Nameless Ghoul tocará com o grupo sueco no Rio de Janeiro e em São Paulo, esta semana
Lucas Brêda Publicado em 03/09/2014, às 21h10 - Atualizado em 04/09/2014, às 19h02
“Como você se chama?”. “Apenas um ‘monstro’ sem nome [Nameless Ghoul]”. Esta foi a resposta dada por um dos guitarristas da banda Ghost, que volta ao Brasil para apresentações no Rio de Janeiro (quinta, 4) e em São Paulo (sexta, 5). Escondidos atrás de máscaras, os integrantes do grupo sueco não revelam a identidade, denominando-se, todos, Nameless Ghoul – com exceção do vocalista, que seu intitula como Papa Emeritus II.
Relembre como foi “dia do metal” do Rock in Rio 2013.
Um ghoul, em inglês, seria algum tipo de monstro de origem mitológica árabe. Mas, o Ghoul que concedeu entrevista à Rolling Stone EUA por telefone, pouco assusta. Com fala articulada e filosofias bem formatadas, o guitarrista aparenta ser mais cético do que os figurinos dos shows sugerem e revela carregar em si o paradoxo que define a banda da qual ele faz parte: é apaixonado pela Igreja, ao mesmo tempo em que profere letras sobre figuras diabólicas.
“Sou fascinado por fenômenos sobrenaturais”, confessa ele. “Sou muito conectado com a ideia de ser tocado por um ser divino”, revela, ainda que não cite alguma forma de “Deus” nas frases dele. “Tenho uma ligação ‘doce’ com a igreja. Amo-a ao mesmo tempo em que a odeio”, admite, antes de recuar em relação ao pragmatismo da palavra “odeio”, e esclarecer: “É inacreditável a quantidade de sofrimento pela qual os fiéis passaram durante os anos”.
A relação do Ghost com a Igreja é muito mais próxima do que pode parecer: seja para o lado mais afável ou para o mais amargo. Na verdade, a conexão está muito mais ligada com a mística do que com a fé. “Desde o início, a Igreja domina as pessoas com música, som e imagens”, teoriza. “Imagine a época em que o maior prédio na sua vila era a Igreja. Não era um lugar feito apenas de pedras. Você entrava lá e ela era limpa, quente e decorada. Um sentimento dominador, que bate em você logo ao entrar na casa de Deus”, conta.
“Especialmente naquela época, quando muita gente não havia ouvido música na vida – porque as pessoas não escutavam música em casa –, quando eles tocavam o que agora chamamos de música clássica, com instrumentos de cordas e tudo mais, era como ouvir o som que Deus está ‘jogando’ sobre você. Devia ser fascinante”, diz, revelando a paixão pela ritualização das relações humanas com o “sagrado”.
Disfarce
O uso de máscaras pelo Ghost não serve apenas para harmonizar o espetáculo pictórico das apresentações ao vivo. O artifício – somado à toda a roupa e os capuzes – também funciona como disfarce para os integrantes. O guitarrista explica: “Criamos uma persona na banda para não termos de ser nós mesmos”.
“Todo mundo espera que as pessoas dos jornais sempre sejam as pessoas dos jornais”, desabafa. “Todas as outras bandas são conhecidas como eles mesmos. Nós não somos conhecidos como nós mesmos”, diz, como que ostentando uma posição privilegiada no mundo do entretenimento – em que celebridades têm fotos íntimas expostas por meio de hackers.
Contudo, Ghoul mantém os pés no chão quanto ao anonimato como algo definitivo. “Claro que, a cada passo que damos, nós nos tornamos uma banda com mais e mais sucesso”, diz ele. “Então, a cada passo que damos, estamos um passo mais distante de permanecermos anônimos”.
Passagem pelo Rock in Rio em 2013
“Não, na verdade”, diz o guitarrista, negando os relatos de que a plateia do show do Ghost – na edição 2013 do Rock in Rio – tenha ficado impaciente e gritado, por vezes, o nome dos headliners daquela noite: Alice in Chains e Metallica. “Usamos fones de ouvido para tocar, então não escutamos muita coisa [que vem] da plateia. Além disso, a distância entre palco e público era consideravelmente grande. E, ainda, pelo que eu vi, a maioria foi bem positiva, não estavam nos insultando”, revelou.
Na volta ao Brasil, o Ghost repete o roteiro da última vinda – o grupo sueco se apresenta no Imperator, no Rio de Janeiro, em 4 de setembro; e no HSBC Brasil, em São Paulo, no dia seguinte. Mas, desta vez, os suecos prometem um “longa-metragem”, em comparação ao “trailer” que é o show deles no formato de festival (em 2013, eles tocaram com o Slayer e o Iron Maiden em São Paulo, além do Rock in Rio). “É um ambiente totalmente controlado por nós”, diz. “Tentaremos levar tudo que podemos desta vez”.
Relaxada provisória
Nem o próprio guitarrista do Ghost nega a afrouxada que a banda deu em relação ao rock pesado com o lançamento do segundo disco da careira, Infestissumam (2013) – “Foi mais leve, não há dúvidas”. Porém, com um álbum mais intrincado, detalhado e, de certa forma, conceitual, a banda se aproxima da cerimônia que representa ao vivo, ainda que se afaste de um metal mais tradicional – e mais pesado.
Para os fãs que ficaram divididos com a evolução sonora dos suecos, um bom recado: “Agora, estamos em um momento de compor coisas pesadas para o próximo disco”, afirma Ghoul, sem deixar de lado a faceta mais enredada e tematicamente complexa, presente em Infestissumam. “Acho que nossos próximos álbuns serão meio que temáticos e conceituais”. Pela matemática simples, vem aí o melhor disco do Ghost. Com um pouco de cautela, contudo, vale destacar a frase mais explicativa do guitarrista sobre o futuro da banda: “Em relação aos refrãos mais pop, e às guitarras, o próximo álbum estará mais pesado”.
Acordes ofuscados
“Não acho. Porque se não tivéssemos a música, não teríamos chegado aonde chegamos”, prega Ghoul, com a confiança e tranquilidade de um sacerdote. Ele defende que o som do Ghost não seja ofuscado pela imagem do grupo. Forte e chamativa, a “fantasia” da banda pode tornar-se um atrativo mais fácil e “impressionante” do que o próprio metal feito pelos suecos. “Ainda que saibamos que não temos tanta fama, as pessoas têm ouvido nossa música”, conta.
Para defender o argumento, ele lembra-se do começo da carreira: “Tinha gente os ouvindo até seis meses antes de divulgarmos a primeira foto da banda”. “Antes de postarmos a imagem, já tínhamos uma quantidade expressiva de fãs”, recorda. Após poucos segundos de silêncio, ele retoma, reflexivo: “É claro que está ligado à imagem, mas não acho que nos seguiriam se não gostassem do som”.
Ghost no Brasil
Rio de Janeiro
4 de setembro (quinta-feira), às 22h
Imperator – Centro Cultural João Nogueira – Rua Dias da Cruz, 170, Méier - Rio de Janeiro/RJ
Ingressos: R$ 176 (há meia entrada)
São Paulo
5 de setembro (sexta-feira), às 22h
HSBC Brasil – Rua Bragança Paulista, 1281 – Chácara Santo Antônio – São Paulo/SP
Ingressos: R$ 140 a R$ 250 (há meia entrada)
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