Será que Petraeus é capaz de vencer a guerra?
Por Michael Hastings Publicado em 24/06/2010, às 19h34
O presidente Obama, ao anunciar a substituição do general Stanley McChrystal agora, tentou tranquilizar o povo norte-americano em relação à guerra no Afeganistão. "Esta é uma mudança de pessoal", ele declarou, "mas não uma mudança de plano de ação".
E o problema está exatamente aí.
A troca de generais provavelmente não vai solucionar o problema real do Afeganistão: as falhas fundamentais na estratégia de contrainsurgência dos Estados Unidos.
Então, por que o presidente escolheu David Petraeus, o general mais político - e esperto no tratar com a imprensa - de sua geração, para substituir McChrystal? Petraeus faz sentido. Ele é considerado o herói do Iraque, e ele conta com a confiança do público. Não vai ser pego dizendo, nem morto, que a ofensiva em Marja foi uma "úlcera aberta", como aconteceu com McChrystal. Sua indicação o neutraliza como rival político para 2012 (apesar de isso ser altamente improvável). Ele literalmente escreveu o livro da contrainsurgência, com a redação do manual de campo do exército sobre a estratégia dos EUA que está sendo executada no Afeganistão. Acima de tudo, ele é mestre em compor uma narrativa que os norte-americanos estão ávidos para ouvir. Praticamente sozinho, ele convenceu muita gente em Washington que o "aumento de pessoal" no Iraque resultou em algum tipo de vitória importante na Mesopotâmia - noção que está pau a pau com o pensamento de que a Pizza Hut oferece uma boa pizza.
Ele é a narrativa que em breve será vendida aos norte-americanos: as coisas vão ser difíceis no Afeganistão. Vai piorar antes de melhorar. Mas, no fim, com a velha e boa perseverança dos norte-americanos, a violência vai diminuir (dedos cruzados). Quando isso acontecer, os soldados norte-americanos vão parar de morrer em grandes números - e os norte-americanos vão parar de prestar atenção em grandes números.
É uma narrativa reconfortante, mas é provável que se comprove falsa. Mesmo que a contrainsurgência dê certo no Afeganistão, como deu no Iraque, a melhor esperança é de que a derrota se transforme em empate para salvar a pele de todo mundo. O governo norte-americano vai gastar centenas de bilhões de dólares e milhares de vidas para executar uma estratégia que, no fim, provavelmente não vai fazer com que o país esteja mais protegido contra terroristas.
Petraeus representa uma mudança de estilo, não de substância. Ele também conta com o apoio de personagens fundamentais dentro do Conselho de Segurança Nacional do presidente. Tem boas relações com a secretária de Estado, Hillary Clinton, e com o secretário da Defesa, Robert Gates. Sua falha mais notória, de acordo com as pessoas que o conhecem, é sua ambição sem limites. No Iraque, ele representou o papel de general jovem, um rosto novo no exército que apareceu no último instante para salvar os Estados Unidos de uma derrota catastrófica. Mas agora, no Afeganistão, Petraeus vai ficar com o papel de herói relutante. Em "Petraeus, a sequência", o negócio é Cabul ou nada. Com as probabilidades todas contra ele, o general veterano, que há pouco tempo desmaiou durante um testemunho perante o Congresso, recebeu o pedido de pegar seu coldre e mais uma vez salvar o dia. Partindo do princípio de que o conflito interminável do Afeganistão não vai destruir sua reputação como gênio militar, talvez Petraeus se encontre no Salão Oval em 2016, ainda supervisionando uma guerra que já é hoje a mais longa da história dos Estados Unidos.
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