Neon Neon contraria Klaxons e faz melhor show no segundo dia de Arena no Tim Festival paulistano
Por Artur Tavares Publicado em 24/10/2008, às 13h17
Se o Klaxons veio ao Brasil tentando provar que a New Rave está morta, o Neon Neon chegou mais cedo para contrariar os fundadores e maiores expoentes do estilo, que já há algum tempo declararam o fim do movimento ultra-colorido.
O começo da segunda noite da arena de eventos do Tim Festival em São Paulo parecia anunciar um fracasso. Vinte ou trinta adolescentes esperavam encostados na grade do palco o início da apresentação dos galeses do Neon Neon. Outras poucas mais, que somadas não chegavam a mil, se amontoaram quando o show começou, com bateria, baixo e dois teclados embalando "Neon Neon Theme".
Assim que a primeira música acabou, uma voz vinda de lugar nenhum conversava em português com a platéia. Notava-se o sotaque, mas parecia que era um sampler pré-gravado, que primeiro anunciou "Esta é a história de John De Lorean", se referindo ao show, uma versão reduzida do álbum-conceito Stainless Style, que conta a vida do empresário que batizou a DeLorean Motor Company.
Versões muito mais dançantes de "Dream Cars" e "I Told Her On Alderaan" foram tocadas. A voz misteriosa voltava a cada música, sempre com um português falado por um gringo, arrancando risadas da audiência. Sem guitarras, o show entrou em "Raquel", totalmente comandada pelas duas baterias - a comum e a eletrônica -, pelos sintetizadores e pela hilária face do vocalista Gruff Rhys, que guarda uma semelhança com o comediante Will Ferrell.
O mais divertido, porém, ainda estava por vir. Primeiro o grupo tocou "I Lust U", cantada pela baixista, que não tirou a mão esquerda do bolso, e quase não largou uma lata de cerveja com a mão direita. Uma luz branca projetada sobre a platéia transformou a pista em um arco-íris, enquanto Cate Thimothy parecia cantar em um karaokê. Logo em seguida, cabeludo dos lados e careca no topo, bem acima do peso e com uma camiseta curtíssima dos Menudos que deixava sua barriga para fora - o que não deveria acontecer nos anos 80, quando o grupo de Rick Martin estava na ativa - Sean Tillman entrou para comandar a parcela mais hip-hop da apresentação.
Após cantar "Trick 4 Treat"; ou melhor, dançar, rebolar como Elvis Presley e até plantar uma bananeira enquanto rimava, arrancando da platéia a maior salva de palmas do dia, Tillman assumiu a bateria eletrônica enquanto o grupo cantava "Michael Douglas", mais uma versão completamente diferente da mostrada no único disco do grupo, muito mais dançante e pesada, com menos dependência dos sintetizadores para funcionar.
Desde que havia cantado sua música, Thimothy ficou sentada aproveitando a cerveja. Levantou para "Sweat Shop", outro rap comandado por Tillman. Curta, a apresentação acabou com "Stainless Style", que foi transformada em um samba pelo grupo. Pouco a pouco, seus integrantes foram saindo, enquanto Rhys berrava estridente e tocava um teclado Casio dos anos 80 modificado por métodos de Circuit Bending. Seu companheiro de sintetizador, Bryan Hollon, foi o último a sair, deixando a porta aberta à grande atração da noite.
Passou uma hora até que os roadies do Klaxons acertassem os instrumentos da banda, que fez uma apresentação curta e pouco eletrônica. O quarteto parecia cansado, sem vontade de se apresentar. Tão comentada pela imprensa mundial, a festa que o grupo faz no palco pareceu não ter vindo ao Brasil.
Rapidamente, passaram por quase todo o disco de estréia, Myths of The Near Future, além de terem tocado duas inéditas, "Moonhead" e "Calm Trees". A primeira não lembra em nada o Klaxons anunciado para tocar no país, com uma sonoridade dançante mais puxada para o punk; a segunda tem alguns efeitos eletrônicos, mas nada que se compare a "Isle of Her" e "It's Not Over Yet", última da apresentação e primeira do bis, as mais sintetizadas pelo grupo durante o show.
Simon Taylor, guitarrista e namorado da brasileira Luísa Lovefoxxx, era o mais concentrado na apresentação. Não conversou com o público, não falou com seus companheiros, executou suas danças descoordenadas de sempre. Os outros três integrantes, por sua vez, chegaram a parar no meio de "Magick", apenas para serem aplaudidos pelo público.
Em "Totem of Timeline", o chão de madeira montado em cima do Parque do Ibirapuera parecia que ia desabar. Era a terceira música e o público ainda estava muito empolgado, pulando e acompanhando as músicas em coro. Já em "As Above So Below" e "Two Receivers", tocadas logo após "Moonhead", a audiência estava dividida. Uns saiam da arena, outros acenavam para o grupo, enquanto alguns fervorosos ainda aplaudiam o show. O grupo, por sua vez, não parava de dizer frases prontas como "Amamos vocês", "Aqui é o melhor lugar para tocar" e "Vocês são uma ótima audiência".
Na segunda e última canção do bis, "Four Horseman of 2012", chamaram Tillman do Neon Neon ao palco. Crente de que o músico iria salvar a noite, parte do público que já deixava a arena voltou correndo para a apresentação. O cantor, porém, só tirou a camiseta, dançou no palco e arrancou algumas risadas, mas não tirou o mau-humor de algumas pessoas que saíram reclamando dos jovens ingleses.
Para coroar a noite que começou com muito bom humor, duas pessoas reclamavam de um grupo de seguranças que passou o dia "conversando e queimando um"; palavras irônicas, já que saíram da boca de bombeiros. Quem ouviu, ainda riu um pouco mais antes de ir embora se queixando da apresentação.
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