Na data em que são lembrados os 80 anos desde o nascimento de Elvis, destrinchamos toda a pluralidade da cena musical que tornou o artista um ícone inesquecível
Paulo Cavalcanti Publicado em 08/01/2015, às 10h49 - Atualizado às 18h00
Quem nasce no sul dos Estados Unidos é abençoado pelos deuses da música. O ambiente é impregnado por blues, gospel, jazz, country e folk e é fácil se envolver com estas sonoridades. Quando Elvis Presley, que nasceu há exatos 80 anos, era um garoto em Tupelo, Mississippi, teve como primeiro interesse a música gospel. Ele nunca mais a abandonou. Depois que se mudou para Memphis, o leque se abriu ainda mais. Na adolescência, Elvis era uma enciclopédia musical, absorvendo toda a produção musical do período.
Galeria: O lado gospel de Elvis Presley.
Existe uma escola de pensamento de que evolução musical de Elvis seguiu de uma forma linear, ou seja, ele começou cantando rock e morreu exclusivamente como interprete de baladas. Desde o começo, Elvis gostava de coisas muito variadas. Mesmo quando estava gravando na Sun Records - já cantava faixas mais lentas. É verdade que nos últimos anos ele dava preferência a canções dramáticas, que refletiam seu estado emocional instável pós-divórcio. Mesmo assim, ainda gravava uma ou outra canção mais agitada, sempre com bons resultados.
Naturalmente, sendo um filho do sul, Elvis cresceu ao lado da música country e vasculhava o repertório do gênero, embora evitasse material mais choroso, patriótico ou estereotipado. Um de seus primeiros heróis musicais foi Mississippi Slim (Carvel Lee Ausborn), um obscuro cantor country que apresentava um programa de rádio em Tupelo. Slim não era totalmente hillbilly e a música dele tinha um pouco de balanço e influência de blues. O pequeno Elvis chegou até a cantar duas vezes no programa de Slim, com o artista country fazendo acompanhamento na guitarra. Foi o primeiro contato que Elvis teve com o showbusiness.
Na época da Sun e no começo de seu período na gravadora RCA, Elvis fez parte de caravanas country e cruzou o caminho de astros tradicionais como Hank Snow, Ferlin Husky, Faron Young, Eddy Arnold, The Louvin Brothers, The Carter Family e Bill Monroe. Ele também admirava nomes com vozes melodiosas e bem colocadas como Sonny James, Jim Reeves e Marty Robbins. Nos anos 70, ele voltou às raízes rurais e, em 1971, gravou Elvis Country, considerado até hoje um de seus melhores álbuns.
Elvis nunca se interessou particularmente pela geração de cantores populares que vieram antes dele, influenciados pelo jazz, Broadway, musicais de Hollywood e pelo som de suingue das big bands. Em 1967, Elvis disse: “Jazz é um negócio que eu não consigo entender”. Elvis apreciava uma ou outra canção de Frank Sinatra e Bing Crosby, mas nunca foi fã deles e de outros cantores contemporâneos. Gostava mesmo de Dean Martin, cujos filmes com Jerry Lewis ele assistia nos cinemas de Memphis. O estilo napolitano descompromissado de Martin e a forma como ele “entortava” as palavras podem ser percebidas em várias interpretações de Elvis.
A carreira de Elvis Presley em fotos.
A música negra foi uma influência gigantesca na formação de Elvis. Uma das maiores bobagens quando se escreve sobre o cantor é dizer que ele teria “roubado” a música dos negros e a transformado em algo aceitável para as grandes massas consumidoras. Isso é papo de quem nunca esteve no sul dos Estados Unidos. Lá, a troca de informações musicais é algo natural e ultrapassa as barreiras raciais e sociais. O próprio Elvis sempre assumiu que o rock não passava da mistura de rhythm and blues, gospel e um pouco de country.
O fato é que parecia improvável um jovem branco conhecer tão bem nomes obscuros do blues rural e rhythm and blues como Roy Brown, Furry Lewis, Wynonie Harris, Lowell Fulson, Lonnie Johnson, Bobby “Blue” Bland e Arthur Crudup, dentre outros. Elvis ouvia esses artistas nas rádios de ondas curtas das inúmeras emissoras do sul nos Estados Unidos. Havia uma convergência. Afinal, dois dos futuros mentores de Elvis seriam a dupla de compositores/produtores Jerry Leiber e Mike Stoller, jovens judeus que trabalhavam no vernáculo da música negra desde o começo dos anos 1950 e foram, mais do que ninguém, responsáveis por tirar o R&B dos guetos e dar à música uma cara universal e com apelo mais abrangente.
