acompanha a vida de diversos adolescentes, mas foca em Rue (Zendaya) e Jules (Hunter Schafer).
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A produção evita usar nomenclaturas para descrever a sexualidade dos personagens, contudo, neste caso, a escolha é positiva. Como um retrato da nova geração, Euphoria está interessada em mostrar a fluidez dos relacionamentos e a sexualidade como um espectro, como a personagem Maddy descreve.
Jules e Rue se envolvem com homens e mulheres ao longo dos episódios e, em nenhum momento, definem a orientação delas - aliás a inclusão delas nessa lista é uma suposição e vale mais para lembrar que nem sempre é preciso definir os relacionamentos de personagens LGBTQ+.
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Além disso, as duas personagens chamam atenção por receberem apoio dos pais. Mesmo assim, a série consegue abordar problemas familiares e conflitos relacionados à sexualidade, dando profundidade para as narrativas. (Foto: Reprodução)
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