Alice Braga interpreta a jornalista Angeline no filme sobre exorcismo - Divulgação

Exorcismo moderno no cinema

Alice Braga comenta seu mais novo filme, O Ritual, e fala ainda sobre On the Road

Por Stella Rodrigues Publicado em 10/02/2011, às 14h55

Cabeças girando em 360º, jorros de sopa de ervilha: sim, é isso que a maioria das pessoas espera de um filme de exorcismo. É inevitável que venha à mente a imagem do clássico O Exorcista (1973), dirigido por William Friedkin. Mas logo no início, O Ritual, de Mikael Håfström, deixa clara a distinção entre as duas produções. Baseado em fatos reais, descritos no livro de mesmo nome do jornalista Matt Baglio, o longa foge de características de obras de horror ao abordar este tema de forma mais séria, com direito a uma investigação jornalística e um padre descrente conduzindo a história. Mesmo que perca força por não se firmar nem como "filme de medo", nem como drama, a história cativante, a bela fotografia e a oportunidade de ver Anthony Hopkins como um padre possuído valem a ida ao cinema a partir desta sexta, 11. E, claro, há também a participação da brasileira Alice Braga, a bola da vez no hall de atores brasileiros que dão as caras em Hollywood.

O iniciante Colin O'Donoghue vive (de forma não muito convincente) o protagonista Michael Kovak, um jovem que deixa para trás a casa da família, onde trabalhava ao lado de seu pai (o veterano Rutger Hauer, em uma ponta pouco aproveitada), um agente funerário. Vira seminarista e, anos mais tarde, em crise com a sua fé, muda-se para Roma para aprender sobre o ritual do exorcismo. Ao lado de Colin, Alice, cuja personagem, uma jornalista (Angeline) em uma saga parecida com a de Michael, faz as vezes da ciência na produção. Ambos buscam conselhos, cada um da sua forma, do padre Lucas Trevant, encarnado por Hopkins (em papel baseado no padre Gary, o especialista em exorcismos que inspirou o livro de Matt Baglio). O sempre excelente ator protagoniza algumas das cenas mais impressionantes de posse demoníaca do filme. Em entrevista à imprensa realizada em São Paulo, a simpaticíssima e animada Alice Braga comentou a honra que foi trabalhar com um ator tão dedicado à sétima arte.

"Quando eu li o roteiro, eles estavam começando a fechar o elenco. O Anthony veio em seguida. Quando descobri que ele (atuaria), quase morri do coração, porque sabia que teria cena com ele", conta a atriz. "Quando a gente foi ensaiar, foi inevitável fazer aquela piada clássica de 'por favor, não me morde'. É um pouco óbvio. Mas é verdade, por que como você olha o Anthony Hopkins possuído, ou com um personagem enlouquecido como esse, sem lembrar do Hannibal Lecter?", brinca Alice, referindo-se ao clássico protagonista que ele levou às telas pela primeira vez em O Silêncio dos Inocentes (1993).

Não foi só a presença de um ídolo que assustou a atriz, que confessa ter morrido de medo ao ler o roteiro pela primeira vez. "Eu sou aquela clássica menina que vê filme (de terror) e começa a entrar em pânico, fica com medo, não quer ficar sozinha em casa, começa a ter pesadelo", afirma. Apesar disso, Alice se interessou de cara pelo tema, no qual nunca pensou muito. Classificando-se como uma descrente, gostou da abordagem "baseada em fatos reais" e, mais ainda, de ter a chance de interpretar uma jornalista, profissão de seu pai. Agora que terminou a experiência, parece ter ainda mais perguntas, em vezes de respostas: "Com certeza acredito um pouco mais do que antes. Se eu tinha algum preconceito, acho que ele foi embora, eu abri minha cabeça", diz ela, que mergulhou, assim como sua personagem, em leituras, estudos e uma profunda pesquisa a respeito do exorcismo.

