Com mais de 80 anos de produções, a Disney coleciona títulos racistas e machistas - muitos deles queridos pelo público
Camilla Millan Publicado em 30/11/2019, às 17h00
A plataforma Disney+ estreou em 12 de novembro nos Estados Unidos, Canadá e Holanda, e já gerou polêmicas. Uma delas - provavelmente a principal - envolve o aviso de "representações culturais desatualizadas" em várias das produções, principalmente as antigas.
Em um catálogo que engloba animações com mais de 80 anos - como a produção mais antiga de Walt Disney, Branca de Neve e os Sete Anões - sabe-se que muito do conteúdo disponibilizado no Disney+ não condiz com os ideais atuais de igualdade de gênero, étnica e sexual.
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Sendo assim, muitas produções clássicas dos estúdios Disney contam com o aviso na plataforma de streaming para avisar os assinantes da presença de um possível conteúdo ofensivo.
No entanto, não são apenas produções antigas que possuem conteúdos problemáticos. Animações recentes como Toy Story e A Princesa e o Sapo foram modificadas pelos traços preconceituosos que traziam.
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Importante citar que o aviso feito pelo Disney+ ocupa a função de contextualizar produções antigas com conteúdo politicamente incorreto - ainda mais quando os trabalhos do estúdio são consumidos, principalmente, por famílias com crianças. No entanto, não é a primeira tentativa da Disney de lidar com a situação, assim como não é isenta de críticas.
Inicialmente, a empresa divulgou que algumas cenas preconceituosas seriam retiradas dos longas em exibição na plataforma de streaming. No entanto, a atitude foi vista como um apagamento do histórico das produções e um incentivo ao esquecimento do preconceito no audiovisual.
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Mesmo com o aviso escrito, a atitude levou críticas pelo texto "não enfático", em que o preconceito presente nas produções não está explícito: "Este programa é apresentado como criado originalmente. Ele pode conter representações culturais desatualizadas."
Diante desse contexto de divulgação de avisos para conteúdos problemáticos, a Rolling Stone fez uma lista de 9 produções preconceituosas da Disney; confira:
A animação se trata de vários curtas dentro de um mesmo longa-metragem. A proposta foi colocar a música erudita como complemento para arte visual das animações, contribuindo para o desenvolvimento da produção.
Apesar do fator inovador, a animação tem uma cena extremamente racista. No momento em que seres mitológicos protagonizam a sequência, uma centauro fêmea negra aparece polindo os cascos de duas fêmeas centauro branca - estereótipo racista explícito.
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O famoso filme do bebê elefante de circo possui diversas cenas preconceituosas. Uma delas - provavelmente a mais marcante - é uma canção “When I See an Elephant Fly” interpretada por corvos durante imitação dos espetáculos de menestréis.
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A apresentação popular consistia, resumidamente, em atores brancos pintando o rosto de preto - prática racista conhecida como "blackface" atualmente - e interpretando estereótipos exagerados e caricaturas de pessoas afro-americanas.
Além desse momento do filme, outro trecho conta com a faixa “Song of the Roustabouts”, a qual trabalhadores negros sem rosto cantam enquanto erguem a tenda do circo. A letra cantada por eles conta com trechos que falam sobre serem analfabetos e, apesar das longas jornadas de trabalho, serem felizes.
O conteúdo do filme é extremamente racista. Ele não foi inserido no catálogo do Disney+, assim como não é re-exibido nos cinemas desde a década de 1980.
O longa se passa no sul dos Estados Unidos em período posterior ao fim da escravidão. A produção - que mistura animação e atores reais - recebe diversas críticas pela representação idealizada da vida de ex-escravos, como Tio Remus, o protagonista. Ele é estereotipado como o "negro sábio e místico", além de usar seus conhecimentos para ajudar um personagem branco.
Além do conteúdo racista, os acontecimentos por trás das câmeras são um reflexo do contexto da época. James Baskett, a ator de Tio Remus, foi impedido de comparecer à própria estreia do longa, no estado de Atlanta - distrito que ainda era segregado e não permitia a entrada de negros em cinemas.
