808's & Heartbreaker distancia Kanye West do rap

A dois dias de se apresentar no Tim Festival, norte-americano mostrou novo álbum para imprensa brasileira. Saiba como ele é

Por Artur Tavares Publicado em 21/10/2008, às 12h27

Uma dúzia de jornalistas batia suas canetas na mesa ou rabiscava com lápis o papel oferecido pelo hotel onde o rapper Kanye West mostrou nesta segunda-feira, 20, 808's & Heartbreaker, seu novo disco, à imprensa brasileira. Eram 17h30 quando West voltou do almoço com mais cinco ou seis pessoas, todas de sua produção. Estava uma hora atrasado. Sorrindo sem graça, se desculpou. "Se eu soubesse que [o almoço] era tão longe, não teria ido".

West se apresenta no Brasil durante o Tim Festival. Primeiro em São Paulo, nesta quarta-feira, 22, depois no Rio de Janeiro, na sexta-feira, 24. Apenas duas músicas do novo álbum serão tocadas: "Love Lockdown" e "Heartless", ambas singles do disco, que sai em novembro. Com outros três álbuns na bagagem, entre eles Graduation, de 2007, o rapper promete um espetáculo de luz, música e cores nos palcos do festival.

Ansioso para mostrar o disco, West correu para a mesa de som improvisada para tentar consertar a distribuição do áudio, que saía apenas pela caixa direita. Do seu lado, um jovem trabalhador do hotel o auxiliava enquanto uma assessora pedia para que celulares fossem desligados e deixados em cima de uma mesa, para evitar o vazamento do disco. "Todo mundo aqui fala inglês?", o rapper pergunta aos jornalistas, recebendo uma resposta positiva. "Então porque eu preciso de uma tradutora?", brincou, arrancando risadas.

As primeiras batidas geradas por sintetizador saem do iPod de West, acompanhadas de tambores secos. A base é praticamente a mesma em todas as dez músicas apresentadas (de um total de onze que compõem o álbum), ora mais aceleradas, ora mais lentas. Na introdução do disco, o rapper canta "Welcome to Heartbreak". De repente, no meio de um estrondo do tambor, pára o tocador de mp3, e rindo, diz: "Viemos no avião discutindo qual música deveria ser a abertura do álbum. Vejam o que acham desta".

Desta vez, uma melodia sem batidas, mas com uma semelhança em relação à anterior: West canta, mas não despeja rimas, que ficam por conta de Young Jeezy. A música se chama "Amazing" e pode ser também a nona canção na escalação de 808's & Heartbreaker. É também a única música de hip-hop do disco. Discute com os jornalistas, que se dividem entre qual das duas deveria abrir o álbum. O cantor anota tudo em um papel.

Durante toda audição, ficou claro que West fez deste novo disco um trabalho mais pessoal. "Fiz só dez ou doze canções. Não faço bônus track, e sim músicas de verdade. Prefiro trabalhar com conceitos fortes e ficar aperfeiçoando-os por muito tempo", explicou no final da apresentação. A ordem do álbum volta ao normal, com "Heartless" e "Love Lockdown", esta última a grande candidata a hit do álbum, mais vigorosa, com mais tambores e sintetizadores. Mais uma vez, canta e não rima.

Além do piano, que West já havia usado em Graduation, o novo álbum tem um outro instrumento inusitado em discos de hip-hop, o violino. "Robocop" vem em seguida, primeiro etérea, com efeitos de sintetizadores na voz de West, depois pesada, mais uma vez com os tambores.

O conceito "glowing in the dark" (brilhando no escuro), usado na construção das apresentações e do figurino do rapper, é muito presente em 808's & Heartbreaker, principalmente em "Robocop" e sua predecessora, "Anyway", que começa embalada pelos violinos, e depois vai ao maximal, a vertente eletrônica adotada pelos duos Justice e Daft Punk. West, que conduz a audição de luzes apagadas, acompanha com os lábios cada letra, enquanto dança empolgado. O disco já está na quinta música e o músico ainda não rimou. As canções continuam com um vocal mais puxado para o soul, baixo, como sua voz enquanto fala com outras pessoas.

"Street Lights" é o nome perfeito para a sexta música do álbum, que leva o ouvinte na hora para as noites glam/noir de Miami no final dos anos oitenta, daquelas de seriados como Miami Vice e Baywatch. Os sintetizadores e as batidas são responsáveis pela viagem ao passado. O tambor volta, desta vez com uma batida eletrônica que lembra o videogame Pong, o primeiro da história. É "Say You Will", que fica mais devagar, uma balada de amor. Uma briga de casal aparece em "Real Bad News". Sempre que fala de amor, West se mostra para baixo, como o perdedor, aquele lesado por sua companheira, diferente de rappers que mostram mulheres como objetos em suas letras.

"Amazing" volta a tocar e então entra a última música. Fica a dúvida se é "Tell Everybody That You Know" ou "Coldest Winter". O nome das canções tocadas não foram divulgadas pela produção do rapper. Encerrando o disco em um ritmo mais lento, esta última gravação é também a mais fraca do disco.

Sem jeito, West espera as reações dos jornalistas, que, frios, tratam de se levantar rapidamente. Os sorrisos de sua pequena audiência parecem suficientes para o rapper, que, no Tim Festival, vai ter a oportunidade de esperar as reações mais uma vez, desta vez de uma platéia fiel a seu som.

Tim Festival

Brilhando no Escuro - Kanye West

São Paulo - 22/10, às 21h

Arena de Eventos - Parque do Ibirapuera

R$ 250,00

Rio de Janeiro - 24/10, às 21h30

Marina da Glória

R$ 250,00

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