“‘Haters’ sempre vão existir, mas com ‘hater’ a gente se empodera duas vezes mais para não ser tombada mesmo”, diz
Estefani Medeiros Publicado em 21/02/2016, às 11h18 - Atualizado em 14/04/2016, às 14h33
Na primeira vez em que Liniker entrou no estúdio com Os Caramelows para tocar “Louise du Brésil”, veio a intuição: “Alguma coisa vai acontecer”. E o sentimento estava certo. A energia provocada pela simbiose musical com a banda de oito integrantes contabilizava, até o fechamento desta edição, 1,4 milhão de visualizações no YouTube, entre as faixas “Louise...” e “Zero”. A musicalidade sofisticada da soul music unida à voz rouca e ao turbante vistoso do artista resultam em um projeto original e refrescante.
Paulista de Araraquara, Liniker prepara as últimas faixas do álbum de estreia, Remonta, com previsão de lançamento para julho deste ano. Enquanto amadurece como artista, inicia a primeira turnê em busca de desconstruções emocionais, sexuais e de gênero. “É tudo falando sobre como me sinto, sobre fases”, explica. “Sabe quando você pega uma caixinha de carta antiga e começa a reler? Como se fosse um ‘juntado’ de tudo isso?”
Aos 20 anos, Liniker conta que quando ouviu Tony Tornado pela primeira vez decidiu que “precisava se apropriar disso para a vida” dele. O que resultou na primeira apresentação da carreira, e para uma plateia exigente: a própria família. “Estavam os meus tios e a minha mãe. Comecei a cantar e eles ficaram muito emocionados, saíram cantando junto.” Com a aprovação em casa, ele partiu para o estudo de teatro na Casa de Cultura local. “Peguei gosto por cantar, por escrever, por transbordar.”
Para Liniker, o visual que escolhe não é o ponto principal de seu conjunto artístico, apenas uma parte dele. “O que importa é ter a segurança de quem você é”, dispara. Na militância pela autenticidade, usa o corpo de forma política para mostrar a importância da liberdade de expressão e com tal postura gera representatividade. “Em Ribeirão Preto, tinha um casal de meninas na frente do palco e a gente estava dialogando a mesma coisa. Elas estavam sentindo o que eu estava sentindo. E ao mesmo tempo eu me via nelas assistindo ao show”, conta com sorriso que pode ser sentido na voz. Os frutos recém-colhidos do trabalho lhe rendem a segurança para lidar com as críticas. “‘Haters’ sempre vão existir, mas com ‘hater’ a gente se empodera duas vezes mais para não ser tombada mesmo”, afirma Liniker, que alterna entre se referir a si mesmo no feminino e no masculino.
Parte de uma geração musical de identidade forte, com nomes como Rico Dalasam e Thiago Pethit, Liniker está feliz por viver em um momento mais libertário. “Nas aulas de teatro em Santo André, a gente aprendia a dançar com o coração. E nesta geração vejo que não estamos só dançando, mas deixando o coração ser boca, o coração ser verbo.”
Quando começou: 2010
Para quem gosta de: Tony Tornado, Aretha Franklin, Etta James
Ouça: "Louise du Brésil", "Zero"
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