Lee Daniels falou sobre seu mais novo filme em uma entrevista exclusiva durante o Festival do Rio; o longa estreia nesta sexta, 1º
Paulo Gadioli Publicado em 31/10/2013, às 10h22
O diretor norte-americano Lee Daniels esteve no Rio de Janeiro recentemente para apresentar O Mordomo da Casa Branca, filme dele que estreia no Brasil nesta sexta, 1º. O longa conta a história de um mordomo que serve a vários presidentes enquanto luta com seu filho, cada vez mais ligado aos movimentos sociais e de direitos civis. “Entrei no projeto por se tratar de uma trama de pai e filho em sua essência”, conta Daniels em entrevista à Rolling Stone Brasil.
Crítica: Dramático, O Mordomo da Casa Branca peca pelo excesso.
Antes de ele ser confirmado como diretor, no entanto, teve um concorrente de peso. “Logo após Preciosa – Uma História de Esperança, recebi uma ligação da produtora de Homem-Aranha e Uma Linda Mulher, a falecida Laura Ziskin, e descobri que ela estava entre eu e Steven Spielberg para dirigir este filme”, relembra. “Ainda bem que ele desistiu. Obrigado, Steven, pela oportunidade de trabalho”, brinca o bem-humorado diretor.
Para Daniels, os lados familiar (da relação entre pai e filho) e o que trata sobre os movimentos civis são igualmente importantes. “Eu e meu pai não me dávamos bem. Neste longa, eles acabam juntos e é uma historia de amor. Por isso quis fazer”, afirma o cineasta, que diz ter ficado emocionado especialmente nas reconstituições do intenso racismo presente no sul norte-americano.
“Estávamos filmando e os jovens estavam no ônibus, falei ação e do nada vieram os neo-nazistas, e o pessoal da KKK e pessoas brancas gritando ‘nigger nigger nigger’ tremendo o ônibus, tacando tijolos. Eu gritei corta e eles continuaram pois não podiam me ouvir, e pensei: 'meu Deus, não existia diretor. Essas crianças eram heróis'”, analisa. “Eles lutavam para salvar a alma de nosso país e eu percebi que posso levar um tiro por meus filhos, mas não sei se sou homem o suficiente para pular na frente de uma arma pelo direito de votar”, afirma Daniels.
Embora enxergue com otimismo a situação atual nos Estados Unidos, Lee admite que ainda há muito a ser feito. “A situação melhorou, com certeza está melhor do que era antes mas, ainda, quando escrevemos aquele diálogo ‘Um homem branco pode matar um negro e sair ileso', o caso Trayvon Martin ainda não tinha acontecido”, relembra, pensativo.
A questão racial é o mote do filme e, assim, a percepção das diferentes plateiras ao redor do mundo variam. “É internacional, pois todos gostam da história do azarão, mas as nuances são muito especificas da comunidade afro-americana. As plateias reagem de um jeito diferente até se o público for negro ou branco. Quando exibi Preciosa no teatro Magic Johnson, no Harlem, foi como uma comédia. De repente fui para Sundance e todas essas pessoas brancas reagiram diferente”, conta.
“Nos Estados Unidos, aprendemos mais sobre o holocausto do que sobre os movimentos de direitos civis. Por isso, foi importante contar essa história”, finaliza Lee Daniels.
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