O astro do rock é tema do documentário Super Duper Alice Cooper, que acabou de estrear no festival Festival de Cinema de Tribeca
KORY GROW Publicado em 21/04/2014, às 11h05 - Atualizado às 11h10
“Nós não trouxemos a galinha”, diz Alice Cooper à Rolling Stone EUA, fazendo um gesto enfático com a mão em um hotel em Nova York. Em setembro deste ano, serão completados 45 anos desde que Alice Cooper se tornou Alice Cooper depois de encarar o público no show Toronto Rock'n'Roll Revival, enquanto abria para John Lennon. Reza a lenda que alguém jogou a ave no palco, e, pensando que ela iria voar (“Eu sou de Detroit e nunca havia pisado em uma fazenda na vida”, ele diz até hoje), jogou-a de volta para a plateia – apenas para ver o público desmembrá-la. “Quando eu percebi que as cinco primeiras fileiras eram de pessoas em cadeiras de rodas, tudo ficou ainda mais macabro”, relembra Cooper. O frontman credita a esse dia à inspiração para a persona que ele usa no palco até hoje. “Eu percebi que a plateia está louca por um vilão”, diz Cooper, que ainda se veste inteiramente de preto, incluindo as calças de couro. “Eles realmente querem um vilão – e quem melhor para interpretá-lo do que eu?”
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Cooper tem feito algumas reflexões profundas nestes últimos meses, depois de ter participado de um documentário sobre a vida dele, Super Duper Alice Cooper (o filme acabou de estrear no Festival de Cinema de Tribeca). Com um elenco que inclui Elton John, Bernie Taupin, Johnny Rotten, Iggy Pop, a mãe de Cooper e, é claro, o próprio Cooper, Super explica como Vincent Furnier, de Detroit, se tornou o vilão que atrai fãs para o pesadelo que ele cria em cima do palco e em álbuns como Love it to Death e Billion Dollar Babies desde os anos 1960.
As músicas que transformaram pessoas "normais" em roqueiros.
O documentário, que foi feito pelas mesmas pessoas que produziram Beyond the Lighted Stage, sobre o Rush, combina animação e gravações antigas, examina como Cooper se tornou um nome familiar e como o personagem quase levou a melhor sobre ele. Fala sobre quando o cantor conheceu Salvador Dalí, as turnês cheias de álcool e até sobre o motivo de Cooper ter encontrado consolo no Cristianismo. É uma história de sobrevivência, resistência e força.
Como foi assistir a sua vida passar diante dos próprios olhos?
É engraçado, porque eu não não vivo no passado. Eu entendo que as pessoas queiram saber como foi que tudo deu certo, como eu comecei, e é uma história interessante. Mas foi divertido voltar. Eu não peço desculpas por nada – tudo aconteceu na “Era de Ouro”, quando você podia fazer referências a Jimi Hendrix e Jim Morrison e perceber: “Eu ficava bêbado com esses caras”.
À medida que você reconta essas histórias de pessoas como Hendrix e Morrison, o que vem a sua mente?
O que eu aprendi com eles – tirando John Lennon, é claro, que era um lance muito diferente – é que eles viviam tudo ao extremo. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Keith Moon: todos eles tinham a mentalidade de “Preciso fazer agora, porque eu não quero estar fazendo isso aos 30”. E minha mentalidade era: “Eu preciso descobrir como separar a minha personalidade deste personagem, ou isso vai me matar” [risos]. Para mim, era tentar descobrir como eliminar esse meio termo para poder ter uma vida minha, e Alice Cooper ter uma vida dele.
Você fala sobre religião no documentário. Isso já limitou Alice, o personagem?
Até hoje, existe um momento em que penso: “Será que Alice faria isso?” Eu gosto do fato de existirem coisas que Alice não faria. Alice nunca xinga; isso não é legal. Existe uma elegância nele. Há músicas que eu não cantaria como Alice que eu escrevi há muito tempo, coisas que eu não quero que Alice promova.
Falando dos enforcamentos e guilhotinas que você usa no palco. Você já conseguiu antever algo perigoso demais antes de ir em frente?
Não perigoso demais, mas houve momentos “Spinal Tap”. Já surgiram coisas do tipo: “Vamos colocar Alice em um canhão”. E compramos um canhão, e deu certo. Eu entrava no canhão, saía pela parte de trás, eles colocavam um boneco e atiravam; enquanto isso, eu já estava do outro lado e saía andando. É uma ilusão, mas ficava ótimo. Mas nada foi muito perigoso. A guilhotina é uma lâmina de quase 20 quilos; ela por pouco não me pega todas as noites, pelos últimos 40 anos. A mesma coisa com o enforcamento – você tem que esperar que o cabo do piano tenha sido testado naquela noite. Quando você tem uma cobra python de quase quatro metros no palco, 99% do tempo ela vai estar bem – mas e se chega uma noite que ela decide fazer outra coisa? Eu sempre gostei da ideia de existir a possibilidade de alguma coisa acontecer.
O documentário inclui o show de Toronto no qual os fãs jogaram a galinha no palco, você jogou de volta e a plateia a desmembrou. Na apresentação, você estava abrindo para John Lennon. Ele te disse alguma vez o que ele achou daquilo?
Ah, ele amou aquilo. John Lennon era um vampiro de Hollywood. Ele era um dos que bebia. Mas era John Lennon e Yoko quando eles estavam fazendo a arte deles. Então, eles viram aquilo como arte; Yoko e John ficaram, tipo: “Isso é ótimo”. John achou engraçado. E eu não matei a galinha. [Risos] Mesmo que eles quisessem, eu não teria matado a galinha. Mas eu percebi naquele momento o quão loucas por sangue estavam aquelas pessoas no festival paz-e-amor – e era isso o que ele era. Eles não viam problema nenhum em matar a galinha.
Falando de estrelas do rock: tem uma cena interessante no filme, que é quando você conhece o seu empresário, Shep Gordon, no Landmark Hotel, e tromba com Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison em um quarto repleto de fumaça de maconha. Aquela cena deixou uma impressão sobre você.
Você precisa se lembrar que nós éramos uma banda jovem de Arizona, e que nós conseguíamos fazer um baseado durar uma semana, porque era tudo o que tínhamos. E você entra em um quarto tão cheio de fumaça que não consegue ver a pessoa na sua frente, e quando a fumaça se dissipa [suspira]: “Olha, é o Jimi Hendrix ali.” E Shep, nosso empresário, abre uma gaveta, e tem uma gaveta [de maconha], e ele pega um punhado. “Esse é o nosso empresário. Isso vai ser demais.” Em 68, 69, essa era a coisa mais legal do mundo. Então, é, ver aqueles caras nos fez pirar.
O engraçado é que a nossa banda era formada por bebedores de cerveja. Era muito estranho que as bandas com uma má reputação eram formadas por bebedores de cerveja, enquanto Mamas and the Papas, Jackson Browne e o resto estavam usando heroína. Era o oposto do que você imaginaria ser. Os caras do The Monkees sempre usavam ácido. Nós bebíamos Budweiser [risos].
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