Mais do que a curta interação com Hopkins, chama atenção na interpretação de Alice a forma como contracena com Colin O'Donoghue. Os protagonistas formam uma dupla "mocinho e mocinha" diferente do convencional. Afinal, ele é um seminarista - ou seja, não pode se relacionar romanticamente com ela. Por outro lado, é um membro do clero em crise de identidade. O filme, que deixa na dúvida até o final se há ou haverá algum envolvimento entre os dois, deu a chance de Colin e Alice desenvolverem um subtexto interessante, enquanto um personagem se apóia no outro para resolver suas questões pessoais. "Quando a gente começou a conversar essa relação com o diretor, sempre falamos que são dois jovens, então, não dá para ignorar o fato de que há uma empatia imediata, independente de ser romântica. A gente queria encontrar esse meio termo, sem ser uma empatia obviamente romântica e sem ser uma coisa muito 'padre e mulher'."

Ao ser cumprimentada pela demonstração de habilidade ao sair da enrascada que a trama lhe propôs, Alice, que se diz muito crítica e avessa à prática de se ver nas telas, mostra-se tímida para receber elogios. Inclusive, na semana em que falou com os jornalistas, O Ritual estava em primeiro lugar de bilheteria nos Estados Unidos, o que causou, depois da esperada alegria, certo desconforto na atriz. "Todo mundo mandou mensagem e ligou, fiquei superfeliz. Mas depois, desliguei o telefone e pensei: 'Ai, meu Deus, está todo mundo vendo esse filme, que horror. Não quero nem saber quantas pessoas compraram ingresso", afirma, entre risos nervosos.

Veja, abaixo, o trailer de O Ritual e, na galeria acima, fotos do filme:

Alice no país do Tio Sam

"Fazer ficção científica é muito interessante, é divertido. Por exemplo, no Predadores, você está com uma arma gigante, andando no meio do mato, fugindo de um monstro com dreadlock." Desde que conquistou Hollywood, Alice Braga tem encontrado seu caminho em um certo nicho. Em geral, filmes de ficção e fantasia têm feito parte de seu currículo. O já citado Predadores (2010) e Eu Sou a Lenda (2007), as duas obras que a tornaram mais conhecida do público estrangeiro, seguem essa temática apocalíptica. Mas a atriz garante que se trata de uma coincidência. "Minha mãe vive me perguntando quando vou fazer uma comédia romântica e meus primos ficam chateados por não poderem entrar nos meus filmes", diz, rindo. Mas em 2012, Hollywood conhecerá um lado totalmente novo de Alice em On the Road, um projeto mais do que especial para ela.

"Sempre foi meu sonho trabalhar com o Walter Salles. E ser o Walter em um projeto tão especial, baseado num livro do [Jack] Kerouac... Fora isso, é um filme que estão querendo fazer há tantos anos, muita gente já tentou e parou, (por ser) muito difícil. É muito especial. É um livro que eu li quando era adolescente e adorei", conta a atriz sobre a experiência no elenco da adaptação, que tem também Kristen Stewart, Garrett Hedlund, Sam Riley e Kirsten Dunst.

"A geração beat é uma passagem muito legal. Além disso, é um projeto muito especial para o Walter. Ele está há muitos anos tentando fazer, já fez o documentário, fez pesquisas. Viver esse momento perto dele foi uma honra", relata, com os olhos brilhando. "Minha personagem, a Terry, é uma mexicana que mora nos Estados Unidos, na Califórnia, e trabalha em um campo de algodão. E o personagem do Sal Paradise, que seria o Jack Kerouac, está na estrada, a conhece em um ônibus e vai viver um pouco o cotidiano e a vida dela nesse lugar. É muito interessante, eu conversei muito com o Walter do quanto ela é à parte desse mundo beat que está rolando, desse momento da história. Ela não sabe disso. Ela traz uma outra vivência, tem filho, traz uma outra maturidade para ele." On the Road (no Brasil, o livro ganhou o título Pé na Estrada) deve chegar aos cinemas no final de 2011.

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