Produtores de efeitos especiais esperam que fiscalização seja maior mesmo em países considerados seguros, como os Estados Unidos
James Sullivan Publicado em 31/01/2013, às 17h29 - Atualizado às 17h50
Nesta semana, a companhia de efeitos especiais Strictly FX vai se encontrar com o departamento de bombeiros em Nova Orleans, onde apresentarão licenças, formulários de segurança e informações de produtos, entre outros documentos. É parte do protocolo para grandes empresas de produtos de pirotecnia – a Strictly FX será responsável pelos efeitos especiais da apresentação de Beyoncé com o Destiny’s Child no intervalo do Super Bowl.
Lady Gaga, Axl Rose e Demi Lovato lamentam tragédia Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Na maioria das grandes casas de show nos Estados Unidos, esse processo se tornou rotina. Diversas empresas que cuidam de efeitos de grandes turnês desenvolveram relacionamentos próximos com autoridades locais e promoters nos últimos anos, e eles sabem que tipo de artefatos são seguros para quais locais e as especificações do que é ou não permitido em cada cidade. Mas depois do acidente na boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, na madrugada do último domingo, 27, que resultou em 235 mortos e inúmeros feridos, técnicos em efeitos especiais estão passando por fiscalização minuciosa. Como o fogo em uma casa noturna em Rhode Island, em 2003, quando 100 pessoas morreram em um show da banda Great White, acidentes causados pelo uso não-autorizado de fogos e pirotecnia coloca um fardo nos profissionais da indústria, segundo os próprios.
O estado de Rhode Island era conhecido por ter uma lei bem ampla sobre segurança nesse quesito, afirma Ted Maccabee, cofundador da Strictly FX, cujo parceiro, Mark Grega, começou a carreira criando shows para o Deep Purple e o Pink Floyd nos anos 80. “Mas ninguém nunca se preocupava em ligar para as autoridades. Se tivesse sido vetado, de maneira alguma aquilo teria acontecido.”
Esse parece ter sido o caso em Santa Maria, onde a banda Gurizada Fandangueira utilizou, segundo as autoridades, artefatos mais baratos e feitos para locais abertos. A boate Kiss só tinha uma saída e não possuía um sistema anti-incêndio. “É isso que está causando tantos problemas ao nosso negócio”, diz Maccabee.
“Toda vez que acontece algum acidente, geralmente é iniciado por alguém que não tem uma licença”, diz Dave Greene, chefe da empresa Stage and Effects Engineering (Engenharia de Palco e Efeitos), em Albuquerque, que já trabalhou com Scorpions, Mötley Crüe e Nickelback, em 2012.
A Stage and Effects foi fundada em 1998 baseada no conceito criado por Pete Cappadocia, que trabalhou com Kiss, AC/DC e outras bandas que ajudaram a popularizar efeitos especiais em shows, que acabaram se tornando comuns na indústria.
Maccabee diz que viu um divisor de águas quando as boy bands dos anos 90 - 'N Sync, Backstreet Boys – começaram a incorporar efeitos em shows em ginásios. A partir daí, esses efeitos deixaram de ser exclusividade de bandas de rock, como o Metallica.
“Agora nem é preciso dizer, qualquer reunião que você tem as pessoas querem saber o que há de novo e legal – lasers, fogos, chamas, confetes.”
Em uma indústria em que se apresentar ao vivo se tornou ainda mais importante como forma de arrecadar dinheiro enquanto as vendas de discos desaparecem, bandas querem o máximo de espetáculo possível, diz Greene. “O show de 2010 do Nickelback era incrível – coisas demais. Era tipo ‘ok, o que você quiser, Chad [Kroeger], claro.”
Depois do incêndio no show do Great White, a indústria de shows caiu nos EUA. “Naquela época, seguros não eram caros”, diz Maccabee. “Acredito que a nossa primeira apólice foi de US$ 1 milhão, e tenho quase certeza de que nos custou US$ 1,5 mil pelo ano todo. Agora é muito caro.” Hoje, se uma produtora optar pelo seguro de um show que tenha pirotecnia “são mais US$ 25 mil”, ele diz.
Como resultado, muitas lojas pequenas acabaram ficando fora do negócio de efeitos especiais. Depois do acidente em Rhode Island, “começamos a receber um monte de ligações para que comprássemos os equipamentos deles”, lembra Maccabee, que diz que os produtos mais seguros são geralmente feitos na América do Norte. “Eu diria que seus shows atualmente, especialmente nos Estados Unidos, são incrivelmente seguros.”
Aparentemente, o mesmo não se aplica ao Brasil. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT), assinaram um acordo nesta quinta-feira, 31, para que as casas noturnas da capital paulista possam ser vistoriadas em parceria pelo Estado e o município. Além disso, diversos estabelecimentos estão de portas fechadas – muitos alegam solidariedade às vítimas, mas o receio da fiscalização e a falta de alvará podem ser alguns dos motivos para isso.
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