A Era do Gelo 3 aquece Hollywood

Batemos um papo com o brasileiro Carlos Saldanha, responsável pelos três filmes da saga glacial; animação estreia nesta quarta, 1º

Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 01/07/2009, às 12h54

Dizem por aí que lutar contra a decadência da indústria cinematográfica é enxugar gelo - melhor desistir. Fatores como a pirataria e a competição com outras mídias não raramente têm feito os estúdios apanharem nas bilheterias. Mas, se a era dourada de Hollywood já era, há um tipo de filme com vocação para se safar dessa. E é justamente nessa categoria que A Era do Gelo 3 se encaixa.

São três os aspectos que o brasileiro Carlos Saldanha, mais uma vez à frente da franquia de animação, tem a seu favor. Para começo de conversa, o filme, que entra em cartaz nesta quarta, 1º, é o terceiro capítulo de uma série bem sucedida - enfim, que já disse a que veio. Apostas assim vêm se provando mais seguras, vide homens-aranhas e homens-morcegos da vida.

Temos, ainda, a inovação do 3D - e aí não tem jeito: ainda está para nascer pirataria que consiga emular essa tecnologia. É a primeira vez que você vai pôr aqueles óculos gozados (relaxa, todos na sala estarão vidrados na tela e não darão a menor bola para a falta de apelo estético do acessório) para ver os heróis glaciais em três dimensões. No total, serão 60 salas no Brasil com a nova tecnologia - a "velha escola" ainda ganha, com suas 650 salas em 35mm.

Para Saldanha, contudo, a mais valiosa carta na manga é também a mais antiga. "Quando assisto a desenhos da Disney, coisa de 40 anos atrás, olho e não vejo nada datado", disse, em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil. Nesse ponto, a fórmula de A Era do Gelo 3 se transforma naquela "eureca" que nunca envelhece. A aventura dos amigos Manny (o mamute), Diego (tigre dente-de-sabre) e Sid (preguiça) é o perfeito exemplo do "filme de família" - do tipo que satisfaz pais e filhos em igual medida.

No bate-papo por telefone com a RS Brasil, Saldanha explicou as novidades para o terceiro A Era do Gelo, opinou se a animação já está em sua fase Jetsons ou mal acabou de sair do período Flintstones e falou sobre seu novo projeto, a animação Rio, sobre uma arara que retorna ao Brasil. O filho pródigo à casa torna?

Qual é a diferença de A Era do Gelo 3 para os filmes anteriores?

No primeiro, não sabíamos se ia fazer sucesso. Quando criamos os personagens, por exemplo. Com o sucesso, falamos, 'ok, vamos para o segundo', que girou mais em torno da família, dos amigos. Aí, focamos na história de Manny aumentando a família, encontrando [a mamute] Ellie; tudo vira uma grande família. Neste terceiro, Ellie está grávida. A história se foca na situação do pai - do pai "esperando nenê" e em como isso vai afetar a amizade. Fora isso, eles descobrem este mundo de dinossauros. O rumo [de Era do Gelo 3] é diferente, mais épico, essa coisa de aventura. Há, ainda, personagens novos, como a doninha Buck, um Indiana Jones meio maluco.

E mudar para o 3D, deu muita trabalheira?

O filme precisa funcionar em 3D e tela normal. Mas o 3D, como diretor, te ajuda a sacar mais. Coisas que você antes, de repente, ignorava - câmeras, composições. Com 3D você vê tudo. Todas as camadas aparecem. É preciso ficar mais ligado para que a coisa não saia micada. [As imagens ficam] tão perto do rosto que, com um corte muito rápido, o olho fica com uma sensação estranha...

A Era do Gelo 4 já está a caminho?

Acho que vai rolar uma ideia nova, sim. Eu, particularmente, não vou trabalhar [na sequência].

Qual é a próxima barreira a ser quebrada pela animação?

Animação é animação. Se mudar muito, vira outra coisa - como um live, algo meio interativo. Se vamos interagir com personagens na tela, já não sei. Mas, no final do dia, você vai querer ver um bom filme e é isso que importa.

Sua próxima animação terá uma arara e se chama Rio. Ser brasileiro vai ajudar a fugir das visões batidas sobre o país ou vai vestir a carapuça do Zé Carioca?

Vou tentar ser o mais autêntico possível com o Brasil, não ser pejorativo. Mas a história é de um estrangeiro no país. Quando o gringo vai ao país, vê Corcovado, Pão de açúcar, tráfico, favela. Isso é real. Tráfico de animais silvestres é real. Tem que ter conflitos e coisas boas - também não vai ser um Cidade de Deus!

A quantas anda a animação brasileira?

Atualmente, está bem melhor do que quando eu morava aí - uns 17 anos atrás. Hoje tem escola especializada, mestrados. Já há várias opções, você nem precisa sair - há escolas virtuais fantásticas!

Confira a resenha de A Era do Gelo 3 e outro trecho da entrevista com Saldanha na edição de julho da Rolling Stone Brasil.

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