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A famosa animação da Disney conta a história de Wendy e seus irmãos, levados para o mundo mágico da Terra do Nunca com Peter Pan, o herói do longa. Apesar do sucesso entre crianças e adultos, o filme conta com uma cena extremamente preconceituosa: a dos indígenas.
No longa, os indígenas são representados como animais ou como pessoas totalmente ignorantes. Durante a música "What Made Red Man Red", os indígenas explicam porque eles têm a pele vermelha: "Quando o primeiro bravo se casou com uma mulher de pele vermelha / Ele deu um grande ugh / Quando viu sua sogra."
Além disso, o estereótipo do indígena representado no longa é reproduzido esdruxulamente, com penas, fogueiras, danças e rituais - todas as características apresentadas de modo superficial.
A animação conta a história de um grupo de gatos aos quais a dona - e milionária - madame Adelaide Bonfamille, pretende deixar toda a herança. Após descobrir isso, o mordomo chamado Edgar Baltazar abandona os gatos para se tornar o beneficiário de toda a herança.
Em Aristogatas, a cena de gatos siameses tocando piano com par de pauzinhos é extremamente racista. Com vozes que parodiam sotaque do leste asiático, o filme conseguiu fazer a cena musical ser extremamente preconceituosa com a cultura asiática.
O começo de Aladdin conta com uma música - no mínimo - preconceituosa sobre a cultura árabe.
No início do longa, ainda com os créditos de abertura, toca a canção "A Noite da Arábia", cuja letra fala: Venho de um lugar / Onde sempre se vê / Uma caravana passar / Vão cortar sua orelha / Pra mostrar pra você / Como é bárbaro nosso lar."
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Além da faixa, uma característica física de Aladdin é criticada ao longo do filme. No início, o protagonista é pobre e seu tom de pele é mais escuro. Depois, quando namora a princesa Jasmine, a pele de Aladdin fica mais clara.
A animação conta a história amor entre Pocahontas (chefe de grupo de nativo-americanos) e John Smith, personagem baseado no verdadeiro capitão da Marinha Real Britânica, que chegou ao local com os colonizadores.
Em uma das cenas do longa animado, o governador Ratcliffe - também baseado em uma figura histórica real e vilão da história - canta uma música extremamente preconceituosa sobre os indígenas norte-americanos. Na canção, ele diz: "O que esperar desses pagãos nojentos?/Dessa maldita raça e horrível cor / Eu sei o que merecem / São bons quando falecem / São bichos, animais, ou pior / São bárbaros, bárbaros."
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Apesar de Ratcliffe ser o vilão que deseja colonizar o local a qualquer custo, a letra da canção revela um pensamento muito preconceituoso.
Toy Story 2 apresenta um novo personagem aos telespectadores: o vilão Stinky Pete (Mineiro, na tradução brasileira). Noa créditos do longa, o personagem protagoniza uma cena de assédio, mais tarde excluída do filme.
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Na cena, Mineiro aparece ao lado de duas bonecas Barbie, dentro de uma caixa de brinquedo. O personagem diz, enquanto toca a mão de uma das bonecas: "Então, vocês duas são absolutamente idênticas? Tenho certeza de que posso conseguir um papel para vocês em Toy Story 3.”
No entanto, ao perceber que estava sendo filmado, Mineiro desconversa, muda o tom e encerra o diálogo. Segundo o The Guardian, a cena foi deletada depois que John Lasseter, diretor de Toy Story, saiu do cargo devido à acusações de assédio sexual.
O filme, famoso pela primeira princesa negra da franquia Disney Princesas, fez com que o estúdio fosse elogiado pela representatividade. No entanto, o nome da protagonista gerou polêmicas.
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Inicialmente, a princesa teria o nome Maddy, o que críticos relacionaram a "Mammy", modo como as escravas eram tratadas no sul dos Estados Unidos. Além disso, Maddy seria abreviação de Madeleine - nome usado frequentemente por escravos. Após as críticas, o nome da heroína foi modificado, de Maddy para Princesa Tiana.
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