- Dirk Gently (Foto: Divulgação / Netflix)

Além de Guia do Mochileiro: Dirk Gently é história de Douglas Adams que você precisa conhecer - e está na Netflix

Um detetive holístico se junta ao ajudante, Todd (Elijah Wood), em uma das melhores histórias do streaming

Yolanda Reis Publicado em 24/05/2020, às 15h00

Guia do Mochileiro das Galáxias e uma das mais (se não “a” mais) famosas sagas de ficção científica da literatura. É a principal obra do catálogo do genial e hilário Douglas Adams, escritor inglês. Mas a lista de publicações dele esconde uma gema preciosíssima: Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently (ou só Dirk Gently, para os íntimos).

A saga “B” de Douglas Adams, ao contrário dos cinco volumes do Guia dos Mochileiros, tem só duas publicações, lançadas em 1987 e 1988 (a primeira, citada acima; a segunda, intitulada A Longa e Sombria Hora do Chá da Alma). Existiam planos para uma terceira parte, The Salmon of Doubt (ou O Salmão da Dúvida), mas o escritor morreu antes de concluir. Foi lançada parcialmente em 2002.

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Dirk Gently, protagonista, é um detetive holístico. O que isso significa? Bom, entre outros fatores, Dirk não vai realmente atrás das pistas para investigar crimes, porque, eventualmente, tudo o que ele precisa saber vem até ele - afinal, tudo no universo é conectado! Consegue resolver crimes do futuro, também, porque tem um lado psíquico. Cobra fortunas de seu clientes - mas é bem pobre, porque leva calote de todos eles...

Dirk Gently ganhou duas adaptações para as telinhas - ambas ofuscadas, infelizmente. A primeira, da BBC4, teve quatro episódios exibidos entre 2010 e 2012, e foi estrelada por Stephen Mangan. A segunda (e potencialmente melhor) é da BBC America, e Elijah Wood (Senhor dos Anéis) estrela Dirk. A distribuição é da Netflix - e deveria receber muito mais atenção!

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A série na Netflix

Todd Brotzman (Elijah Wood) é um frustrado (e pobre) camareiro de hotel. Vive uma vida extremamente monótona - até um dia bem estranho no trabalho. A bizarrice começa quando ele vê a si mesmo, num casaco de pelos e todo machucado, gritando pelos corredores. Então, encontra um bilhete da loteria ensanguentado no chão. E aí, descobre a cena de um crime horroroso: diversos homens morreram na cobertura do hotel. Entre eles, o magnata Patrick Spring.

“É estranho.” divaga o detetive encarregado da cena do crime. “Isso são queimaduras no sofá? A perícia disse que o cara jogado na cama estava cortado ao meio. O outro, teve o braço arrancado. Há marcas de mordida no teto. Tem várias marcas de mordida no teto! Um homem foi mordido ao meio?” - questionam os detetives, intrigados. Mordidas e queimaduras  - aquilo é resultado de uma arma ou de um ataque animal? De qualquer maneira, Todd encontrou os corpos - e vira o principal suspeito.

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Existe uma pessoa - somente uma - capaz de ajudar Todd a sair dessa bagunça. É o detetive holístico Dirk Gently (Samuel Barnett, Penny Dreadful) - embora o bedel não o conheça. Por sorte, não tem dificuldades para encontrá-lo, já que ele está dentro do apartamento de Todd e decide que vai morar lá. 

“Estou tentando descobrir se você é uma vítima, um cúmplice ou um assistente,” explica Gently para Todd. Ele investiga a morte de Patrick Spring. “Fui contratado pela vítima, pagando bem acima do normal, para investigar a própria morte, seis semanas antes dela acontecer. Não teria aceitado, mas ataque animal, Seattle, um cara prevendo a morte? Parece interessante.” Como Todd se envolveu em tudo isso? “Você estava no hotel,” conclui Dirk.

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Paralelamente, existem, na série: um grupo investigando o desaparecimento de Lydia Spring, filha do magnata recém-assasinado; um grupo  investigando Dirk Gently ( ou “projeto Ícarus”); uma mulher sendo torturada acima do apartamento dos meninos; uma assassina holística que mata todo mundo que vê na caça incessante por Dirk Gently (embora ela não o conheça). 

Dirk Gently já sabe - e quem assiste vai entender logo - mas tudo isso está conectado. Por isso ele, detetive holístico, está ali - é seu dever juntar o presente ao passado e futuro para desvendar esse crime hediondo - e entender por que tem um corgi perseguindo Todd.

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A série tem duas temporadas - ambas são levemente interligadas (porque, o que não é?), lançadas em 2016 e 2017. Cada uma tem dez episódios, e foram bem recebida pela crítica - Dirk Gently da Netflix 8,3 no IMDb e 96% no Rotten Tomatoes. Foi cancelada por baixa audiência, porém.

Já Douglas Adams…

Os livros de Dirk Gently não têm nada parecido com o Dirk Gently da Netflix. Ambos são detetives holísticos, é claro, e preferem trabalhar sem buscar pistas, realmente (pois, nos mundos, tudo se conecta automaticamente). Mas as semelhanças não vão muito além disso: o investigador da TV é alto, ágil, divertido, positivo. O das páginas é o oposto. Suas histórias também são bem diferentes.

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Quando Douglas Adams criou Dirk Gently, ele era um aluno estrangeiro em uma universidade inglesa. Um cara bem desagradável, usava sempre um chapéu e um casaco marrom. Tinha o talento incrível de estudar estatísticas - e conseguia calcular exatamente o que cairia numa prova. Vendia grades de estudo para esses testes - mas ninguém acreditava que não era plágio, pois cada linha, palavra e vírgula era idêntica às provas. Acabou saindo da faculdade num camburão.

Dirk era colega de classe de Richard, um estudioso da língua inglesa que acabou se transformando em um programador. Trabalhava com o riquíssimo e influente (e bastante preguiçoso e chato) Gordon Way. Acabou sendo, também, o principal suspeito na morte do chefe, assassinado ao lado do próprio carro em um posto de gasolina qualquer.

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A obra é bem característica de Douglas Adams: recheada de ficção científica e ideias absurdas. Há o mesmo humor bobo - mas genial - de comentários aleatórios nas frases, populares em Guia do Mochileiro. Em Dirk Gently, no entanto, soam mais condizentes com a história, e potencialmente, mais inesperados e hilários - como, por exemplo, a teoria de que a passagem bíblica sobre o Apocalipse foi escrita por alguém que esperava uma balsa atrasada. Assim como a espera, começa alegre e esperançosa, para terminar em raiva e desastre.

Como o "42" e a toalha de Guia, há em Dirk Gently uma piada recorrente - e uma pergunta sem resposta (embora o contrário seja uma resposta sem pergunta). Agora, tem a ver com Richard - o programador “prendeu” um sofá entre dois lances de escada enquanto o levava para o apartamento. Travou. Não vai, nem volta. É impossível algo caber onde não deveria, e Richard fica obcecado em descobrir porquê isso aconteceu - e para de fazer o trabalho que deveria para Gordon Way.

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Os fãs de Guia do Mochileiro das Galáxias devem achar Agência de Investigação Holística Dirk Gently tão legal quanto o principal legado de Douglas Adams. Talvez encontrem, porém, uma história mais adulta e complexa - e um humor mais inteligente e seletivo. Com certeza, verão uma história bastante divertida - daquelas que vale a pena ler ou assistir. 

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