O Lobisomem, que estreia nesta sexta, 12, nos cinemas, recoloca os filmes de monstro na área dos clássicos de horror
Por Ricardo Franca Cruz Publicado em 12/02/2010, às 14h08
Se vampiros que brilham à luz do sol e garotos malhados de atuação obtusa que viram gigantescos lobos são o atual sonho molhado das adolescentes, lobisomens clássicos, por excelência, são a representação das regiões abissais e escuras da psique humana. E por clássicos entendem-se criaturas híbridas entre lobos e humanos, que conservam traços distantes de humanidade pré-lua cheia, perdidos em meio a pêlos, garras e uma voracidade verdadeiramente selvagem.
É deste tipo o monstro protagonista de O Lobisomem, dirigido por Joe Johnston e vivido por Benicio Del Toro, que chega nesta sexta-feira, 12, aos cinemas: uma fera clássica, sanguinária, desprovida de elementos pop que a tornariam mais palatável às novas gerações e mais rasa e colorida aos olhos dos fãs do verdadeiro cinema de horror. O homem lobo aqui é fiel às raízes, uma revisão moderna, mas não modernosa, do clássico de 1941 O Lobisomem, da Universal, protagonizado por Lon Chaney Jr.
A maioria dos contos ocidentais modernos de terror é pop e vazia demais, com vampiros coloridos, ora adolescentes apaixonados por meninas comuns sem graça ou charme, ora seres éticos que abrem mão do sangue quente vindo direto da fonte por uma versão sintética engarrafada. Numa perspectiva histórica, apesar dos acréscimos à mitologia destes monstros, tudo se deixa a dever para o horror clássico. Isso não acontece com O Lobisomem versão 2010. O filme é sombrio, gótico, se passa na era vitoriana e carrega o peso das interpretações de Del Toro e do velho e bom Anthony Hopkins. Ainda que Del Toro seja sempre ele mesmo, com os mesmos olhares de pinguço e a voz embargada, e que o mesmo aconteça com Hopkins, que aqui lembra o pai de Brad Pitt em Lendas da Paixão, é a presença de ambos que torna o filme mais interessante. E o sangue que jorra a cada aparição do monstro, beirando o gore.
Diferente do lobisomem da Universal, no novo filme Sir John (Hopkins), o pai de Lawrence Talbot (Del Toro), um ator shakesperiano que volta à propriedade da família no País de Gales para ajudar a futura cunhada a encontrar o irmão perdido, ganha maior e fundamental participação na trama, abrindo caminho para um desenrolar surpreendente, insano e violento. Se crueldade fosse uma característica que pudesse ser atribuída a seres irracionais, o lobisomem na pele de Del Toro seria o mais cruel dos monstros do cinema moderno, retalhando, eviscerando e degolando os mortais que cruzam seu caminho. Vide a cena do ataque ao acampamento cigano, que em muito lembra a cena do ataque ao cinema em Um Lobisomen Americano em Londres, ainda imbatível no quesito transformação e efeitos. O mesmo mestre, Rick Baker, verdadeira lenda em Hollywood, criou tanto as criaturas quanto as transformações em ambos os filmes, mas se mostra melhor no filme dirigido por John Landis. A grande diferença é que o bichão de Landis é um lobo grande e o de Johnston conserva traços humanos - anda ereto, mantém as roupas de sua versão humana e ameaça reconhecer a amada em momento crucial do filme.
Este O Lobisomem novo ocupa lugar próprio na galeria dos grandes filmes de lobisomem da história do cinema, ao lado de, para citar os mais interessantes, o clássico preto & branco da Universal, Um Lobisomem Americano em Londres e o pouco falado Grito de Horror (The Howling). Não espere horror assustador, mas sim alguns sustos, afinal você já sabe que vai ver um filme de lobisomem. Mas vale cada centavo do ingresso.
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