Inspirado em músicas de Roberto Carlos, À Beira do Caminho anda na linha fina que separa o emocionante do piegas, mas pisa com os dois pés no clichê
Stella Rodrigues Publicado em 10/08/2012, às 11h18 - Atualizado às 11h23
Roberto Carlos tem na cultura brasileira mais ou menos o efeito que a seleção de futebol masculino, que pára o país durante a Copa do Mundo por mais feio que ande seu futebol. Roberto pode fazer o show mais cafona que quiser que a Globo vai dar espaço para ele no fim de ano e conseguir audiência com isso. Ele é também a aposta do diretor Breno Silveira, que se apaixonou pelo conjunto da obra do Rei durante sua primeira crise de dor de cotovelo. Depois de se aventurar pelo caipira no arrebentador de recordes 2 Filhos de Francisco - A História De Zezé Di Camargo & Luciano, o diretor Breno Silveira resolveu investir no som romântico-brega de Roberto Carlos, a quem faz praticamente uma ode. Os versos de amor dele servem como inspiração para história e trilha sonora do longa, que traz no elenco João Miguel, Dira Paes, Ângelo Antônio, o garoto Vinícius Nascimento e Ludmila Rosa.
A trama desenvolvida por Patrícia Andrade, parceira de longa data de Silveira, é carregada de clichês e beira o piegas. Um caminhoneiro ranzinza (Miguel) encontra escondido em seu caminhão Duda (Nascimento, que à época tinha só 10 anos e se mostrou bastante talentoso), um garoto órfão que estava pegando carona sem escondido. As tentativas de entregá-lo para as autoridades fracassam e João, o caminhoneiro, acaba concordando em levar o menino até São Paulo, onde ele tentará encontrar o pai, mesmo que tenha poucas pistas para ajudá-lo nessa busca. O final acaba sendo bem previsível ao longo de toda a história, embora a gente torça para que ele não aconteça.
Duda funciona como um amaciante no tecido áspero que encobre João. Sem se conformar em respeitar as reservas e recusas emocionais de João – que, afinal, é o mais próximo de um guardião que ele tem naquele momento – o garoto vai arrancando a história de vida sofrida do protagonista, que envolve canções de Roberto misturadas a muitos arrependimentos. Somos apresentados a esses dramas, a maior parte do tempo, por meio de flashbacks que nos dão um olho mágico para dentro da alma daquele homem antes de ele se transformar em uma espécie de Dr. House sem sarcasmo (ou tanta profundidade).
A verdade é que a cafonice inerente às canções de amor transbordam para dentro do roteiro, tornando algumas sequências cansativas, dignas de um novelão. E o problema de acompanhar novela é que a gente já começa a vê-las com a sensação de que lemos muitos spoilers a respeito da trama, já que elas tendem a se repetir tanto. Por outro lado, as canções de Roberto, que pesando a mão na emoção traduzem tão bem relações amorosas, de amizade e familiares, se casam bem com as cenas que sonorizam e podem fazer o papel de tocar na memória afetiva do espectador. E a vantagem de se fazer um “road movie” é que os cenários de estrada rendem belos takes, fazendo com que imagem e trilha compensem parcialmente os pecados do roteiro, que poderá fazer chorar ou revirar os olhos - dependendo do grau sensibilidade do dono do par de olhos em questão.
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