Cantor norte-americano foi o grande nome da noite que contou ainda com outras ótimas apresentações
Antônio do Amaral Rocha Publicado em 18/08/2014, às 19h42 - Atualizado às 20h27
O grande acerto das edições do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival tem sido apostar na programação diversificada, celebrando todas as vertentes do jazz e blues contemporâneo, além de descobrir tendências, muitas vezes ocultas, em trabalhos de artistas que não militam necessariamente no gênero. Esta resposta positiva dever ser creditada aos curadores Stenio Matos e BJManfra, que no correr do ano viajam pelo mundo procurando novidades e garimpando nomes que podem despertar interesse no eclético público do evento. A experiência permite escalar propostas e nomes tão díspares, como Badi Assad e Popa Chubby, em uma mesma noite, a exemplo do que ocorreu na sexta-feira, 15.
No sábado, 16, a continuação da festa no palco Costazul começou com o show de Taryn Szpilman e Rio Jazz Orchestra tendo Toninho Horta como convidado ilustre. A Rio Jazz Orchestra é uma formação de big band, que tem a direção de Taryn e Claudio Infante. Nesta apresentação, a cantora Taryn, vestida como a personagem feminina de Uma Cilada para Roger Rabbit, apresentou ao lado da orquestra temas de Duke Ellington, Stevie Wonder, Glenn Miller, entre outros. Toninho Horta fez homenagem ao músico Moacir Santos tocando “Nanã”, além da famosa “Beijo Partido”.
A guitarra de Scott Henderson , o baixo de Jeff Berlin e a bateria de Billy Cobham, aqui denominados como HBC Super Trio, fizeram o segundo show da noite e trouxeram uma proposta do jazz fusion radical, com improvisos estonteantes de cada um e se tivessem tocado sem um intervalo entre um tema e outro não teria feito muita diferença. Esta deve ter sido a percepção da maioria do público, em contraponto aos especialistas que eram capazes de identificar cada música e até em que álbum tal faixa pertence. A velocidade com que Henderson toca a guitarra tem a característica de deixar a plateia em suspenso. Não há um “descanso” entre uma sequência de acordes, como se ouve na música tradicional. Nada na música dele indica para onde ela vai, por isso a sensação de suspensão. Tudo isso, somado ao peso da bateria de Cobhan e o baixo cheio de energia de Berlin, resultaram em uma massa sonora poucas vezes ouvida em Rio das Ostras.
O grande nome desta segunda etapa do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival deixou o público, calculado em aproximadamente 20 mil pessoas, em polvorosa. Al Jarreau finalmente subiu ao palco, acompanhado de Joe Turano no teclado e saxofone, o pequenino Rodney Holmes na bateria (que já havia acompanhado Randy Brecker na noite anterior), John Calderon na guitarra, Chris Walker no baixo e Larry Williams no segundo teclado. Apesar da formação da banda, que poderia fazer um som cheio e pesado, eles tocaram em “pianinho” e estavam lá para apoiar a voz aveludada de Jarreau. Aos 74 anos de idade e com um problema na perna, o showman esteve em interação constante com o público, ora encostado, ora sentado em uma cadeira. Ele tentou se comunicar em português e destilou malabarismos vocais em temas conhecidos do repertório dele, resultando em um show envolvente.
A estrela também incluiu no repertório canções brasileiras como “Mais que Nada” (Jorge Ben Jor) e “Só Danço Samba” (Tom Jobim, Vinicus de Moraes), que interpretou acompanhado apenas por violão e chocalho, este tocado por ele mesmo. Entre outras, cantou “Black & Blues”, “I Will Be Here For You” e “Your Song”, exacerbando as emoções do público. Um insistente pedido para tocar “Take Five” não foi atendido. Al Jarreau reservou um momento para fazer o que ele chamou de “comercial time” e falou do disco My Old Friend: Celebrating George Duke, que gravou para homenagear o amigo que morreu em 2013, aos 67 anos. O bom humor também foi a marca de Jarreau durante todo o show. Diversas vezes perguntou “Vocês estão bem?”, usando um tom de voz, e ele mesmo respondia em outro tom, imitando uma resposta da plateia e gargalhava. Depois do show, Jarreau ainda aceitou atender aos fãs que formaram uma imensa fila na entrada do backstage e foi alvo da histeria de alguns apaixonados pelo trabalho dele. Rindo muito e visivelmente impressionado, nem o próprio músico parecia esperar tamanha receptividade.
Como toda edição do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival termina em festa, desta vez não foi diferente. Isso pode ser considerado outro acerto da produção, que quer deixar no público essa marca festiva. A tarefa cumprida à risca pelo cantor Rockin’ Dopsie Jr. & The Zydeko Twisters, escolhido para encerrar a noite, com um show que foi de pura energia do começo ao fim. Trazendo a música derivada de New Orleans e Louisiana, a banda veio formada de teclado, guitarra, baixo, bateria, com marcação no washboard e solos conduzidos pelo acordeão de Anthony Rubin. O som dançante e festeiro tem raízes no soul e, neste show, ecos de James Brown dominaram a maior parte da apresentação, além de centenas de yeahs gritado por Dopsie Jr., que desceu do palco e ficou um tempo no meio da plateia, provocando trabalho dobrado aos seguranças. O momento mais calmo da festa foi quando fizeram uma versão de “Hey Joe” e “I Feel Good”. Após aproximadamente duas horas de show, o grupo deixou o palco.
Público e faturamento
Em 2014, Rio das Ostras Jazz & Blues Festival foi realizado em dois fins de semana, entre 8 e 10 de agosto e 15 a 17 do mesmo mês, diferentemente dos anos anteriores, quando acontecia no feriado de Corpus Christi, sempre em junho. A alteração permitiu dobrar o público, com a presença de aproximadamente 40 mil pessoas por fim de semana, com o consequente aumento no faturamento do comércio local e lotações máximas nos hotéis e pousadas da região. As informações foram divulgadas pelo prefeito DE Rio das Ostras, Alcebiades Sabino (PSC), em entrevista coletiva. O sucesso leva a crer que o novo formato será mantido nas edições futuras.
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