Rufus Thomas e B.B. King, dois músicos que começaram como DJs em Memphis e depois se transformaram em ícones do blues e do R&B, tinham Elvis na mais alta estima. Thomas falou: “Um monte de gente diz que Elvis roubou a nossa música, o som dos negros. Os negros e brancos na verdade não têm música. Ela pertence ao universo.” O lendário B.B. King relatou em sua autobiografia: “Eu o ouvi (Elvis) cantando aquela música do Arthur ‘Big Boy’ Crudup e comecei a ter respeito por ele. Ele fazia muitas coisas que soavam para mim como música negra. Finalmente eu o conheci e vi que era autêntico, não era só um rapaz bonito. E fez muito mais. E foi assim até morrer”.
Ahmet Ertegün, o manda-chuva da Atlantic Records, quis comprar o passe de Elvis da Sun, mas foi vencido por Steve Sholes da RCA-Victor. Se Ertegün estava plenamente ciente do potencial do cantor, Elvis, em contrapartida, também era grande fã do R&B urbano que vinha dos estúdios da Atlantic. Ele já conhecia a música de Ray Charles antes mesmo de este se tornar um astro de massa. Gostava também do jump blues de Chuck Willis, The Clovers e LaVern Baker. Clyde McPhatter, um dos vocalistas do The Drifters na metade dos anos 50, foi um das maiores influências vocais que Elvis teve. O Rei copiou os maneirismos de McPhatter (como soluços e pausas dramáticas) em covers do Drifters como “Money Honey” e “Such a Night” e emulou a verve dramática do cantor para baladas em “Without Love”.
Antes de ir para o The Drifters, Clyde McPhatter tinha feito parte do grupo pioneiro do R&B Billy Ward and His Dominoes. Um dos vocalistas que o substituiu McPhatter foi Jackie Wilson. O interessante é que em “Reet Petite” (1957), o primeiro hit solo de Wilson, ele imita Elvis. Wilson, em suas apresentações, também cantava algumas músicas do Rei. Quando Elvis gravou ao lado de Carl Perkins e Jerry Lee Lewis a sessão que ficou conhecida de The Million Dollar Quartet, Elvis disse: “Eu vi esse cara (Wilson) um dia desses cantando em (Las) Vegas no Billy Ward and His Dominoes. Ele começou a cantar uma música minha. Cara, ele me imitou. Ele se esforçou tanto que foi até melhor do que eu”. E começou a cantar “Don’t Be Cruel” da maneira que ele tinha visto Jackie Wilson interpretar a canção. Ele fez a mesma coisa quando interpretou a canção no Ed Sullivan Show em janeiro de 1957. Depois, Elvis e Wilson finalmente se conheceram e se tornaram amigos. Elvis até começou a se vestir e usar o cabelo igual a Wilson. No filme Garotas!Garotas!Garotas!, no número musical “Return To Sender”, Elvis imita os maneirismos de palco de Wilson. O soulman teve um ataque cardíaco em pleno palco em 1975 e permaneceu em coma até morrer em 1984. Nesse ínterim, Elvis ajudou a pagar as contas de hospital do amigo e fonte de inspiração.
Em Roy Hamilton, Elvis encontrou o melhor dos dois mundos. Hamilton era um cantor de R&B que possuía um trovejante barítono e suas interpretações foram decisivas na evolução de Elvis como cantor. Ao longo dos anos, Elvis gravou marcas registradas do mentor como “Unchained Melody”, “Hurt” e “You’ll Never Walk Alone”. Eles se conheceram em 1969, no estúdio da American, pouco antes de Hamilton morrer.
O acetato particular que Elvis gravou em 1953 juntava as canções “My Happiness” e “That's When Your Heartaches Begin". Ambas tinham sido gravadas pelo grupo vocal The Ink Spots, que Gladys, mãe do cantor, adorava. Bill Kenny, o cantor principal do The Ink Spots, foi outra grande influência. A voz grave e solene de Kenny foi imitada por Elvis em várias ocasiões. O Rei também herdou outra característica do líder do Ink Spots: as declamações, que aparecem em clássicos como “Are You Lonesome Tonight”.
Outros pioneiros do rock contemporâneos de Elvis causaram impressões variadas no Rei. Ele considerava a voz de Roy Orbison perfeita e nunca quis cantar nenhuma canção do texano por não se achar à altura. Também tinha grande respeito por Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e Johnny Cash, amigos da época da Sun. Gostava de Chuck Berry e cantou várias canções dele ao longo de sua carreira. O pianista Fats Domino também era outro amigo e herói. Elvis também achava Pat Boone um bom cantor de baladas. Mas o Rei deu uma sacaneada em Gene Vincent. Quando o hit de Vincent “Be-Bop-A-Lula" saiu, Elvis comentou maldosamente que tinha recebido um telegrama de sua mãe que dizia: “Parabéns pelo seu novo hit, ‘Be-Bop-A-Lula’”.
A música latina também era algo que falava alto ao coração de Elvis, especialmente as canções napolitanas. Uma das maiores influências de Elvis no começo dos anos 60 foi o ator e tenor norte-americano Mario Lanza, seu companheiro da gravadora RCA, que juntava com enorme sucesso ópera com pop. “It’s Now Or Never” e “Surrender” são tributos óbvios de Elvis a Lanza, uma amostra da dedicação de Elvis à arte do bel canto.
Elvis aparentemente permaneceu alheio a boa parte da efervescência musical dos anos 1960. Ele agia de maneira blasé em relação aos Beatles – realmente não entendia o papel deles como agentes transformadores da cultura. Mas nunca deixou de reconhecer que as criações Fab Four eram duradouras e interpretou várias delas ao vivo ou em jams de estúdio. O que mais interessou a Elvis na década de 1960 foi a folk music. Gordon Lightfoot e Peter Paul and Mary eram audição obrigatória em suas residências em Memphis e Bel Air. Elvis não gostava da voz abrasiva de Bob Dylan e fazia piadas a respeito. Com o tempo, ele conheceu composições do bardo de Minnesota através de interpretação de Peter Paul and Mary, Bobby Darin e Odetta. Ele se tornou fã do Dylan compositor, mas não do Dylan intérprete.
Entenda a evolução do rock em 11 passos.
No álbum How Great Thou Art, Elvis teve a chance de gravar com um de seus mentores no segmento gospel: o vocalista Jake Hess, ex-Statesmen Quartet e que tinha fundado o The Imperials. Quando Elvis voltou aos palcos em 1969, fez questão de ter um batalhão de cantores de apoio. O grupo feminino Sweet Inspirations dava o toque soul e o quarteto The Imperials se encarregava do som gospel. Infelizmente, Jake Hess, devido a problemas de saúde, já não se apresentava mais ao vivo e não participou. Em 1972, por questões financeiras e de agenda, The Imperials deixou Elvis, mas o Rei não perdeu tempo e realizou outro sonho. Chamou J.D Sumner & The Stamps para tomar conta das vozes masculinas. Summer, ex-Blackwood Brothers e um dos mais conhecidos cantores de voz grave, era ídolo de infância de Elvis e um superstar da música religiosa. Em suas apresentações nos anos 1970, o segmento que incluía as canções gospel eram os pontos altos. Elvis também abria espaço para seu novo herói Sherrill Nielsen, membro do quarteto Voice, que fez parte dos shows de Elvis por pouco tempo. The Voice dispersou, mas Elvis manteve Nielsen até o fim. O Rei confessava que ouvir o barítono puro de Nielsen era uma das coisas que mais o confortavam nos tempos difíceis.
Se Elvis passou batido pela Invasão Britânica, psicodelismo e Motown, ele se interessou por um estilo de rock do sul dos Estados Unidos que floresceu brevemente no final dos anos 60: o swamp rock. O cantor ainda gostava do Creedence Clearwater Revival, banda que procurava resgatar o som dos pioneiros da Sun Records. Um dos compositores favoritos de Elvis no começo dos anos 1970 era Tony Joe White e a interpretação do Rei para “Polk Salad Annie”, de White, era um dos pontos altos dos shows dele nos anos 1970.
Pessoas mais chegadas a Elvis dizem que ele nunca considerou os Beatles como competidores. Seus “rivais” eram Tom Jones e Engelbert Humperdinck. Quando Elvis voltou a cantar em Las Vegas, esses eram os exemplos a serem seguidos. Jones e Humperdinck tinham muita coisa comum: eram empresariados por Gordon Mills e seus repertórios tinham baladas orquestradas e realçadas por arranjos bombásticos. Na década de 1970, Elvis estava cada vez mais explorando a voz e sua ambição era sempre ultrapassar os dois competidores britânicos.
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